Contra Renan, Randolfe cobra coerência do PSDB
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No ano passado, foi o parlamentar mais vezes contemplado com o Prêmio Congresso em Foco, em votações definidas pelos jornalistas que cobrem o Parlamento e os internautas. Apontado pelos jornalistas como o melhor senador do ano, ficou em terceiro na votação da internet. Venceu como parlamentar com menos de 45 anos que mais se destacou e outras duas categorias (combate ao crime ao crime organizado e defesa da segurança jurídica e da cidadania).
Veja a íntegra da entrevista concedida por Randolfe ao Congresso em Foco:
Congresso em Foco – Em 2011, quando foi candidato pela primeira vez, o senhor defendeu uma “limpeza ética” no Senado. Essa limpeza foi feita de lá para cá? Ou a Casa ficou mais suja?
Randolfe Rodrigues – Apresento essa candidatura por achar que o Senado precisa de mudanças. Depois, porque acho que o Senado tem de ter agenda própria. Não pode ser anexo do Executivo. A agenda do Senado não pode ser a agenda do Executivo. São essas as razões pelas quais apresento a minha candidatura, para que a gente possa ter uma agenda republicana no Senado. Uma agenda que seja a do Brasil, e não a do Executivo. Para que o Senado tenha transparência, não só em relação aos gastos dos senadores, mas que mostre como são feitos todos os gastos da Casa. O Congresso Nacional não pode passar por constrangimentos como o que passou no último dia do período legislativo, com apreciação de mais de 3 mil vetos por não ter cumprido o rito de apreciação de vetos.
No manifesto, o senhor diz que o Congresso tem sido um poder menor. Por quê?
A Constituição Federal estabelece a igualdade entre os poderes. O Legislativo não tem ficado à altura desse mandamento constitucional. O Legislativo deveria cumprir uma agenda própria, a agenda do Brasil, mas não tem sido assim. Isso diminui o tamanho do Congresso. Tem de ser a Casa da agenda do Brasil, não do Executivo. A palavra convence, o exemplo arrasta. Para estar à altura dos desafios do Brasil, o Senado tem de dar o exemplo. O Congresso não pode manter 3 mil vetos dentro de uma gaveta, em demonstração cabal de que funciona como anexo do Executivo, não tem pauta própria e não cumpre a Constituição Federal que diz que os vetos têm de ser apreciados 15 dias após serem anunciados pela Presidência da República. O grande desafio do Senado é dar exemplo.
Que tipo de exemplo o Congresso tem de dar?
O primeiro exemplo é ter calendário para votar o conjunto dos quase 3 mil vetos. O Congresso tem de votar a reforma política. Mesmo que seja rejeitada, os parlamentares que votarem contra têm de dizer por que rejeitaram temas como o financiamento público de campanha. O presidente do Senado é o presidente do Congresso Nacional. O Senado votou o fim de alguns de seus privilégios, como o 14º e o 15º salários. Mas, vergonhosamente, neste fim de ano, a maioria dos senadores recebeu, passando o constrangimento de ter recebido mesmo o Senado tendo votado pelo fim. O presidente do Congresso tem dever histórico de pautar isso em uma sessão do Congresso Nacional. Não pode persistir a existência de benefícios como o 14º e 15 salários. O Senado também tem de ter transparência no conjunto de suas despesas. A gente tem acesso aos gastos dos senadores, mas não aos investimentos do Senado. O orçamento bilionário do Senado tem ter de mecanismos de transparência.
De que maneira?
Primeiro, tem de botar tudo na internet. Segundo, instituir uma comissão da sociedade como instrumento de controle social de acompanhamento das despesas e das receitas do Senado. Chamar a sociedade para participar, instituições como a CNBB, a ABI, que já prestaram notório trabalho para a sociedade. O Senado, para dar exemplo, tem de superar seus próprios privilégios. É inaceitável não haver clareza sobre os planos de saúde para os senadores, que são vitalícios. O Senado não pode continuar com esse instituto de suplente de senador, que foi herdado da ditadura militar, que teve lugar com a figura do senador biônico. O Senado tem de ter a iniciativa de acabar com isso.
Como o senhor pretende fazer o contraponto a Renan? O senhor é o candidato anti-Renan?
Vou conversar com todos, propor debate sobre uma pauta republicana para o Senado. Sei que hoje, com o anúncio, estão dizendo que é uma disputa entre Davi e Golias. Quero lembrar que Davi foi vitorioso na história bíblica. É com mesmo a mesma de fé de Davi que vou caminhar nessa disputa.
Esse silêncio em relação à candidatura de Renan Calheiros, a começar dele próprio senador peemedebista, revela o quê?
É defeito de origem da candidatura. É a candidatura cabeça de bacalhau, todo mundo sabe que existe, mas não aparece.
Por que não aparece?
Porque ele tem medo de se expor, por causa das denúncias.
O que há por trás desse silêncio da oposição capitaneada por PSDB e DEM em relação à candidatura de Renan?
Espero que não tenha nada por trás e que ninguém chegue lá, na hora de votar, como eleitor da República velha, com voto de cabresto. Que todos os senadores sejam livres para escolher. Espero, inclusive, ter votos do PSDB. O PSDB fala tanto da submissão do Congresso. Este é um bom momento de o partido se levantar contra a submissão e um candidato do governo e votar em um candidato independente.
Com a atual composição e o atual sistema político-partidário, há espaço para mudanças estruturais no Congresso?
Acredito que há. Sou candidato para fazer essas mudanças. Minha candidatura está colocada para dialogar com outros colegas.
É possível fazer Renan incorporar alguma dessas propostas?
Queria que ele incorporasse todas, mas como há incompatibilidade entre ele e as propostas, é pouco provável que aceite. Não adianta ele falar, não adianta palavra dele.
As denúncias contra os principais candidatos à presidência da Câmara e do Senado constrangem o Congresso?
É em decorrência disso que sou candidato. Um homem público que preside as duas Casas tem de colocar biografia na frente do currículo, e o currículo na frente do patrimônio. O que deve definir o novo presidente da Câmara ou do Senado é a biografia.
As denúncias e a cassação de Demóstenes Torres, que atuava no grupo dos parlamentares que faziam a defesa da ética, de alguma maneira, abalaram a atuação do chamado grupo independente no Senado, do qual o senhor faz parte?
Houve o inverso disso. Como esses senadores foram os primeiros a cobrar explicações dele – fui o autor da representação que resultou na cassação do mandato dele -, isso nos fortaleceu. Não é a exceção que faz a regra. A conduta e o exemplo é que fazem a regra.
De que maneira o senhor pretende fazer sua campanha?
O debate já começou. Vou conversar com os senadores, sobretudo, aqueles com os quais a gente tem mais afinidade. Vou começar a telefonar, tenho viagens a fazer, que não são muito em função disso, mas vou aproveitá-las para dialogar.
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