Laerte Rimoli |
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O PSDB se animou, lançou José Serra em São Paulo e ensaia uma composição nacional com o PFL. Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves afirmou que a decisão do ex-ministro da Saúde estimula a entrada de tucanos ilustres na disputa. Ele se referia, no seu quintal, ao senador Eduardo Azeredo, potencial candidato à prefeitura de Belo Horizonte. E no Rio de Janeiro, só para ficarmos nos três maiores colégios eleitorais do país, o prefeito pefelista César Maia conseguiu abortar a candidatura da deputada Denise Frossard para compor com o PSDB de Marcelo Alencar. Tudo isso ocorre em um cenário de insatisfação, com o salário mínimo fixado por medida provisória em R$ 260,00 e pressão internacional devido à alta do barril do petróleo, que passou de US$ 27 para US$ 41. A primeira e imediata conseqüência é o aumento da gasolina, com tendência de alta geral de preços. Ainda estamos a cinco meses das eleições, mas as condições para que a oposição cresça estão postas. Publicidade
Estas variáveis não seriam tão dramáticas – do ponto de vista de quem detém o poder – se o país exibisse taxa razoável de crescimento e capacidade administrativa, o que não acontece. Pelo contrário. O desemprego assola o Brasil, com 13% na média nacional, e os exemplos de condução desastrada aparecem em vários setores. O mais recente deles, no “imbroglio” em que se meteu o núcleo duro do Planalto no constrangedor episódio da tentativa de expulsar do território nacional o jornalista Larry Rother, do New York Times. Publicidade
A forma atabalhoada com que foi tomada a medida extrema assustou quem defende princípios democráticos na América Latina. Cresceram insinuações de que o presidente Lula teria semelhanças com o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e com o ditador Fidel Castro, de Cuba. Tais dificuldades foram criadas sem que qualquer oposicionista precisasse participar. No caso das candidaturas, Serra se fortaleceu com os altos índices de rejeição da prefeita do PT, Marta Suplicy. E, mais ainda, com a confirmação, pela justiça, de que o eterno candidato do PP, Paulo Maluf, tem dinheiro de origem duvidosa em contas no exterior. Agora, os tucanos partem para cima do PFL e devem conseguir a adesão do pré-candidato do partido, deputado José Aristodemo Pinotti. Enquanto isso, a prefeita patina na chapa puro-sangue que montou tendo como vice seu fiel escudeiro Ruy Falcão. PublicidadeA situação é tão delicada na capital paulista que o presidente Lula, usando uma revista semanal, sugeriu que Marta volte atrás e faça uma aliança com o PMDB, de Orestes Quércia. O pretenso candidato do partido é o deputado Michel Temer. Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves migra da posição de adversário leal e palatável ao governo para a de peça-chave no reagrupamento do PSDB, meio disperso depois da derrota de Serra para a presidência da República. Aécio vinha sendo cortejado pelo Planalto. O presidente da República visitou-o no Palácio da Liberdade, prometeu obras, aceitou sua proposta de divisão de tributos federais com os estados, na esperança de vê-lo apoiando o atual prefeito da capital mineira, Fernando Pimentel. Hoje já não dá para apostar tanto nesta equação. Finalmente, no Rio, o prefeito César Maia, a bordo de confortáveis índices de popularidade – sempre próximos de 40% -, fez com que minguasse a anêmica candidatura do deputado petista Jorge Bittar. No coração político do governo, que em tese deveria ter coesão para fixar estratégias políticas, sobram insinuações de que o ministro José Dirceu solapa o trabalho de coordenação do ministro Aldo Rebelo. Como já dissemos, ainda há tempo. Mas nuvens negras indicam que outubro pode ser um mês ruim para a legítima pretensão do PT de se manter no poder. |