Diego Moraes |
A Polícia Federal grampeou conversas telefônicas de Buratti ao longo de oito meses. Durante esse período, o nome do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não é citado, diretamente, em nenhuma das gravações. Algumas suspeitas, no entanto, levaram a crer que o ex-assessor utilizava a palavra “mestre” como um código para referir-se a Palocci, mas, por enquanto, nada foi comprovado, segundo o Ministério Público Estadual de São Paulo. “Parece que ele me chamava de ‘mestre’ e tinha um tal de ‘gigantão’. Mas como eu vou saber disso? E eu não me lembro de ter falado com nenhum ‘gigantão’”, disse o ministro, em tom irônico. “Nego categoricamente essas acusações com a veemência com que elas devem ser negadas”, afirmou Palocci. “A prefeitura nunca recebeu dinheiro e eu nunca autorizei a transferência de qualquer recurso, como foi divulgado”, completou. O ministro admitiu que as empresas citadas pelo ex-secretário de Governo de Ribeiro Preto Rogério Buratti contribuíram para suas campanhas à prefeitura de Ribeirão Preto. “Mas foram contribuições legais. Estão à disposição no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo para quem quiser ver.” Leia também Segundo o ministro, as licitações com a empresa Leão e Leão foram feitas fora de sua gestão na prefeitura. Apenas um contrato sem licitação teria sido firmado quando ele ainda era prefeito. O ministro disse que a prefeitura contratou, em caráter emergencial, a empresa para recolher galhos nas ruas após um temporal. “Foi um contrato de R$ 140 mil, bem menor do que os R$ 50 milhões de um contrato de licitação para a coleta de lixo”, afirmou. Palocci refutou a hipótese de ter funcionado um esquema para o recebimento de pagamentos ilegais durante sua gestão, sem o seu conhecimento. “Se fosse um caso isolado, aí poderia ser. Mas foi um esquema, segundo Buratti, que durou dois anos. Não haveria como não saber de um esquema tão duradouro como esse dentro da minha prefeitura”. Quanto ao fato de o presidente Lula saber ou não dos esquemas de corrupção no governo federal, Palocci disse preferir responder com o coração em vez da razão. “Pela origem do presidente Lula, creio que não. Ele nem conhecia muitas dessas pessoas”, afirmou. O ministro da Fazenda evitou criticar Buratti. Afirmou que compreende a atitude de seu ex-assessor. “Ele estava em uma situação constrangedora, algemado, preso e ofereceram a delação premiada”, disse. O ministro criticou, no entanto, a postura do promotor Sebastião Sérgio da Silveira, que divulgou o teor das declarações quando o advogado ainda era interrogado. “Não achei correto o procedimento. Não pode qualquer um fazer acusações contra autoridades e isso virar uma denúncia nos jornais”, disse Palocci. Embora tenha negado todas as acusações, o ministro disse que não vai obstruir as investigações. Pôs à disposição da Justiça seus sigilos bancário e telefônico. Ressaltou ainda que, se convocado, não vê qualquer problema em depor em alguma das CPIs do Congresso. “Eu sempre vou ao Congresso, sempre estou lá. Não há nada demais nisso”, afirmou. O ministro também negou veementemente que o seu ex-assessor tivesse influência sobre sua agenda de trabalho, conforme noticiaram os jornais, com base em escuta telefônica autorizada feita pela Polícia Federal. Palocci afirmou que, desde a época em que era prefeito, não mantém qualquer relacionamento profissional ou pessoal com Buratti. O último contato entre os dois, segundo ele, teria ocorrido em 2003. “Parece que houve um telefonema tempos depois, mas eu não me lembro. Deve ter sido coisa de um minuto”, afirmou. Ele disse ter conhecido Buratti durante sua primeira campanha à prefeitura de Ribeirão Preto, em 1996. Por dois anos, ele foi secretário do município, mas acabou afastado após suspeitas de envolvimento em um esquema de corrupção na prefeitura. Segundo o ministro, o episódio não foi suficiente para transformar Buratti em seu inimigo, mas, desde então, o contato não passou da esfera social. “Fui uma ou duas vezes à casa dele”, disse Palocci. Durante a entrevista, Palocci também comentou reportagem publicada na última edição da Veja em que o chefe de gabinete do ministro, Juscelino Dourado, teria redigido um e-mail para Buratti, solicitando a ajuda dele para comprar aparelhos de escuta telefônica a mando de Palocci. O material supostamente faz parte de um conjunto de provas, entre telefonemas gravados e documentos, levantado pela Justiça. Palocci disse que, no fim da semana passada, uma repórter da Veja ligou para o seu gabinete e falou diretamente com Dourado. “Ela perguntou: Dourado, você enviou um e-mail para o Buratti? O Juscelino disse que não. Daí ela falou que tinha um e-mail enviado pelo Dourado ao Buratti, pedindo para comprar aparelhos de grampo. Foi quando o Juscelino disse: olha, essas informações que você tem são fraudadas”, relatou o ministro. Dourado, ainda segundo o relato de Palocci, teria pedido à jornalista uma cópia do material. Ela negou e respondeu o pedido dizendo que o e-mail não havia sido redigido por Dourado, mas a mando dele. “Ela primeiro disse que o e-mail era do Juscelino, depois disse que ele não havia escrito e, por fim, não quis repassá-lo para o Juscelino. Saiu a matéria na revista e eu já vi alguns jornais publicando o mesmo assunto também. Acho que é preciso ter um pouco mais de cuidado”, criticou Palocci. No sigilo telefônico de Buratti, obtido pela Polícia Federal, um dos números que mais aparecem na lista de ligações é o de Dourado. Segundo Palocci, os dois têm uma relação próxima, mas que não chega a afetar as decisões do ministério. “O Ministério da Fazenda é independente. Aqui não é uma república de amigos”, afirmou. |