Bezerra Couto
Bons tempos aqueles das cédulas de papel. Se elas não tivessem sido substituídas por essas urnas eletrônicas sem graça, eu estaria aqui, humildemente, pedindo o seu voto. As regras do jogo impedem que até mesmo eu possa escrever, com convicção, as 12 letras do candidato que julgo mais capacitado para exercer a Presidência da República: este seu criado, Bezerra Couto.
Infelizmente, o povo brasileiro tem a triste mania de me ignorar. Vejam a injustiça. Sou obrigado a ganhar a vida como corretor de imóveis quando poderia muito bem estar ali, no Palácio do Planalto, trabalhando pra dar um destino melhor ao Brasil.
Tirando umas três dúzias de parentes necessitados e amigos muito próximos, eu poria fim a práticas empreguistas. Pra começar, descontadas as já citadas exceções, acabaria com os cargos de confiança. São milhares e milhares. Como é possível confiar em tanta gente?
Claro não venderia o Aerolula, como pretende fazer o Alckmin. Rebatizado como Aerobezerra, o avião seria usado nas minhas viagens, tanto as de trabalho quanto as de passeio, e em atividades extras, que passo agora a descrever.
Nas horas vagas, o Aerolula será utilizado para ensinar pilotos norte-americanos a voarem. As aulas incluirão explicações sobre um aparelho chamado transponder, que deve ser mantido ligado durante o vôo, de modo a evitar a morte de pessoas inocentes.
Uma vez por mês, o Aerobezerra será colocado a serviço da arrecadação de recursos para o Tesouro Nacional. Vou fretá-lo a preços estonteantes para vôos em que os clientes, além do privilégio de se aboletarem no avião presidencial, terão direito à companhia de mulheres mais estonteantes ainda. Como estamos em tempos politicamente corretos, a recíproca também valerá, podendo as mulheres fazer uso dos mais belos gatos disponíveis… digo, ter a companhia de tais gatos… tudo, evidentemente, depois de os passageiros ou passageiras desembolsarem vultosas quantias. A grana permitirá engordar a receita do Bolsa Família, que irei ampliar e aprimorar.
PublicidadeVou privatizar todos os serviços de fornecimento de documentos do governo federal que não puderem ser emitidos online, via internet, segundos após a solicitação. Obrigação de todos os fornecedores contratados para prestar os serviços: a entrega da informação ou documento requerido pelo cidadão deve se dar no prazo máximo de 24 horas, sob pena de cancelamento automático do contrato.
Convocarei uma Constituinte pra mudar radicalmente nossa Carta, reduzindo tributos, abolindo amarras burocráticas e, essencial, decretando o fim do Senado Federal, Casa inútil e dispendiosa cuja extinção pode trazer valiosos benefícios. Seremos, olha que beleza, uma república unicameral.
Os funcionários do Senado, todos muito bem pagos e em sua maioria bastante qualificados, serão deslocados para áreas carentes dos poderes Executivo e Judiciário. Os senadores poderão se candidatar a outros cargos, tendo a maravilhosa chance de encararem uma eleição que será fácil pra maior parte deles, para a Câmara dos Deputados, melhorando assim o nível daquela instituição. Fora isso, economizaremos uma baba para despesas mais prementes, como a reforma agrária, investimentos sociais e o apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico.
Também receberei eleitores humildes, posarei para fotos, pegarei crianças no colo, reduzirei os juros, farei o país crescer pelo menos 7% ao ano e convidarei alunos de escolas públicas para sessões de cinema no Palácio da Alvorada, regadas a pipoca e guaraná. Farei muito mais, só que o resto deixarei pra detalhar depois de eleito. Exatamente como eles fazem, né não?
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