Em entrevista ao Congresso em Foco, a advogada gaúcha Liane Pires Marques reforça a denúncia de estelionato contra o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), novo presidente da Comissão de Direitos Humanos. Em 2008, ela acionou Feliciano na Justiça cível e criminalmente. Dona de uma produtora de eventos na época, ela acusa Feliciano de ter lhe dado um calote ao faltar a um evento gospel para o qual havia sido contratado em São Gabriel (RS), mediante cachê de R$ 13 mil, em valores corrigidos. Por causa dessa denúncia, o deputado é réu de ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) por estelionato e responde a processo na Justiça cível, cuja causa já chega a R$ 2 milhões.
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Segundo a dona da produtora Nettu’s Eventos, Feliciano faltou ao compromisso para participar de outro evento, no Rio de Janeiro, com cachê maior, alegando ter sofrido um acidente. O deputado, porém, argumenta que faltou por “motivos de força maior” e que o caso decorre de um grande mal-entendido. Na entrevista a seguir, ela conta que ficou “apavorada” ao tomar conhecimento de que Feliciano comandará uma comissão na Câmara. “Como alguém que responde por estelionato pode ser presidente de uma comissão? Não tem cabimento”, declara.
Ela reclama que teve de fechar a empresa depois do episódio porque perdeu credibilidade e que o religioso só lhe devolveu o dinheiro por determinação da Justiça. “Ele nunca me enfrentou pessoalmente”, afirma.
Congresso em Foco – Como foi a contratação do Pastor Feliciano?
Liane Pires Marques – Fiz contato em outubro com o pastor André, que era quem resolvia tudo para ele. Como sou advogada, procurei sempre me cercar de provas. Não conhecia ele. Algo me dizia que algo poderia acontecer. Fiz publicidade no Rio Grande do Sul, com TV, folders e rádios. Viajei por todo o estado. Era um evento para 15 mil pessoas. Recebi confirmação de caravanas. Paguei cachê e transporte aéreo, tudo o que ele me exigiu. Hotel de primeira categoria. Passagem, para ele, tinha de ser da TAM. Combinei que iríamos pegá-los, no dia 15, às 8h, no aeroporto de Porto Alegre. As pessoas que foram buscá-los ficaram até o meio-dia esperando. Mas ele não apareceu.
Por que a senhora suspeitou que poderia haver algo de errado?
Ele é como o Padre Marcelo Rossi na Igreja Católica. Atrai milhares de pessoas. Naquela semana fui procurada por diversas pessoas e por caravanas, que diziam que ele mudaria o roteiro. Mas eu achava que ele não faria isso por ser um pastor. Não pensava que chegaria a tanta canalhice.
A senhora não recebeu nenhum telefonema com explicações dele?
Às 15h, o pastor André ligou dizendo que eles dois e uma terceira pessoa haviam sofrido acidente no Rio. Perguntei a ele: e eu como fico? A gente vai ver o que fazer, me disse ele. Até hoje não me ligaram. Fomos à internet e vimos que ele tinha um contrato no mesmo horário no Rio. Ou seja, ele tinha dois contratos ao mesmo tempo. Ligamos na segunda para as delegacias do Rio e não havia registro de acidente envolvendo os dois pastores. Acionei ele civilmente e também por estelionato.
A senhora teve contato direto com ele?
Tivemos audiência um ano depois. Ele nunca compareceu. Ele nunca veio me enfrentar. A última audiência que tive, em Orlândia (SP), foi em 29 de fevereiro do ano passado. Mandou só advogado e testemunha. Ele nunca me enfrentou pessoalmente.
E como está essa disputa na Justiça?
Ainda não teve sentença na cível, que está correndo em São Gabriel. É o processo 031/108.0000.9509. Hoje a causa está em quase R$ 2 milhões. O prejuízo comprovado foi de quase R$ 100 mil na época. Contratei segurança, comprei passagens aéreas. Banquei despesas dele em Porto Alegre. Tive gastos com palco, iluminação, sonorização e a divulgação em todo o estado. Hoje está em quase R$ 2 milhões. O processo no STF esteve parado por bom tempo. Agora está andando a passos de tartaruga.
E por que o valor chega a tanto hoje?
Inicialmente, o cachê era de R$ 8 mil. Corrigido, deu R$ 13 mil. Estou pagando despesa até hoje. Só não fui acionada na Justiça porque as pessoas me conhecem e conhecem a minha família. Quase fui linchada. Só não apenhei porque seguranças fizeram barreira. As pessoas me xingaram de sem vergonha, mentirosa, mercenária.
O deputado alega que já lhe devolveu o cachê…
Ele pagou o cachê dois anos depois. Na primeira audiência, em 2009, a juíza decidiu que ele tinha de devolver cachê em 30 dias. Um ano depois, a juíza determinou que ele depositasse. Foi só assim que ele pagou. Do contrário, não teria devolvido. Nem as passagens ele quis pagar. Um ano atrás o novo advogado, fazendo esse tipo de acordo, pediu audiência de urgência. O segundo advogado dele disse que o primeiro advogado não tinha procuração. Propôs me pagar R$ 30 mil. Mas isso não paga nem a metade. Ele, no ano passado, através de um pastor que é meu conhecido queria me visitar em casa para desfazer o mal entendido. Não aceitei. Na minha cabeça, não tenho que recebê-lo na minha casa.
A empresa conseguiu fazer novos eventos depois disso?
A empresa acabou. Não tive como seguir diante do que aconteceu. Não tive mais credibilidade. Estou aguardando a Justiça me dar sentença favorável para, talvez, voltar. Ainda tenho registro, mas ela não está na ativa.
E como a senhora viu a eleição dele como novo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara?
Fiquei apavorada. Como alguém que responde por estelionato pode ser presidente de uma comissão? Não tem cabimento.
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