Rodrigo Graça Aranha*
Recentemente, uma constelação de fatores se alinhou em prol de uma
reestruturação (ou revolução?) econômica, política e social no Rio de Janeiro. A
conquista da Copa do Mundo e das Olimpíadas inseriu, definitivamente, o Estado
no radar da mídia internacional. O pré-sal, mesmo com toda a polêmica que o
cerca, está majoritariamente no Rio. A discussão uníssona – e necessária – em
torno da distribuição dos royalties monopolizou a atenção da mídia e da classe
política, mas não dos investidores. Passa da centena o número de empresas e
consultorias internacionais com previsão de abertura nos dois próximos anos.
Tudo leva a crer que o apagão econômico passou, e que a cidade está resgatando o
direito de voltar a ser chamada de maravilhosa.
O mais interessante nesse novo processo é a distribuição geográfica da
riqueza e a geração de renda em regiões de baixo dinamismo econômico. Sem entrar
no mérito do modelo de exploração: partilha ou concessão, ou ainda, os critérios
de pagamento de royalties e participações especiais, o fato é que petróleo não
anda. O pré-sal é uma dádiva para o Rio, e a Petrobras e seus fornecedores já
operam há décadas na Bacia de Campos. Essa região dispõe de densa
infra-estrutura instalada, além de obras em fase avançada de construção, como
por exemplo, o superporto do Açú, um dos maiores investimentos da América do Sul
em terminais marítimos privados, com previsão de começar a operar em dois anos,
revolucionando a economia da região norte e noroeste do estado, referências de
economias com baixo valor econômico agregado.
Outro apadrinhamento importante que o Rio conquistou nos últimos anos é o
fato de o Grupo EBX estar sediado no Rio. Seu presidente Eike Batista, que se
tornou um titã do capitalismo mundial sendo apontado pela revista Forbes como o
oitavo homem mais rico do mundo, possui grande parte de seus investimentos no
Estado. De personalidade expansiva, Eike tem concedido patrocínio financeiro e
social a projetos com grande repercussão na mídia, nacional e internacional,
despertando o olhar dos grandes investidores institucionais internacionais para
a cidade.
Esse é um ponto que merece destaque, pois ainda que Eike seja um empresário
privado, com interesses privados, algumas iniciativas recentes traduziram muito
bem o potencial do Rio como caixa de ressonância, a exemplo da despoluição da
Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal da cidade, que estará concluída em 30
meses. Reforma do Hotel Glória, que teve entre seus hóspedes de JK a Luciano
Pavarotti, aquele que foi o primeiro hotel de luxo do país, promete voltar a
figurar na lista dos principais hotéis do mundo. Há poucos dias foi realizada no
Rio uma das etapas do Class-1, a Fórmula 1 dos mares. Como uma proposta
inovadora de turismo, podemos também citar o Pink Fleet, um navio extremamente
bem equipado que promove a um custo acessível passeios de classe mundial pela
Baía de Guanabara, o apoio financeiro ao projeto Rio 2016, que culminou na vinda
dos Jogos Olímpicos, entre outros projetos que reforçam a auto-estima do
carioca.
Contudo, nessa sinastria astral que vêm soprando visibilidade internacional
para a cidade, Madonna ocupa lugar de destaque, pois aonde ela vai, a mídia pop
mundial segue com atenção. Não foi diferente no último carnaval, quando sua
presença ofuscou as celebridades nacionais e trouxe consigo uma constelação de
astros internacionais do quilate de Paris Hilton e Gerard Butler. Eventos como
esse é que “constroem” rotas turísticas internacionais, criam credibilidade e
atraem investimentos, principalmente na área de infra-estrutura da cidade.
Por tudo isso, o Brasil não pode perder o ponto, já é passada a hora de
olharmos para o Rio de Janeiro com mais generosidade, com uma visão mais global.
É incalculável o valor de se ter uma cidade-mundial, uma cidade que figura entre
as Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno. Uma cidade que em um intervalo de
dois anos foi eleita para sediar os dois maiores eventos esportivos mundiais,
Copa do Mundo e Olimpíadas.
É unânime que a indústria automobilística foi o ícone econômico do século XX,
mas apesar disso ninguém nunca viu um filme de Hollywood em que associasse
Detroit ao American way of life. É evidente que os americanos, enquanto uma
nação de 300 milhões de pessoas, não vivem, em seu cotidiano, um estilo de vida
nova-iorquino, mas é na magia de NY e no glamour de L.A. que eles investem
bilhões de dólares, todos os anos, para ter sua imagem associada.
Sem partidarismos, é fato consumado que nos últimos 16 anos o Brasil pleiteou
e conquistou um papel na geopolítica mundial. Agora, podemos dar um salto ainda
maior, um salto quântico. Podemos abandonar, definitivamente, os ainda muito
presentes resquícios das Capitanias Hereditárias, dos loteamentos políticos, as
rivalidades regionais, e vamos transformar nossos regionalismos em ativos. O Rio
está entrando na moda, na moda mundial. Também queremos ter nossa Paris, nossa
Londres, nossa Barcelona, pós-olímpica. Nós queremos, nós podemos. Viva o Rio de
Janeiro!
*Analista político e consultor de Relações Institucionais do SESC e
SENAC Rio. Responsável pela área de Projetos Institucionais da OAB/RJ.
Conselheiro da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil – BritCham.
Ex-Conselheiro do Conselho Consultivo da Junta Comercial – JUCERJA, entre outras
autarquias. Email: rodrigo.aranha@oabrj.org.br
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