Antônio Augusto de Queiroz*
As eleições gerais de outubro se darão num ambiente de grande decepção do eleitorado, tanto com os supostos desmandos do governo quanto com o Congresso.
No pleito, estarão em disputa a Presidência da República, os governos estaduais, toda a composição da Câmara dos Deputados, um terço do Senado e as vagas das assembléias legislativas de todo o país.
Os eleitores irão às urnas sem grande entusiasmo: não estão satisfeitos com o governo do presidente Lula nem sentem saudade do governo do PSDB.
Apesar da ausência de entusiasmo e a julgar pelos primeiros movimentos dos principais contendores (PT versus PSDB), as eleições serão das mais disputadas e talvez das mais violentas da história do Brasil, com uma baixaria jamais vista.
Analisemos rapidamente os principais candidatos. Seus trunfos e suas vulnerabilidades, começando pelo candidato do PT.
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva se elegeu presidente da República em 2002 com três eixos de campanha: a) renovação ética, b) inclusão social, e c) estabilidade econômica.
PublicidadeAlém dos programas sociais, os três pilares de sustentação da gestão Lula eram: moralidade, apoio no Congresso e estabilidade econômica.
Ao longo do mandato, com exceção da estabilidade e do programa social Bolsa Família, os demais pilares vêm desmoronando perante a opinião pública.
Na economia, o governo do presidente Lula teve muita sorte. Ao contrário de FHC, que enfrentou as crises da Ásia, da Rússia, do México e da Argentina, seu governo navega em céu de brigadeiro, sem nenhuma crise externa que afete a economia nacional.
É a sorte que poderá salvar a reeleição. É que na história dos países são raros os momentos em que a economia não se apresenta como o fator determinante da eleição.
Portanto, além do carisma pessoal do presidente, sua campanha contará com a estabilidade econômica.
Além desse aspecto, há que se considerar que o presidente Lula contará com as seguintes vantagens:
1) É candidato à sua própria sucessão;
2) Goza de forte carisma pessoal;
3) Disputará no exercício do mandato;
4) Será beneficiado pela ausência de candidaturas de centro (o PMDB, por força da verticalização, tende a não lançar candidato);
5) Dará perfil técnico à campanha, mostrando as realizações econômicas e sociais do governo, comparando-as às do governo anterior, e evitando temas ético-morais;
6) Terá o apoio quase incondicional dos beneficiários do Bolsa-Família;
7) Não foi pessoalmente atingido pela crise ética de seu partido e de parcela do governo que lidera (conseguiu separar o governo de sua pessoa).
As desvantagens de Lula na tentativa de reeleição são:
1) Entra na disputa vulnerável do ponto de vista ético-moral, com seus principais auxiliares fora do governo por denúncia de corrupção: José Dirceu e Antonio Palocci; além da queda da ex-cúpula do partido: José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira;
2) Terá uma aliança restrita, por força da verticalização e da cláusula de barreira. Contará com o PCdoB e talvez o PSB.
3) Não contará mais com a virtual unanimidade dos servidores públicos, dos trabalhadores do setor privado e dos aposentados e pensionistas;
4) Será atacado pela oposição quanto às baixas condições de governabilidade, por absoluta falta de apoio no Congresso, caso Lula seja reeleito.
O candidato do PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin, elegeu como motes de campanha o que considera vulnerável no governo Lula e no PT: a) coerência política; b) competência administrativa, e c) honestidade.
A campanha tucana, além de mostrar as realizações de Alckmin no governo de São Paulo e prometer redução de impostos, vai explorar as contradições do PT e do governo Lula na economia, na política e na gestão do Estado, bem como denunciar o aumento do gasto público e da corrupção.
Nesse cenário, as supostas vantagens da candidatura de Geraldo Alckmin são:
1) A experiência administrativa, com 12 anos no governo de São Paulo;
2) A desvinculação política em relação ao grupo de FHC, já que pertencia ao grupo político de Mário Covas, crítico da política econômica do governo tucano;
3) Provavelmente, reunirá em torno de seu nome uma grande aliança de partidos, com palanques fortes nas principais unidades da federação (SP, MG e, possivelmente, RJ);
4) O apoio, praticamente certo, do setor produtivo e do mercado financeiro;
5) Amplo domínio sobre os problemas nacionais, a serem apresentados aos eleitores de forma técnico-didática.
6) Sua postura de homem simples, tranqüilo e religioso;
7) A ainda baixa rejeição e a baixa vulnerabilidade pessoal do ponto de vista ético.
As desvantagens ou vulnerabilidades do candidato Geraldo Alckmin:
1) Ausência de carisma pessoal (é tido como insosso, a ponto de o terem apelidado de picolé de chuchu);
2) É visto como defensor das privatizações, favorável à flexibilização de direitos trabalhistas e previdenciários, além de pretender reduzir gastos sociais do governo;
3) Já é alvo de denúncias, como o favorecimento aos parlamentares de sua base em São Paulo por meio do uso de publicidade da Nossa Caixa e os presentes recebidos por sua esposa;
4) Entra na disputa com índice de intenção de voto relativamente baixo;
5) É desconhecida sua capacidade de resistência a escândalos.
*Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e Diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
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