Renata Camargo
A ex-ministra do Meio Ambiente e pré-candidata do PV à Presidência da República, senadora Marina Silva, está sumida do noticiário. Enquanto a escolhida do PT, ministra Dilma Rousseff, e o pré-candidato do PSDB, o governador de São Paulo, José Serra, estão a todo momento na mídia online, a candidata do meio ambiente não tem suscitado o mesmo interesse da imprensa.
Marina tem características peculiares que, talvez, expliquem esse fenômeno. Dizem colegas de partido que a ex-ministra prefere não burlar as leis eleitorais, que preveem campanha somente a partir de julho, após a realização das convenções partidárias, responsáveis por efetivar as candidaturas.
“A Marina não aceita fazer qualquer jogo político. Ela sempre se questiona se a ida a determinado lugar vai parecer que é campanha antecipada. E, na verdade, ela não está preocupada com a Justiça Eleitoral, mas com a justiça dela, com a consciência dela”, disse um colega de partido, que admite que a pré-candidatura segue sem muita visibilidade.
Mas, se esse é o jogo, talvez não reste a Marina alternativa se não diminuir a rigidez da sua consciência moral e admitir aos poucos ser ‘influenciada pelos maus exemplos’. Na semana passada, a ex-ministra reconheceu que sua participação na Campus Party – encontro mundial de comunidades e redes sociais da internet, realizado em São Paulo – pode ser considerada como campanha antecipada. Marina justificou sua investida:
“Eles anteciparam a campanha. Infelizmente, anteciparam. Agora, não dá para você antecipar o jogo e dizer aos demais jogadores: ‘Não joguem’. Aí, fica injusto”, disse Marina.
A senadora explicou que, como vai usar a internet durante sua campanha, nada melhor do que ir a um encontro mundial para prestar seu reconhecimento a essa ferramenta tão importante. A ex-ministra acrescentou em suas justificativas (divulgadas pela imprensa) que “nunca” vai dizer “qualquer coisa que seja falsa ou mentirosa sobre Serra, Dilma ou Ciro” (Gomes).
Os articuladores da campanha de Marina apostam na internet, mas entendem que, no Brasil, ainda é a TV a responsável pelo ibope dos presidenciáveis. Segundo o IBGE, 94% dos domicílios brasileiros têm pelo menos um aparelho de televisão, o que atinge cerca de 171 milhões de pessoas. Já a internet, de acordo com o IBGE, está apenas em 23,8% dos domicílios brasileiros, que têm computador com acesso à rede. Pouco mais de 45 milhões de brasileiros navegam na internet. A diferença de alcance é imensa. Só com os internautas, Marina não ganha eleição.
Nos próximos dias, segundo o coordenador da pré-campanha de Marina, o vereador carioca Alfredo Sirkis, a senadora deverá lançar o Blog da Marina e o perfil da pré-candidata no twitter (será o perfil oficial, pois há vários perfis falsos de Marina no twitter). Mas a grande aposta da equipe de pré-campanha de Marina será o programa nacional do PV, que vai ao ar nesta quinta-feira (4) em cadeia nacional de televisão às 20h30 (horário de Brasília).
Marina será a protagonista do programa do partido. Na TV, a pré-candidata deverá se mostrar como uma alternativa para as eleições presidenciais, polarizada na dobradinha PT e PSDB. Segundo Sirkis, o programa tratará sobre educação. “Não tem jeito, não tem mistério. A arma mais poderosa é a TV. Ninguém sabe ainda o alcance da internet aqui”, admite Sirkis.
Se a TV ainda é a arma mais poderosa de uma eleição no Brasil, Marina terá que descobrir uma estratégia para entrar no noticiário, se quiser ter alguma chance de disputar um segundo turno. É verdadeira a ideia de que a mídia é pautada pela notícia ruim. Escândalos, ainda mais na política, têm muito espaço e apelo nos jornais, site, revistas, telejornais, blogs, rádios e demais canais de notícias.
Na mídia, Marina já está em desvantagem em relação a Serra e à Dilma pelo fato de ela não ser governo. A ministra Dilma – “que não está em campanha antecipada” – aparece nos jornais, com destaque, em inauguração de obras ao lado do presidente Lula. Enquanto isso, Serra, governador do estado mais rico do país, é notícia em sanção de lei ambiental e inauguração de estação de metrô. Marina não tem obras pra inaugurar e não é chegada num escândalo.
O fato é que a pré-campanha de Marina Silva está tímida. Certo que essa timidez não vem apenas da inexperiência do partido em grandes campanhas eleitorais, ou mesmo dos poucos recursos que o PV dispõe. A timidez vem também de uma exposição ínfima de Marina na mídia. E, quanto a isso, de um lado o coordenador da pré-campanha culpa o “sufocamento por parte de uma cultura de mídia que só consegue cobrir governo”. E, de outro, jornalistas culpam a falta de tato da assessoria de Marina de pautá-la na imprensa.
Marina “não entra no jogo da campanha furiosa”, como diz Sirkis. Sim, a senadora tem classe e uma postura diferenciada se comparada a vários outros colegas de profissão política. Mas, como uma pessoa “que tem uma outra visão do Brasil”, está na hora de Marina escancarar essa sua visão diferenciada e entrar com ‘agressividade’ no noticiário. Não é caso de criar factoides, e sim de não perder as oportunidades de se posicionar e dar a cara a tapa. Se aproveitar dos fatos para se posicionar e mostrar no que ela é diferente de Lula, Dilma, Serra, Ciro, etc”
“Se não é governo, aparentemente a forma de chamar atenção é ‘chutar’ a canela de alguém poderoso. Se ela chutar, vai ser notícia”, diz Sirkis.
Então, Marina, a solução é ‘chutar’ (entre aspas) a canela de Dilma, de Serra, de Ciro, de Lula e de quem for. Mas não chutar por chutar, sem classe, sem elegância. O negócio é dar chutes certeiros, bem calculados, para que o ‘efeito Marina’ nesse jogo sucessório não se limite apenas a inserir o ambiental em discursos vazios.
Leia aqui outras edições da coluna de meio ambiente
Deixe um comentário