Antonio Vital
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Os acontecimentos dos últimos 30 dias permitem diagnosticar qual é o mal de que padece o governo. A doença chama-se dirceuzite e é uma curiosa dependência do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
A dirceuzite, em circunstâncias normais, é assintomática e só se manifesta mesmo quando o chefe da Casa Civil deixa de ser operacional, mesmo que momentaneamente. A ausência de José Dirceu das articulações com o Congresso e na tarefa de coordenar as diferentes áreas do governo provoca uma síndrome de abstinência caracterizada por trapalhadas no Senado, bravatas dos aliados, paralisação da pauta de votações, brigas internas, desarticulação, enfim, confusão generalizada. Publicidade
É preocupante constatar que o enfraquecimento de um ministro significa o enfraquecimento do governo todo. No período em que José Dirceu viveu seu inferno astral, com as insinuações, não comprovadas, de que ele poderia ter algo a ver com as atividades do subordinado Waldomiro Diniz, nem as piadas de Lula nos discursos improvisados tiveram graça. Nos últimos 30 dias, um espirro mais forte no Senado provocou a queda da bolsa, um tropeção no Palácio do Planalto fez o risco Brasil subir e uma freada mais brusca nas imediações do Ministério da Fazenda conseguiu segurar a taxa de juros na estratosfera. Publicidade
Tudo porque o primeiro-ministro não estava lá. Aliás, estava, mas mais preocupado em se defender, principalmente dos próprios companheiros de trabalho. O presidente Lula deveria se preocupar. A interpretação de que atingir Dirceu é atingir o coração do governo e seu maior pilar é sinal da fragilidade do Executivo e da pouca confiança que ainda inspiram os ex-sindicalistas e oposicionistas alçados ao poder. PublicidadeDirceu é considerado não só o homem forte, mas o grande articulador e administrador, mesmo que se saiba que não é bem assim. Ele não tem poder sobre o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, nem sobre o Banco Central de Henrique Meireles – os outros dois vértices desse triângulo que protege a administração Lula. Também não manda em Luiz Gushiken, o amigão do presidente que cuida da imagem do governo. Até sobre Lula sua influência é relativa, ainda que considerável. Então, por que seria o fim do mundo substituí-lo, como os últimos acontecimentos parecem dar a entender? Desde que a revista Época divulgou a gravação em que o ex-assessor de Dirceu pedia propina a um bicheiro, o chefe da Casa Civil passou de avalista a avalizado. Antes, ele podia chegar para o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) e dizer: "Me dê os votos da sua bancada que eu lhe dou o ministério tal" – e seria atendido porque havia a confiança de que ele tinha força suficiente para cumprir o prometido. Agora, não. Na verdade, o que se pode concluir de todo o episódio é de que a desconfiança em relação ao governo do PT e ao próprio Lula, tão explorada nas eleições, está latente e basta atingir o lado pragmático e menos "porra-louca" do partido para provocar um salve-se-quem-puder na esplanada dos ministérios. Afinal, quem poderia substituir José Dirceu com o mesmo grau de desenvoltura? É a segunda pergunta desse artigo. |
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