O clima dentro na cúpula do PSDB é descrito como “tenso” desde o último domingo (15), quando ex-governador de São Paulo João Doria encaminhou uma carta ao presidente da sigla, Bruno Araújo, subindo o tom e cobrando respeito ao resultado da eleição interna da legenda que o definiu como pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Nesta terça-feira (17), os tucanos têm um encontro marcado em Brasília para definir os rumos da legenda nestas eleições.
Sem a presença de João Doria, que é mais um indicativo das querelas internas da legenda, a Executiva Nacional do PSDB reúne as bancadas da Câmara e do Senado, para discutir o estado da candidatura do ex-governador. Apesar de ter se consagrado vencedor das prévias internas tucanas, em 2021, o político se articula para não sair do páreo e disputar a corrida eleitoral como candidato da terceira via.
Ao Congresso em Foco, ex-deputado Marcus Pestana, pré-candidato do PSDB ao governo de Minas Gerais, afirma que, caso a sigla retire a candidatura de Doria, o partido pode “rachar ao meio”.
“Caso não tenhamos candidatura própria, o PSDB, que sempre teve papel protagônico nas eleições presidenciais desde 1989, irá rachar ao meio, perder a identidade e o seu espaço na sociedade como referência política e ideológica para parcela da população. Virará mais um partido qualquer na atual sopa de letrinhas partidária”, disse.
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Segundo ele, a candidatura própria “é uma exigência da realidade brasileira” e do “futuro do Brasil”. Hoje, os tucanos estão divididos em duas alas: uma, que afirma que Doria tem que ser a candidatura própria do PSDB, respeitando a decisão das prévias do partido. E outra, que ainda quer conversar com os demais partidos.
Pelo acerto feito entre o PSDB, o MDB e o Cidadania, a definição de um nome único da terceira via se daria a partir da análise de pesquisas quantitativas e qualitativas. E essa é a resistência de Doria. Em pesquisas quantitativas, ele aparece à frente da pré-candidata do MDB, senadora Simone Tebet (MS). Mas pesquisas qualitativas apontariam que Simone tem perspectivas de crescimento por se apresentar como uma novidade no pleito, enquanto Doria é mais conhecido e enfrentaria maior rejeição. A desconfiança de que tal tipo de argumentação poderia resultar na perda de apoio a seu nome fez Doria reagir, ameaçando inclusive ir à justiça para que o resultado das prévias internas do PSDB, que ele ganhou, fossem respeitadas.
PublicidadeAtualmente, o Cidadania está federado ao PSDB e deverá apoiar o nome que os tucanos colocarem à mesa. Mas, o MDB, segundo Pestana, “terá que demonstrar que está unido em torno da Simone”. Como a rejeição a Doria é considerável, há uma expectativa de que a senadora Simone Tebet (MDB) seja a escolhida para representar o grupo nas eleições. Os dois são os únicos nomes da terceira via que ainda restam na disputa.
No documento, o ex-governador afirma que não vai desistir da candidatura e indicou que pode judicializar a situação, caso seja abandonado pela sigla. Doria escreve ainda que, antes mesmo das prévias, existia uma “movimentação de parte da cúpula” do PSDB contra ele e que, depois do processo interno, “tentativas de golpe continuaram acontecendo”.
“Qual foi a nossa surpresa ao saber que, apesar de termos vencido legitimamente as prévias, as tentativas de golpe continuaram acontecendo. As desculpas para isso são as mais estapafúrdias, como, por exemplo, a de que estaríamos mal colocados nas pesquisas de opinião pública e com altos índices de rejeição, cinco meses antes do pleito”, afirmou João Doria.
PSDB e MDB contrataram pesquisas quantitativa e qualitativa para tentar chegar a um consenso e definir uma candidatura presidencial única. Os partidos devem se reunir na quarta-feira (18) para decidir, um dia depois da reunião. Atualmente, segundo a a pesquisa Genial/Quaest de maio, a rejeição de João Doria chegou a 59%, empatando com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Para intenção de voto, Doria aparece com 3%.