É costume no final do ano fazer balanços, seja de empresas, da vida ou de fatos. Muitos vão fazer. Com dificuldades por não existir uma metodologia que meça os índices de hipocrisia e vergonha, tentarei contribuir com o meu. Depois de muito pensar, creio que 2016 pode ser resumido em duas palavras: hipocrisia e vergonha.
É difícil selecionar quantos atos de vergonha e de hipocrisia assistimos, tanto coletivos como individuais. Mesmo com essas dificuldades, creio que muitos concordarão que basicamente dois momentos coletivos de vergonha e de hipocrisia se destacaram: o fatídico dia 17 de abril, quando assistimos em rede nacional as declarações de voto dos nobres parlamentares e as várias manifestações de rua, com homens e mulheres vestidos de verde amarelo que se diziam contra a corrupção. No entanto, vestiam camisas da CBF, entidade sabidamente corrupta.
A sessão de 17 de abril foi tão vergonhosa que o escritor português Miguel Sousa Tavares a definiu como “uma assembleia geral de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”.
Muitos dos que participaram dos atos de rua são criminosos. Hoje, alguns estão sendo investigados, alguns já indiciados, outros réus e também já há os condenados.
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A lista de hipócritas é longa, seria necessária uma bobina de papel, dessas que são usadas para imprimir jornais, se fôssemos escrever o nome e a descrição do comportamento hipócrita e vergonhoso de cada um e de cada uma. É difícil saber por onde começar, se por Aécio, Eduardo Cunha, Agripino Maia, alguns líderes do MBL, Malafaia, etc.
Renan Antônio Ferreira dos Santos é um dos três coordenadores nacionais do MBL (Movimento Brasil Livre), que coorganizou atos para “combater a corrupção” e pelo golpe contra Dilma Rousseff (PT). Renan é um hipócrita: é réu em pelo menos 16 ações cíveis e mais 45 processos trabalhistas.
Na lista cabem autoridades e gente simples que se tornou famosa pelo fato de fazer o contrário do que dizia, como, por exemplo, a estudante Sofia Azevedo Macedo, que bateu panela e vestiu uniforme da CBF para protestar contra Dilma. Incapaz de passar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), foi pega praticando fraude. Ou o caso mais recente, do comerciante Luiz Felipe Neder, que de verde e amarelo gritava fora Dilma e, no particular, espancava a esposa e em público espancou a jovem Edvânia Nayara.
Há também aqueles que habitam a retaguarda dos partidos, como Luiz Abi Antoun (PSDB), primo do governador Beto Richa (PSDB), que foi pedir o ’Fora Dilma’, e dias depois estava na cadeia por corrupção e, hoje, condenado a 13 anos em regime fechado.
A maioria dos que foram para a rua pedir Fora Dilma são inteligentes filhos da classe média, como Duda Nagle, que aparece em fotos com latinha de cerveja na mão. Dias depois, como resultado destas manifestações, sua mãe foi demitida da Empresa Brasil de Comunicação.
Na fatídica “assembleia geral de bandidos” do dia 17, a deputada federal Raquel Muniz (PSD), ao votar, afirmou que seu marido fazia uma administração exemplar em Montes Claros. No dia seguinte, ele foi preso por corrupção.
Ana Amélia, senadora do PP-RS que já trabalhou na RBS, afiliada local da Globo, foi de verde e amarelo votar a favor do golpe. O PP é o partido com o maior número de parlamentares investigados na Operação Lava Jato, e a RBS é investigada na Operação Zelotes. Além disso, ela mesma foi denunciada como funcionária fantasma do Senado. Sobre isso, nenhuma palavra.
Não tenho a bobina para fazer a lista, mas não posso deixar de fora Aécio Neves, campeão de citações de delatores na Operação Lava Jato. Dentre as acusações, a de que foi beneficiário de um esquema montado em Furnas.
José Agripino Maia (DEM-RN) está sendo investigado pelo STF sob suspeita de receber propina nas obras da Arena das Dunas, construída pela OAS.
Alguns não precisam de comentário, mas têm que estar na lista: Michel Temer, João Roberto Marinho, um dos donos da Globo, Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Cunha (PMDB), o comandante da “assembleia geral de bandidos”, hoje na cadeia.
E o que pensar do juiz Sérgio Moro, aquele que aparece na festa da revista ‘Isto’ É cochichando com Aécio Neves (PSDB)?