Jeferson Barbosa da Silva*
Nesses nossos 32 anos de militância sindical ininterrupta e sincera ao lado dos trabalhadores brasileiros, em defesa de seus direitos, contra a ganância dos capitalistas donos dos meios de produção, aprendemos, dentre outras coisas importantes, a ver tudo aquilo que eles escondem por detrás de suas terríveis e repetidas manobras.
Neste início de 2006, Juscelino está de volta!
Nada menos que a poderosa Globo exibe belíssimo filme seriado sobre fatos e ficções da biografia deste grande presidente que foi JK.
Além disso, todos os jornais e revistas correm para trabalhar o tema, a maioria deles, de maneira conservadora e reacionária, apresentando Juscelino como "o melhor presidente que o Brasil já teve", aumentando exageradamente os seus feitos, omitindo a parte que não interessa, escondendo os podres embaixo do tapete.
Precisamos dizer algumas verdades sobre fatos de meio século atrás porque, afinal, há inquestionável material historiográfico relatando os principais episódios ocorridos durante o governo de Juscelino, uma vez que as melhores fontes já foram compulsadas pelas boas equipes acadêmicas, especialmente, na Universidade de São Paulo (USP).
Mas, para saber a verdade histórica, antes de buscá-la na estante, bom é ouvir os trabalhadores.
PublicidadeComeço lembrando os trabalhadores de Minas Gerais, com sua especial ironia mineira…
Quando JK se candidatou ao governo do estado em Minas, pelo PSD, teve Gabriel Passos, seu concunhado, casado com a irmã de Dona Sarah, concorrendo ao Palácio da Liberdade, pela UDN. Durante a campanha, o pessoal saiu-se com essa: "Não sei o nome do novo governador, mas o nome da sogra eu já sei…"
Do muito que foi realizado nos "50 anos em cinco" do período JK, a instalação das bases da moderna indústria e a construção de Brasília sempre são destacados, mas para os trabalhadores trata-se de recuperar as mais importantes conquistas que o Movimento Sindical alcançou à custa de algumas grandes e duradouras greves.
Ao contrário do que agora se tenta passar, Juscelino não tinha uma posição progressista em relação à luta e aos direitos dos trabalhadores. A verdade é que os comunistas exerciam uma presença efetiva e permanente nos debates, planejando as lutas, com estratégia e tática, dando direção política aos aliados, principalmente do PTB e centrando todos os esforços na mobilização direta dos trabalhadores.
Exemplos disso: o combate contra o aumento da contribuição previdenciária dos trabalhadores de 7% para 8%, que JK quis empurrar goela abaixo, sendo impedido pela mobilização da classe trabalhadora; a "greve da paridade", que colocou os servidores públicos contra o governo na luta por um reajuste salarial que trouxesse a equiparação dos civis com os militares; e a formação do Comando Geral dos Trabalhadores, o CGT.
Hoje é bom trazer de volta a discussão dos principais feitos do período JK porque 2006 é um ano eleitoral, e lembrar as lutas, suas vitórias e derrotas nos anos 50, pode ajudar muito no debate que vai ter de ser travado nos próximos meses.
Só que temos de ter muita atenção para a forma de tratar com a verdade histórica, porque o imperialismo norte-americano e seus fiéis acólitos daqui, esses fariseus da mídia, os pseudodirigentes sindicais, os falsos cientistas que ficam inventando o passado lá na universidade, em vez de relatar os acontecimentos com coragem e compromisso com o povo, além dos ventríloquos dos banqueiros e do FMI, toda essa corja virá com tudo para fazer crer que a questão não é mais o mensalão, o valerioduto, a terrível crise do PT e seu governo, os dólares na cueca, essa lambança gigantesca que todo mundo viu rolar durante 2005. Agora, eleição nova, tudo novo, assuntos novos: "Vamos todos saudar o Juscelino, aplaudir sua grande obra, mirando-nos em seus exemplos, e tome reeleção…"
O movimento sindical precisa se preparar muito bem e muito depressa para o debate que já começou, de onde sairá uma nova representação política decisiva para exercer o poder político nos próximos anos, ou rompendo, ainda que em dois ou três aspectos, ou arrochando ainda mais o atual modelo de política econômica que massacra o povo há onze anos, nos oito de FHC e esses três anos de Lula, em benefício dos banqueiros e da grande especulação financeira internacional.
Nesse sentido, gostaríamos de lembrar da luta pela reforma agrária, que os comunistas e o PCB conduziram muito corretamente durante o governo de Juscelino.
Por que a reforma, prevista no Plano de Metas, não vingou, apesar do avanço da luta, da mobilização e da ampla aliança desenvolvimentista favorável?
Kubitschek pegou o "Relatório Celso Furtado", em 1958, sob o extraordinário impacto da Revolução Cubana, e fundou a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), transferindo o acúmulo revolucionário das lutas para o debate reformista e acadêmico.
Por mais que se louve o papel da Sudene no planejamento do desenvolvimento regional, não podemos deixar passar essa importante manobra, uma vez que ela foi a saída institucional, restrita ao Nordeste, onde se situava o núcleo mais combativo e revolucionário da luta, quando JK traiu o acordo com os comunistas e o PTB, que era estender todos os direitos da CLT também aos trabalhadores do campo.
Atualmente, tanto FHC quanto Lula usaram e abusaram das repetições desse expediente anti-revolucionário…
Mesmo reconhecendo o importante papel da Sudene como instrumento formulador de políticas de redistribuição de renda, e a linha progressista empreendida por Celso Furtado, precisamos lembrar que, com a sua criação, JK jogou para a frente a solução da questão agrária, que se arrasta até hoje, agora ampliada e agravada, sem a mínima perspectiva de solução com esses conhecidos e inócuos encaminhamentos dados pelo atual governo.
Não se trata de inventar nada nem modificar os acontecimentos ou as decisões passadas. Mas quem acredita no que a Globo quer que seja verdadeiro, não pode merecer maiores considerações.
Há poucas semanas, no final de 2005, não tivemos de ver no programa Fantástico, que é a maior vitrine do imperialismo norte-americano para o país, uma patética e deprimente entrevista presidencial, para tentar salvar o exaurido exangue e pautar de novo El Cid defunto sobre seu cavalo?
E, não é que deu certo?!
Quem subestimar o poder de manipulação da Globo ou está enganado ou está enganando…
Por isso precisamos entrar nesses debates das eleições de 2006 devidamente preparados para uma verdadeira guerra.
O cenário de janeiro é uma conjuntura muito agitada, com vários fatos novos pipocando a cada dia, porém nada que vá permanecer firme e claro, para o segundo semestre.
É nisso que reside o nosso compromisso e a nossa esperança: se a conjuntura realmente eleitoral de setembro será outra, porque não intervir e lutar para nela introduzir a nossa pauta, o nosso discurso, as nossas bandeiras?
Assim sendo, cabe-nos partir para as ruas e as fábricas, contar o que está acontecendo, denunciar as articulações e manobras dos bastidores, a fim de conseguir que as eleições de 2006 sirvam para fazer que a vontade da maioria do povo prevaleça sobre a vontade daqueles que estão por detrás da jogada da "volta de JK…"
* Jeferson Barbosa da Silva é professor e coordenador nacional do Fórum Social dos Trabalhadores (FST).