Roseann Kennedy
O encontro dos ministros com senadores da base aliada ao Governo Lula, na terça-feira (03), foi para “partilhar o pão” e sonhar com a divisão de cargos num eventual governo Dilma Roussef. Os presentes pareciam ter gostado do cardápio, demoraram no almoço e saíram sorridentes apostando em vitória. Aliás, por falar em menu de verdade, os senadores elogiaram o churrasco e os camarões servidos.
Mas, o cardápio na “confraternização” com os deputados, como eles preferem chamar, foi mais pesado e até um pouco indigesto. Além de serem politicamente forçados a baixar a bola e evitar declarações com o clima de já ganhou, o que certamente deixou muitos com a língua coçando, nas rodas de conversas circularam cobranças por espaço e por dinheiro.
Claro que não é nada agradável para o Planalto ouvir reclamações por liberação de emendas parlamentares a essa altura do campeonato. Afinal, a verba agora não pode mais ser liberada devido à legislação eleitoral. Então, como administrar a insatisfação dos aliados que reclamaram da burocracia da Caixa Econômica Federal para entregar o dinheiro? Por enquanto, com muita conversa e ainda mais promessa. É assim no ambiente político.
É verdade que o Governo sempre nega qualquer negociação de emendas em troca de apoio político. “Não há toma lá, dá cá”, afirmam categóricos os representantes do Planalto sempre que indagados sobre o assunto.
Mas um dos deputados presentes no encontro deixou claro que não estava a fim de se empenhar totalmente na campanha sem ter a certeza do recebimento da verba para seus projetos.
Os parlamentares também tentaram demarcar território. Foram explícitos no sentido de quererem dividir espaço num eventual Governo Dilma, a começar pelas indicações para a composição da Mesa Diretora da Câmara. A aposta da maioria dos partidos é de que eles terão bancadas maiores. Com isso, não vão querer apenas baixar a cabeça para as imposições do PT e do PMDB.
É no mínimo prudente que discussão sobre divisão de cargos e espaço político seja evitada publicamente. Os próprios petistas gostam de repetir que dá azar sentar na cadeira antes de eleito. Uma clara provocação ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que a pedido de jornalistas, em 1985, tirou uma foto sentado na cadeira de prefeito antes da eleição. E acabou perdendo para Jânio Quadros.
Ah, em tempo: se reclamaram do cardápio político, os deputados não elogiaram a refeição também.
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