Em seu sétimo ano de mandato, o primeiro palhaço eleito para a Câmara já tempo de Congresso para se declarar um parlamentar com relativa experiência. Depois de declarar voto a favor do impeachment de Dilma, única vez em que usou o microfone no plenário, Tiririca (PR-SP) se encontra diante de novo desafio: a reforma da Previdência. Mas como vai votar na reforma o dono da terceira maior votação da história da Câmara? “Vai depender do texto que chegar ao plenário. Mas vou votar com o povo”, afirma.
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Tiririca diz não concordar com a fixação da idade mínima de 65 anos nem com a exigência de contribuição por 49 anos para a aposentadoria integral. “O cara vai morrer e não vai se aposentar nunca”, critica. Esses são dois dos pontos mais polêmicos da proposta de emenda à Constituição (PEC) enviada pelo governo Michel Temer ao Congresso.
Por causa desses itens controversos, Tiririca admite contrariar a orientação partidária mais uma vez. Em 2011, ano de sua estreia como parlamentar, ele foi repreendido pelo partido por ter votado a favor do salário mínimo de R$ 600, valor acima do defendido pela bancada, que integrava a base de apoio da então presidente Dilma. A legenda, que agora apoia Temer, ainda não anunciou como votará na reforma da Previdência.
Nascido em uma família circense pobre, Tiririca afirma que não vai trair suas origens. “Vou votar de acordo com a minha consciência. Não sou político, estou político. Vou votar contra o povo? Vou estragar minha carreira artística de 40 anos por causa disso?” , questionou o deputado em conversa com o Congresso em Foco.
Desde que assumiu o mandato, em fevereiro de 2011, Tiririca não faltou a uma única sessão sequer. Registrou presença nas 232 vezes em que sua presença era obrigatória. Mas não fez um discurso sequer. Isso só vai ocorrer, adianta o deputado, no dia em que um de seus projetos de lei for aprovado pela Câmara. A missão não é simples, reconhece.
“No dia em aprovarem algum projeto meu, eu vou subir lá para agradecer todo mundo. Nunca discursei porque não preciso de mídia, nem de fazer média. Para mim, isso aqui é teatro. Está todo mundo representando. Eu não sou de teatro, eu não represento. Sou um cara do circo”, explica.
Circo e educação
Autor de 14 projetos de lei, alguns em parceria com outros deputados, Tiririca diz que já sabe como funciona o troca-troca entre os parlamentares para aprovar suas propostas. Mas que não compactua com a prática. “Um deputado diz para o outro: me ajuda a aprovar o meu projeto que eu ajudo você a aprovar o seu. Eu não faço esse tipo de jogo.”
Os projetos de Tiririca são voltados basicamente para a comunidade circense e para a educação. Entre as propostas sugeridas por ele, seis pretendem assegurar direitos aos trabalhadores de circo, onde começou sua carreira artística.Uma das proposições do palhaço determina o reconhecimento do circo como manifestação cultural para que a categoria possa ser beneficiada com os incentivos fiscais da Lei Rouanet (PL 5095/2013). Ele também propõe a inclusão do trailer e do motor home utilizados por artistas de circo como moradia no programa “Minha Casa, Minha Vida” (PL 5094/2013).
Em outros dois projetos, Tiririca sugere a isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para veículos usados em atividade circense (PL 3544/2012) e mudança na legislação para garantir aos filhos de artistas de circo, na faixa etária de 4 a 17 anos, cuja atividade seja itinerante, vaga nas escolas pública ou particulares (PL 1528/2011).
Conversar com o deputado na Câmara é um exercício de paciência. A todo instante, Tiririca é abordado por colegas, funcionários e, principalmente, visitantes da Casa. Muitos não se contentam em pedir para tirar fotos. Pedem a ele grave alguma mensagem bem-humorada para mostrar para familiares ou amigos. O palhaço diz que esta é sua maior remuneração: o reconhecimento do público. “Tem muita gente metida aqui e entre os artistas, eu sou do povo. Não mudo meu jeito de ser”, frisa.
Eleito com mais de 1,3 milhão de votos em 2010, reeleito com 1 milhão de votos em 2014, Tiririca diz que ainda avalia se vai concorrer a novo mandato em 2018. Se depender da vontade da família, segundo ele, não voltará mais a Brasília, pelo menos não como político. “Sou acostumado com o circo. As coisas são mais organizadas lá. Nos meus três primeiros meses aqui fiquei depressivo com a bagunça que era. Um deputado discursando, os outros nem aí.” Mas a decisão sobre a eventual disputa sobre um novo mandato ele diz que só tomará no próximo ano.