Investigado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) por suspeita de envolvimento em esquema de corrupção na destinação de emendas para educação e saúde no final do ano passado, o deputado distrital Júlio César (PRB) solicitou o apoio do presidente de seu partido, Marcos Pereira – atual ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços –, para tentar se salvar das acusações. Celular apreendido pela Polícia Civil mostra que o distrital enviou mensagem a Marcos Pereira informando que a situação “se complicou”, mas que tinha “algumas armas” para o ataque. Júlio César e outros quatro colegas da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) figuram nas ações da Operação Drácon e foram denunciados pelo MP na segunda-feira (21).
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Júlio César afirma ao atual presidente licenciado do PRB: “Bispo, bom dia. Tenho pedido para o Wanderley e Mauro passar todas as informações do que está acontecendo aqui no DF, confesso que complicou muito nesses últimos dias, estou muito preocupado com as próximas ações do MP, queria deixar o senhor informado”. Os nomes citados pelo distrital são de duas pessoas ligadas ao PRB local: Wanderley Tavares, presidente regional da legenda, e Mauro Silva, tesoureiro do partido. À época, a Drácon ainda não tinha sido deflagrada, mas os parlamentares, segundo o MP, já tinham ciência da possibilidade de haver uma operação anticorrupção na Câmara Legislativa.
Em outra mensagem a Marcos Pereira, que também é bispo da Igreja Universal e está licenciado da presidência do PRB, Júlio César diz que deixou a liderança do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) na Câmara Legislativa para “sair do foco” das investigações. A estratégia, lembra ele, ajudaria na defesa, mesmo que nada tivesse se concretizado até aquele momento. “Realmente, nada se materializou e a estratégia de entregar a liderança ajuda para sair do foco, e ajuda na nossa defesa, principalmente usar algumas armas que temos para o ataque. Só que ontem à noite tivemos informações dos próximos passos do MP”, escreveu Júlio César ao atual ministro.
O parlamentar foi líder do governo Rollemberg na CLDF em 2015, mas renunciou ao posto em agosto deste ano depois de ver seu nome citado em denúncias de corrupção feitas pela ex-vice-presidente da Casa, Liliane Roriz (PTB). O esquema fraudulento desviou, segundo as investigações da Drácon, R$ 30 milhões em sobras do orçamento da Casa em 2015 para pagar dívidas com uma empresa que administrava UTIs na área da saúde local.
Júlio César ocupa atualmente a 2ª Secretaria na Mesa Diretora da Casa. Mas, devido a nova rodada de denúncias, também chegou a ser afastado dessa função na CLDF. O gabinete do parlamentar, assim como o escritório dos outros investigados, foi alvo de busca e apreensão no âmbito da Drácon – que está em sua terceira fase. Além dele, também foram denunciados a presidente afastada da Casa Celina Leão (PPS), Raimundo Ribeiro (PPS), Bispo Renato (PR) e Cristiano Araújo (PSD). Procurado pela reportagem, o deputado afirmou que “lamenta profundamente a posição do MP que, ao oferecer denúncia, ignorou o fato de que a investigação, cada vez mais, demonstrava a fragilidade e o absurdo das acusações”.
Queima de arquivo digital
As mensagens foram enviadas e posteriormente apagadas pelo aplicativo, que estava com o conteúdo criptografado. O deputado, porém, tirou uma foto do diálogo com outro aparelho – que foi apreendido durante as ações da Drácon. Segundo o MP, “Júlio César relata estarem muito preocupados com as ‘próximas ações do MP’ e que somente na noite anterior tiveram informações dos ‘próximos passos do MP’”. Na ação, entregue na última segunda-feira (21) ao Tribunal de Justiça do DF, os procuradores pedem o afastamento de todos os parlamentares envolvidos nas denúncias.
Procurado pelo Congresso em Foco, o ministro da Indústria, Marcos Pereira, afirmou que, como presidente nacional do PRB, agora licenciado para exercer o cargo de ministro, costuma ser procurado por parlamentares e filiados para que “fique ciente das atividades e das dificuldades de cada um, especialmente em temas sensíveis, o que é natural para a função de líder”.
Mais recentemente, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, é quem está no olho do furacão. Ainda assim, continua com o aval do Palácio do Planalto e afirma que continuará à frente do cargo. O ministro é acusado de crimes como tráfico de influência e advocacia administrativa, devido ao uso do cargo em benefício próprio – a liberação, via Ministério da Cultura, de um prédio em Salvador (BA) onde Geddel possui um imóvel de luxo.
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Leia a íntegra da nota do ministro:
“Como presidente nacional do PRB, agora licenciado para exercer o cargo de ministro, sou procurado pelos parlamentares e filiados para que eu fique ciente das atividades e das dificuldades de cada um, especialmente em temas sensíveis, o que é natural para a função de líder.”
Leia a íntegra da nota do deputado:
“A Defesa do Deputado Júlio César se vê impossibilitada de fazer qualquer comentário, pois ainda não obteve acesso à Denúncia. Contudo, lamenta profundamente a posição do MP que, ao oferecer denúncia, ignorou o fato de que a investigação, cada vez mais, demonstrava a fragilidade e o absurdo das acusações feitas pela Sra. Liliane Roriz.”