Vilson Antonio Romero*
Alguém disse ou escreveu que “a primeira vítima de uma guerra é a verdade”, embora não haja consenso quanto à autoria. São citados desde o dramaturgo grego Ésquilo (524 A.C. – 455 A.C.), o pensador e escritor inglês Samuel Johnson (1709-1784) e até o político britânico Philip Snowden (1864-1937), do Partido Trabalhista Independente. Nos conflitos bélicos mais recentes, não só a verdade perece: os profissionais da comunicação social também tombam pelo caminho.
O Comitê de Proteção dos Jornalistas (CPJ) revela que, até 30 de outubro, 31 profissionais de imprensa foram mortos no conflito entre Hamas x Israel, além de um sem-número de feridos e desaparecidos.
A organização também relatou ataques contínuos, detenções, ameaças, censura e assassinatos de familiares de jornalistas que trabalham em Gaza.
Na Ucrânia, pelo menos 15 trabalhadores da mídia foram mortos desde a invasão russa em fevereiro de 2022.
Os russos são acusados pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas da Ucrânia de atingir premeditadamente veículos de comunicação e jornalistas, fazendo-os de alvos ao lado de hospitais, escolas, orfanatos e prédios residenciais.
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A ONG Human Rights Watch e a Unesco repudiam o fato de que os governos se omitem ou são muito lerdos na busca de punição aos responsáveis pelas agressões e homicídios. Avaliam que ficam livres nove em cada 10 homicidas de comunicadores.
Segundo a agência da ONU, essa impunidade “leva a mais assassinatos e muitas vezes é um sintoma de agravamento do conflito e da falência dos sistemas legais e judiciais”.
Cá em Pindorama (me perdoe o mestre Élio Gaspari!), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) denuncia que número de agressões graves a jornalistas cresceu 34,2% nos primeiros cinco meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Os ataques à Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro reforçaram a violente contabilidade, mas casos esparsos têm proliferado em todo o Brasil e se espalhado principalmente em quatro continentes: Europa, América, Ásia e África, como sempre relatamos e denunciamos em nosso blog Tambor da Aldeia (https://tambordaaldeia.blogspot.com/).
Uma relevante iniciativa para coibir, responsabilizar e punir agressores dos nossos profissionais foi deflagrada no final de outubro pelo Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores Sociais, coordenado pela Secretaria Nacional de Justiça (Senajus), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP): um canal exclusivo para jornalistas denunciarem agressões no exercício da profissão.
Isto tudo vêm a calhar neste Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, adotado pela ONU desde 2013, não nos permitindo olvidar o sequestro e assassinato dos jornalistas Ghislaine Dupont e Claude Verlon, da Radio France International (RFI), no Mali, em 2 de novembro daquele ano.
A imprensa é fundamental para a cidadania e os ataques aos profissionais e veículos de comunicação devem ter seus autores identificados, responsabilizados e punidos, sem demora e sem quaisquer protelações. Pelo fim da impunidade!
(*) jornalista, diretor de Direitos Sociais da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e membro da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Liberdade de Imprensa da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)