Marcos Magalhães*
Elas circulam pelas ruas de Bombain e pelos escritórios de Xangai. Infiltram-se em diversos países como pontas-de-lança de uma cultura tão distante de seu dia-a-dia quanto próxima nas poucas semanas em que o futebol pára o mundo, de quatro em quatro anos. As camisas amarelas espalhadas pelo planeta mostram que a criatividade atrai simpatia. E a criatividade promete ser um dos grandes motores da geração de riqueza neste início do século 21.
Em entrevista à revista Veja, o historiador inglês Paul Johnson dá a senha: só a criatividade, diz ele, pode garantir o progresso. Criatividade no sentido mais amplo, das artes plásticas à inovação tecnológica, da literatura à política, da música aos esportes – ou aos dribles do Ronaldinho. Criatividade mesclada com inovação. As caixinhas do iPod lembram que os aparelhinhos mais queridos do mundo são criados na Califórnia (e montados na China).
Para os entusiastas com o crescimento chinês, Johnson dá um balde de água fria. Na China, afirma o historiador, o sucesso atual estaria ligado a fábricas ultrapassadas que lançam produtos baratos para exportação. Fábricas que usam à vontade a aparentemente inesgotável mão-de-obra barata chinesa, para a qual uma economia regida pela CLT estaria próxima do paraíso.
A Índia, a outra grande estrela do momento entre os chamados países emergentes, também não escapa do olho crítico do historiador inglês. O sucesso indiano, para ele, baseia-se em um bem-sucedido comércio internacional de comunicação por meio de call centers. "Se a China e a Índia não produzirem novas idéias", diz um cáustico Johnson, "vão estagnar, como o Japão".
O Brasil está geralmente associado a esses dois países, além da Rússia, quando se fala – no meio acadêmico – em novas potências econômicas do século que começa. Mas os BRICs, sigla inventada por uma empresa norte-americana de consultoria, andam meio desequilibrados. Enquanto a Rússia ainda constrói uma nova economia pós-soviética, Índia e China são tema de matérias de capa de revistas em todo o mundo. E o Brasil, bem, o Brasil é sempre lembrado com muita simpatia a cada quatro anos.
Potencial, o país tem para deslanchar em um ambiente econômico marcado pela inovação. Há muito mais liberdade no Brasil do que na China. Há muito menos formalismo no Brasil do que na Índia. Há enormes fronteiras da criatividade a explorar, da música aos esportes, do projeto de novos aviões ao aperfeiçoamento dos carros flex fuel, da tropicalização da pesquisa científica à criação de fármacos e cosméticos baseados na flora da Amazônia ou do cerrado.
PublicidadeFalta um projeto para levar adiante essa vocação. A China pode não ser muito livre ou criativa, mas despeja centenas de milhares de novos engenheiros no mercado todos os anos. A Índia sofre com uma precária infra-estrutura, mas formou uma elite técnica capaz de produzir laudos médicos para pacientes que vão de madrugada aos hospitais nos Estados Unidos, a diversos fusos horários de distância.
Se a elite brasileira espichar um olhar estratégico em direção ao futuro, apostará em gente. Investirá em uma educação ampla e pluralista, que ajude a liberar o potencial criativo de um povo que ainda inova pelas margens, quando tem oportunidade. A discussão sobre o futuro do país tem que ir além do câmbio e dos juros. Precisa ter também como alvo a busca de novas oportunidades em todo o mundo. Só assim vários outros produtos brasileiros poderão seguir o caminho das camisas amarelas pelas ruas de Bombain, Shanghai e outros grandes centros espalhados pelo planeta.
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