Faustino Vicente *
“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?” Esses versos são frutos do talento e da sensibilidade de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), inesquecível poeta brasileiro, nascido na cidade mineira de Itabira do Mato Dentro. E agora, José? Essa é a indagação que cada um de nós deve fazer, a si próprio, para transformar as saudações do ano que ainda nasce em realidade. Devemos desenvolver planos de ação para concretizar nossas metas, desejos e nossos sonhos. As manifestações de amizade, carinho e responsabilidade social que semeamos, nas festas de final de ano, são compromissos que assumimos. Os desafios permanecem aí, à espera de nossa ousadia, criatividade, determinação e respeito ao ser humano e ao meio ambiente.
Com o verão ainda dando as boas vindas a 2006, a incorrigível alegria do povo brasileiro apresenta-se como anfitriã perfeita do fomento de um dos mais promissores segmentos da economia mundial – o turismo – fonte de divisas e de geração de empregos. Entre as alternativas da indústria de entretenimento, a nossa reflexão vai para o ecoturismo – polinização da cultura ambiental. O aumento da rentabilidade das pequenas propriedades rurais é fruto do valor agregado em atividades complementares. Do cafezal ao cafezinho, do trigal ao desjejum colonial ou das vinhas aos vinhos, descortina-se uma paisagem sedutora aos que cultivam o estressante estilo de vida urbano.
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Cidades que produzem uva e vinho colhem o privilégio de tornarem-se autênticas grifes mundiais pela qualificação do sabor, aroma, cor e valor de seus produtos. Noé, o da Arca, é citado em Gênesis (9, 20) sobre a uva, e, no mesmo livro, (9, 21) sobre o vinho. Além dessas citações, há muitas outras destacando esses produtos na Bíblia e, naturalmente, em outros livros que relatam a milenar caminhada da humanidade. Relíquias históricas provam que o trigo e a videira são cultivados desde tempos imemoráveis. Não foi por acaso que o pão e o vinho foram escolhidos por Jesus Cristo (Ceia do Senhor) como símbolos vivos da sua missão divina aqui na terra.
O solo, o clima e o manejo revestem a uva e, por conseqüência, o vinho, de uma nobreza laboral, social, cultural e até religiosa, capaz de abrir excelentes oportunidades comerciais. Os imigrantes italianos trouxeram para o nosso país a experiência do plantio da uva, do processo da fabricação do vinho e de tantos outros derivados enriquecidos de tradições, usos e costumes, ainda hoje preservados por famílias que vivem no campo.
Lembranças da pátria distante, comida caseira, música típica, exposição, artesanato, contato com a flora e a fauna e atividades recreativas podem retratar um cenário de encantamento aos turistas. Com extensão continental, o Brasil pode fazer do agronegócio, das suas belezas naturais, da magia do seu futebol, da maior ópera de rua do planeta – o carnaval brasileiro – e da singular hospitalidade de seu povo, uma fantástica “cruzada de marketing” capaz de incrementar o turismo e alavancar as exportações. Lembrete: vamos explorar o turismo, não os turistas.
O acirramento da concorrência globalizada e o maior grau de exigência de clientes e consumidores motivaram as empresas a consolidar políticas estratégicas de melhoria contínua de seus processos operacionais e de capacitação de seus recursos humanos. Como hoje o indispensável diploma universitário tem se mostrado insuficiente para um bela carreira sustentável, temos que, sistematicamente, agregar competências técnicas, aprimorar habilidades de relações interpessoais e preservar a conduta ética – diferenças que fazem a diferença – no disputadíssimo mercado de trabalho. Concluímos que a safra mais famosa de empreendedores é reconhecida pela “beleza de ser um eterno aprendiz”.
* Faustino Vicente é consultor de empresas em Jundiaí (SP).
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