Heitor Diniz*
Há muito que o meio ambiente está na pauta do dia de todo país que tenha um mínimo de visão de futuro, mais especificamente sobre o futuro que quer deixar para as gerações seguintes.
No Brasil, de inestimáveis recursos naturais, o tema é recorrente no noticiário nacional, sem que isso signifique necessariamente que tenhamos atingido a maturidade sobre a agenda do dia das questões ambientais, das maiores às menores.
Ao contrário, nosso espírito de vira-latas (como bem observava o gênio Nelson Rodrigues), aliado à nossa mentalidade ainda provinciana de bajulação às grandes potências, produzem, por exemplo, aberrações como a visita do diretor de cinema James Cameron, para meter a colher na questão da Usina de Belo Monte, como observa o articulista João Bosco Leal, em seu blog.
Fazendo uso de sua fama avatariana e titânica, Cameron atraiu microfones e holofotes (principalmente os nossos), alertando que conversará com congressistas americanos sobre as consequências para o meio ambiente da construção da usina, num típico “vou contar tudo para a minha mãe”, entende?
Soberanias e palpitarias internacionais e cinematográficas à parte, eu comentava ainda há pouco sobre a nossa falta da maturidade no trato com a questão ambiental. E, como quase tudo no Brasil, o buraco no meio ambiente também é mais embaixo. Muito mais embaixo. Diria que é estrutural. E, para piorar, o foco no meio ambiente por aqui ainda é atrapalhado por questões, digamos, prosaicas e elementares. Duvida?
Ora, não é por acaso que, bem durante a visita de Cameron, o grosso do funcionalismo público federal ligado ao tema esteja na efervescência de seus movimentos… paredistas.
Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Instituto Chico Mendes… Eis alguns dos órgãos que amargam a dureza de uma batalha que não é bem a verde. Brigam mesmo – e com razão – é por melhores condições de renda e trabalho. São acompanhados por servidores de outras carreiras federais, como o Ministério do Trabalho, Ministério da Ciência e Tecnologia, Secretaria de Patrimônio da União, Polícia Federal…
E o que será que diz o Lula, aos 40 do segundo tempo de seu mandato e do alto dos seus 80% (um “campeão de audiência” de fazer inveja até… a James Cameron)?
Achei aqui uma fala de Lula sobre o tema. Em discurso, ele alertava “a todos os governos estaduais, especialmente ao governo federal e ao governo do Distrito Federal, que tentem negociar os acordos coletivos com as categorias profissionais ligadas ao governo, antes que aconteça a greve. E para negociar não é difícil: é preciso que o governo tenha competência, tenha um orçamento transparente, que chame a associação dos funcionários que estão reivindicando e mostre a essas pessoas a verdade do orçamento e por que o governo está negando, coisa que nunca é feita em nenhum estado, em nenhum município neste país”.
Você deve estar se perguntando: ué, o que será que deu no Lula? Parece até outra pessoa!
Ah, sim. Essa inesperada lucidez crítica tem a sua razão de ser, e não é o fato de Lula já estar de saída e preparando suas eventuais críticas ao novo governo, caso não consiga eleger seu poste dilmocrático. Essa fala do Lula (e veja você que não é mentira minha) foi publicada em 1º de abril… de 1987, mais precisamente no Diário da Assembleia Nacional Constituinte.
Mas isso eram outros tempos. Quando o Lula era, de fato, outra pessoa.
*Heitor Diniz é jornalista de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Acompanhe-o em www.uai.com.br/cronicapolitica
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