Márcia Denser*
Chico de Oliveira declarou ao Estadão (8/8/2009): “Não gosto dessa idéia de sistema unicameral. O Senado representa a Federação; estar ocupado por figuras deletérias não justifica sua extinção. Para mim isso é idéia de paulistas.”
Esplêndido, Chico, aliás, hoje o pior do Brasil sai de Sampa: caretice for Export! Mas pra consumo interno. Quem for trouxa, que engula.
E não me façam essa cara: ninguém AMOU mais isto aqui do que eu, porra, que cá estou há quatro gerações, que já louvei Sampa em prosa e verso nesses trinta anos de carreira literária, que me identifiquei com a sua maldição, porque era a minha alma e minha palma, meu Shangri-lá, minha cidade eterna, meu royal street frash, meu direito de cidadania, meu selo pessoal e intransferível, minha assinatura e minha sentença de morte, minha sepultura, minha lápide, minha cruz. Eu amo minha cidade, percebem? Incondicional mas não acriticamente.
Hoje encaro Sampa como o outro lado dum Armistício, um lixo a céu aberto, metafórica e literalmente, um Eldorado da Caretice, uma terra de ninguém (no man’s land) que preferencialmente privilegia a boçalidade, a breguice, o amadorismo, o infantilismo, a puerilidade, a gratuidade, a superficialidade, a fatuidade, a irrelevância, a inconsistência, a incoerência, a inexperiência (o Estado, institucionalmente, se tornou um Imenso Jardim da Infância, Brincando de Casinha com a grana do contribuinte. Que ainda acha bom e pede bis), a pobreza alagoana de Ivete Sangalo, Faustão, as revistas Piauí e Cult, todos os malditos fast-foods, todas essas livrarias onde não se pode fumar porque lançar um livro tornou-se apenas uma operação comercial (ou seja privada), não mais uma festa, uma celebração, enfim, um acontecimento, simultaneamente aplaudido & vaiado, enfim, polemizado (posto que público).
Porque agora tudo o que se lança, expõe, ganha prêmio, ocorre em bienais, simpósios, jornadas, festivais, são “desacontecimentos”, elementos que são a cara duma falsa “elite” emergente, ignorante, perversa, canalha, covarde, apoteoticamente careta. Inexistente. Claro. “Desacontecimentos” se destinam a “despessoas”. É elementar.
Voltando à política: nos sete anos de governo Lula, o PSDB paulista abraçou um projeto de poder descaradamente autoritário. Um modelo que só tem espaço para crescer pelo negativo, seja praticando uma “oposição” hipócrita, farisaica e pseudomoralista, insuflando e difundindo o medo generalizado entre a população, através do PIG way of life, que cobre praticamente qualquer assunto. Qualquer um MESMO.
Porque o que interessa é colocar o tema sob O PONTO DE VISTA DELES – fascista, filha-da-puta, alienado, elitista – fazendo-o passar por INFORMAÇÃO, ergo VERDADE e FATO INCONTESTÁVEL. Salvo consumo de luxo, atitudes politicamente corretas, Condomínios Alto Padrão, a Qualidade de Vida nos Jardins, as Elites Colunáveis, enfim, Tudo O Que Pinta Na Veja São Paulo (leia e se hor-ro-ri-ze, salvo se for totalmente pirado).
Uma vastíssima pauta que sempre prega a negação, sempre prevê horrores, incluindo epidemias diversas, reais e fictícias, violência, antilulismo, antipetismo, antiestado, antimovimentos sociais, antigrevismo, donde a militarização das universidades, donde a coerção onipresente e as consequentes restrições às liberdades civis, mirando especialmente as classes médias e pequena burguesia – até porque a guerra declarada do tucanato paulista é “contra os civis” – todos eles – sobretudo as classes ditas honestas, a fina flor da nossa sociedade civil – conformista, covarde, omissa, suicidária, previamente derrotada, chantageada dia e noite, traindo deus e todo mundo, traída, vendida.
Vencida.
Se hoje deixam que lhes enfiem a mão no bolso, amanhã agradecerão por lhes tirarem as calças. (Afinal, quem você pensa que sai GANHANDO, cara pálida?)
Mas vamos encarar a coisa dum outro prisma: naturalmente que a polícia estadual, mal-paga e mal-treinada, atende prontamente ao Governador quando se trata de descer o cacete em estudante e funcionário do USP em geral, trabalhadores, manifestantes e grevistas em particular e sem-terra no íntimo, do que enfrentar a metaleira pesada da bandidagem, que se aquartela em seu território, que se defende nas fronteiras do governo paralelo, que está blindada, que está armada até os dentes e, pra seu governo, mija nessa porra de lei antifumo.
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