O ESG (sigla em inglês para Governança Corporativa Ambiental e Social) tem sido o debate dos últimos meses com intensidade, graças a visibilidade da pauta ambiental no mundo.
E temos focado nos aspectos ambientais e nas preocupações trazidas pela COP, esquecemos do seu aspecto integrado às demais questões e, principalmente, negligenciamos o”S” e “G” que se referem aos impactos sociais e à governança. Num brasil que faz greenwashing, com empresas achando que neutralizar seus carbonos é o máximo que podem fazer pela sustentabilidade, negligenciando os aspectos sociais e de resíduos e uso de demais recursos nos seus negócios, discutir social e governança pode ser bastante desafiador.
Os aspectos dos impactos sociais dos setores produtivos se referem ao relacionamento do negócio com toda a sua cadeia produtiva, dos fornecedores, colaboradores e clientes, além dos investidores. Um negócio que leve em conta todos os seus impactos e escute e considere todas as pessoas que se relacionam direta ou indiretamente consigo é de fundamental importância. Bem como a forma como as regras, normas e ações são estruturadas, sustentadas, reguladas e responsabilizadas para a consecução dos seus objetivos com os melhores impactos sociais e ambientais possíveis. Assim, ESG é sobre transparência, verdade, identificação de risco e fazer a coisa certa. Tudo a ver com Democracia Liberal.
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E é aí que as coisas ficam muito complicadas de debater no ambiente brasileiro atual. Aqui, as pessoas, tendem a confundir democracia com eleição, esquecendo-se que a maioria dos regimes autoritários existentes são
regimes eleitorais, e temos, muitas vezes reduzido o debate a uma democracia eleitoral populista e muito pouco liberal. Mas, para os desenvolvedores da democracia, seus conceitos estavam muito mais ligados à criação social de um espaço público comum de criação da liberdade, que depende do modo como os humanos interagem, pois que ninguém é livre sozinho.
Aqui confundimos parlamentarismo com presidencialismo, queremos criar semipresidencialismo, tudo com o objetivo de gerar controle e afastar o povo da construção coletiva de direitos e deveres, numa visão propriamente paternalista de governo. Confundimos assim a democracia com representatividade e não com participação direta, também porque a democracia representativa como regime político se consolidou na modernidade. Mas estratégias de abertura e participação direta e coletiva têm surgido, ao mesmo tempo que um backlash de ascensão dos populismos, tanto os ditos de esquerda, quanto os ditos de extrema-direita, e vários países voltando ao autoritarismo.
PublicidadeDesta forma, o debate do ESG não pode ser descolado do debate da criação de democracia inovadora, criativa e cooperativa, que esteja presente em todos os ambientes da vida pública e privada. Um ambiente de criação de redes no qual os atos de cada um de nós geram impactos na vida social e nas liberdades individuais de cada uma das pessoas que nos cercam. Chamem de Efeito Borboleta, mas a conceituação da auto-responsabilidade dos impactos das nossas pequenas ações na criação de um ambiente comum, respeitoso, onde as diferenças e diversidade sejam acolhidas na criação de bases comuns de convivência é o fundamento primário da Democracia como conceito e também do ESG.
A criação de um ambiente corporativo com compliance às normas do consumidor, defesa da concorrência, anti-corrupção, meio ambiente e trabalhista, que conheça a e rastreie a cadeia de seus fornecedores, que se responsabilize pelos impactos gerados pela sua atividade, e que trate seus colaboradores de forma inclusiva, não nos parece apartado de uma defesa de que o ambiente de negócios e do país seja efetivamente democrático e que a ética colaborativa faça parte não só da sua comunidade, mas que dela transborde para todos os espaços.
Além disso, a defesa da democracia ampla e colaborativa é fundamental para um ambiente de desenvolvimento nacional. Índice de Democracia compilado pela revista The Economist mostra que dentre os 22 países considerados democracias plenas, 14 estão também entre os 22 melhores IDHs e essa incidência se repete nos mais diversos índices. Desta forma, é imprescindível que os setores produtivos se engagem também na defesa de um ambiente democrático para além de suas organizações. Esperamos que o engajamento da moda ao ESG seja, enfim, a compreensão da necessidade de um Brasil ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo, culturalmente diverso e enfim, politicamente democrático.
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