Está no Houaiss: Presidenta sf 1 mulher que se elege para a presidência de um país <a p. da Nicarágua> 2 mulher que exerce a presidência de uma instituição <a p. da Academia Brasileira de Letras> 3 mulher que preside algo <a p. da sessão do Congresso> 4 p us. Mulher do presidente. ETIM. fem. de presidente.
Está no Aurélio: Presidenta [Fem. de presidente] Substantivo feminino. 1. Mulher que preside. 2. Mulher de um presidente
Portanto, o termo presidenta, adotado por Dilma Rousseff para designar a si mesma, é aceito pelos dois principais dicionários de língua portuguesa. Presidenta aparece como verbete nos dois dicionários imediatamente acima da palavra presidente. Assim, em que pese a indignação de alguns supostos jardineiros zelosos da última flor do Lácio (foi assim que o poeta Olavo Bilac chamou a nossa língua pátria em um de seus poemas), o termo não é incorreto. E o verbete não foi incluído nos dicionários de última hora, para agradar a recém-empossada. A palavra está no Houaiss e no Aurélio desde muito antes de Dilma virar o projeto sucessório do ex-presidente Lula. Quem usar o termo, ao contrário do que pensam os indignados, não é ignorante. Quem discordar, que fique doente com a opção gramatical de Dilma. Nos dois casos, porém, um aviso: se forem mulheres, não poderão ser chamadas de ignorantas, nem vão poder ficar doentas. Esses, de fato, são adjetivos comuns de gênero.
Ao optar por presidenta, o que Dilma queria era reforçar com o termo a sua condição feminina, de primeira mulher a exercer o principal cargo político na história do país. Para ela, optar pela ideia de que a palavra não tinha flexão de gênero passava uma sensação de que era, Dilma, uma estranha num universo masculino, a ocupante clandestina de um posto que até a língua portuguesa reservava unicamente aos homens.
Há alguns bastidores curiosos sobre a adoção do presidenta por Dilma. Numa demonstração veemente de que quem manda em campanha não é o candidato, mas o marqueteiro, Dilma não conseguiu usar presidenta na sua propaganda eleitoral. João Santana não gostava, achava que soava mal. Disse que não ia usar, e ponto final. E, pasmem, dona Dilma, com toda a sua fama de brava, cedeu. Na campanha, ela foi Dilma presidente. O apito final era do marqueteiro.
Eleita, Dilma ganhou, afinal, o apito. Logo depois de ser eleita, ela já manifestou a vontade de usar o termo no feminino. Queria seguir o que fizera na Argentina Cristina Kirchner, que adotou o presidenta depois de tomar posse. Dilma só tinha, então, dúvida sobre se o feminino, no caso da língua portuguesa, era gramaticalmente correto. Foi salva pelo hoje porta-voz da Presidência, Rodrigo Baena. Diplomata, Baena servia na Argentina quando Cristina foi eleita. Na época, ele teve a tarefa de fazer uma pesquisa para saber se poderia designar Cristina Kirchner como presidenta nos textos e comunicados oficiais da Embaixada Brasileira. Consultas feitas a gramáticos e aos dicionários, ele concluiu que sim. Ao contar isso para Dilma, a presidenta bateu o martelo.
O mais curioso da história é que, de janeiro para cá, instituiu-se uma disputa ideológica meio bocó em torno da palavra. Em princípio, quem apoia Dilma a trata de presidenta. Quem a critica, usa presidente. Nada contra quem quiser fazer diferente, mas, no meu caso específico uma vez que não é incorreto -, trata-se apenas de designar uma pessoa pelo modo como ela deseja ser tratada. Uma questão de respeito. No fundo, o viés ideológico que tomou conta dessa discussão espanta. Dividir governistas e oposicionistas pelo uso de presidente ou presidenta parece coisa de adolescente. Não, nunca de adolescenta.
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