Sandra Takata*
Especialistas políticos estão reticentes em relação à arrecadação pela internet de pessoas físicas para os candidatos, permitida durante estas eleições. Dizem que a falta de confiança na política brasileira não dará frutos para este novo sistema. Já na cabeça da população deve vir a ideia de que “laranjas” doarão e que tudo terminará em pizza. No entanto, inicia-se aqui um divisor de águas nos hábitos eleitorais dos brasileiros. A construção de um maior engajamento político começa agora. Talvez plantado para as futuras gerações que já estão acostumadas em navegar na internet e se expor nas redes sociais, respondendo às perguntas mais cabeludas no Formspring, e mantendo a frase “minha vida é um livro aberto” mais atual que nunca. Mas uma nova fase inicia-se agora. É um caminho sem volta.
A internet traz inúmeras mudanças e talvez uma moralização na política brasileira. Nos bastidores, marqueteiros políticos começam a sentir que suas verbas de campanha estão reduzidas este ano. Isto porque muitas empresas, que antigamente não precisavam se identificar como doadoras, não querem agora aparecer e ter seu nome ligado a partido ou a candidatos, e configurar em sites com o da ONG Transparência Brasil empenhada em combater a corrupção em terreno verde-amarelo.
E é aí que está o X da questão. Os sites, as redes sociais, são armas importantíssimas para fazer com que a honestidade e transparência se tornem uma obrigação no meio político. É esta transparência, ao qual os jovens estão tão acostumados na internet, que guiará as campanhas daqui pra frente.
Os que optaram por fazer a arrecadação pelo site por meio de doações de pessoas físicas terão de obedecer regras muito rígidas do Tribunal Superior Eleitoral, pois se houver alguma irregularidade na hora da prestação destas contas, o candidato corre o risco de ter sua posse impugnada ou nem participar de futuras eleições. Mas os que forem ousados em apostar nesta nova ferramenta, cumprindo claramente as suas propostas, terão armas poderosas de fidelização de eleitores. Afinal, quem tira o dinheiro do bolso para apostar num político é porque acredita muito em seus projetos.
Muda-se o relacionamento do candidato com o eleitor. O doador se torna um cliente que comprou um produto e quer testá-lo. E, se não aprovar, pode ter certeza de que ele não pensará duas vezes para criar blogs, postar em seu You Tube, Facebook ou Twitter que sua escolha não foi bem feita. Hoje, jovens já bloqueiam candidatos que tentam fazer aproximações sem nenhum propósito nas redes sociais.
Portanto, políticos ainda podem driblar as pessoas que ainda não têm acesso à internet atualmente (infelizmente mais de 60% da população brasileira) e não conseguem obter tanta informação. Mas não por muito tempo. Pois, se dizem que o brasileiro não tem memória, isso não será mais o problema, pois na internet nada se apaga.
*Diretora de Atendimento e Mídia Digital da Versátil Comunicação Estratégica
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