George W. Bush está esperneando, se debatendo e bufando de raiva. Depois de seis anos convivendo com um Congresso que dizia sempre “sim, senhor”, ele agora enfrenta a maioria democrata.
Acabou a época do cheque em branco, já avisaram os senadores e deputados democratas. O Legislativo americano é muito poderoso. O presidente depende do Congresso para poder governar ou declarar uma guerra, por exemplo.
E a coisa, que estava ruim, ficou péssima para o presidente norte-americano. Primeiro, foi a condenação do chefe de gabinete do vice Dick Cheney, Lewis Libby Scooter, por perjúrio, obstrução à Justiça e outras acusações. O promotor Patrick Fitzgerald declarou que uma nuvem negra ronda o gabinete da vice-presidência. A revista Time não perdeu tempo.
Para quem não se lembra, um resumo: o embaixador Joseph Wilson foi ao Níger, na África, em uma missão secreta da CIA, averiguar se Saddam Hussein estava comprando urânio enriquecido desse obscuro país. Isso foi em 2002. Wilson descobriu que nada disso era verdade. Fez um relatório e entregou para a Casa Branca. Em 2003, no discurso na abertura dos trabalhos do Congresso, Bush disse que Saddam havia comprado urânio de um país da África.
PublicidadeEm março de 2003, Bush se enfiou num labirinto chamado Iraque. De lá para cá, já foram consumidos mais de US$ 500 bilhões, mais de 3 mil soldados americanos foram mortos e centenas de milhares de iraquianos pagaram com a vida pela aventura de George W. Bush.
Em setembro de 2003, o embaixador Wilson escreveu um artigo no New York Times contando que a Casa Branca sabia que não era verdade o episódio do urânio enriquecido, mas que, mesmo assim, George Bush usou o argumento para enganar a nação. A discussão, semântica e jurídica, é se o presidente mentiu ou foi enganado pela CIA. O fato é que ele enganou a nação americana.
Para encerrar o assunto, Lewis Scooter vazou para a imprensa que a mulher do embaixador, Valerie Plame, era agente da CIA. Foi uma confusão dos diabos: revelar a identidade secreta de um agente da CIA é crime federal. Lewis pagou ou vai pagar o pato, mas vai sobrar para mais gente.
Bush já entregou a cabeça do ex-todo-poderoso Donald Rumsfeld, seu ex-secretário de Defesa. Pode ser que, para salvar a própria, ainda tenha que abrir mão do assessor Karl Rove, o “gênio do mal”. Num cenário ainda pior, Dick Cheney, o “faz-tudo” de Bush, perderia a cadeira. O presidente americano pode substituir o vice quando quiser.
Este é um país metade conservador, metade liberal. Os estados das costas leste e oeste são liberais, os outros são mais do que conservadores: exceções à parte, são mesmo atrasados!
Com o Congresso de maioria democrata, na Câmara e no Senado, o jogo é diferente. Os deputados e senadores foram eleitos pelo povo, e povo aqui conta. Todo mundo é classe média, tirando os 45 bilionários de Nova York. Ninguém agüenta mais ver a imagem dos soldados americanos voltando para casa num caixão. Os EUA estão de baixo astral, a auto-estima dos americanos está no chão, e 2008 – ano de novas eleições presidenciais – ainda demora a chegar.
Ao mesmo tempo, o país se acostumou aos “custos” da guerra. Bush está pedindo mais US$ 120 bilhões. O Congresso vai liberar o dinheiro, mas os soldados americanos têm de estar de volta no fim de 2008 e a retirada deverá começar em março do mesmo ano.
Bush chamou a manobra de teatro de política ou política teatral e já avisou que vai vetar o projeto. Os democratas responderam que Bush vai ser responsabilizado por cada centavo gasto no Iraque.
Em outra frente de batalha, o governo Bush tenta evitar o desfecho, ou pelo menos prolongar a sobrevida, do “advogado-geral da União”, Alberto Gonzáles, que, na prática, é o ministro da Justiça. Oito promotores federais foram destituídos pelo Departamento de Justiça – leia-se González. Tem até aposta na internet para ver quem acerta o dia e a hora em que González, marionete de Bush desde os tempos do Texas, será demitido ou pedirá para sair. O caso ganhou o nome Gonzo-Gate. Até mesmo importantes senadores republicanos estão detonando o fiel escudeiro do presidente.
Além disso, tanto a Câmara quanto o Senado intimaram Karl Rove e outros altos funcionários da Casa Branca para depor. O máximo que o presidente conseguiu é que eles deponham sem ter que fazer o juramento de falar a verdade (sic).
Bush não manda mais nada, o presidente tem pela frente dois difíceis anos. Em 2007, só se fala em seus possíveis sucessores: Hillary Clinton, Barack Obama, Al Gore (pelo lado democrata) e Rudy Giuliani (pelo lado republicano).
Bush enfiou o país numa enrascada, ninguém sabe o que fazer com a guerra do Iraque e muito menos o presidente americano. A guerra é uma mentira e uma catástrofe. Menos para alguns amigos da Casa Branca, que ganham muito dinheiro no Iraque.
É muito provável que a guerra seja um assunto para o próximo presidente americano. Se depender de George W. Bush, ele vai enrolar até dezembro de 2008, isto é, se ainda estiver sentado na cadeira mais poderosa do mundo.
O senador republicano Chuck Hagel, do mesmo partido do presidente, mandou um aviso ao senhor da guerra: se a Casa Branca continuar ignorando o Congresso, Bush pode ter que enfrentará um processo de impeachment. Esse tipo de jogo político, todo mundo sabe como começa, mas ninguém tem certeza como irá acabar.
Hagel, um contumaz crítico da guerra, está decidindo se concorrerá à indicação do Partido Republicano para a eleição presidencial do ano que vem.
Bush está cada dia mais isolado, e seu governo faz água por todos os lados. São escândalos e mais escândalos, denúncias de corrupção, desrespeito às leis e à Constituição, de incompetência e descaso… enfim, o atual governo não cheira bem. Esse presidente consegue desagradar a mais de 60% do povo americano. Em tempos de eleição, isso pode ser fatal. O impeachment que só era discutido nas ruas ganhou os corredores do Congresso. Afinal, paciência também tem limite.
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