Cláudio Versiani, da Croácia*
Dudu, Da Silva ou Eduardo da Silva Alves, 21 anos, é atacante da seleção de futebol da Croácia. Ele foi o herói do jogo em que os croatas bateram os arrogantes ingleses por 2 a 0 no último dia 11. Dudu marcou um belo gol de cabeça que deixou o goleiro Robinson caído e enrolado na rede. O segundo gol foi contra, numa bizarra furada do Mr. Robinson. Os croatas tiveram ajuda do famoso montinho artilheiro.
Na praça central de Zagreb, a capital do país, antes do jogo, torcedores croatas e ingleses se enfrentaram numa verdadeira batalha, como gostam de dizer os locutores esportivos. Tudo regado a muita cerveja, claro.
O pau não quebrou porque tinha mais polícia do que gente, por assim dizer. Dedos médios esticados pra lá e pra cá, hooligans ingleses e a versão croata do mau torcedor, todos proporcionando um feio espetáculo.
Dentro de campo, o time de Dudu mandou no jogo, fez a bola correr e botou os ingleses na roda. Os favoritos ingleses chegaram com pinta de vencedores e voltaram com uma derrota humilhante. A moral da seleção inglesa desceu ao nível do gramado.
No dia seguinte, Dudu foi capa dos jornais croatas. Ele foi o herói da partida e o autor do único gol croata. Nada mal para quem chegou há quatro anos, vindo do Rio de Janeiro, e teve de agüentar a reserva, jogar na segunda divisão, sem contar as agruras do inverno e da incapacidade de se comunicar, por não dominar o idioma. Dudu foi comprado pelo Dínamo de Zagreb por US$ 50 mil. Hoje, o passe dele está valendo US$ 5 milhões.
PublicidadeOs croatas são amistosos e hospitaleiros. Zagreb é uma cidade milenar e muita bonita. Split, a segunda cidade do país, à beira do Mar Adriático, é simplesmente maravilhosa. Não é à toa que a Croácia é um destino turístico mundial. A natureza foi generosa com esse pedaço da antiga Iugoslávia.
Já a história, nem tanto. No século passado, eles enfrentaram o fascismo, duas guerras mundiais, incluindo o nazismo de Hitler, a falta de liberdade durante o governo comunista de Tito e as sandices de Milosevic, o sérvio que queria anexar toda a região. Foram quatro anos de uma guerra fratricida que ainda está no consciente coletivo.
Nessa viagem, descobri que existe também um jeitinho croata, bem ao estilo brasileiro. No hotel, me deram um quarto onde era proibido fumar. Tentei trocar. A recepcionista me disse que o hotel estava lotado, mas que, se eu quisesse fumar, ela não iria contar para ninguém. Do aeroporto para a cidade, o motorista de táxi me cobrou um adicional de 20% por ser domingo. Não sei se era correto ou não o preço de 220 kunas, a moeda local. Na volta para o aeroporto, tentei combinar a tarifa antes. O motorista pediu 280 kunas, fechamos em 220, mas no final saiu por 250.
O Brasil faz sucesso na Croácia, ainda mais com Dudu, o brasileiro naturalizado croata, jogando pela seleção nacional. Outro taxista desfilou sua coleção de ídolos, que ia de Pelé a Kaká, passando por Romário, Bebeto e os Ronaldinhos. Escalou o ataque da seleção de 62: Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo. E me cobrou um adicional pela conversa fiada.
No check-in do aeroporto, pedi um assento no corredor do avião, confiei no atendente e não conferi. Era janela. Adormeci com uma revista no colo e acordei sem a revista, alguém tinha levado a dita cuja. Senti-me em casa. A Croácia é demais.
Viva o Dudu!
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