Marcelo Caixeta*
Entre os inúmeros erros que já cometi em meus artigos, está o de pensar que Goiás deveria ser um centro tecnológico-científico (já pensei, em meus devaneios, até em Goiás como um pólo de informática). Para isso, teria de se mudar quase tudo por aqui. A Universidade Federal de Goiás (UFG), por exemplo, em vez de abrir cursos de “cuspe e giz” (dão menos trabalho) como os que vem abrindo na área de humanas (uma área já superpovoada), deveria abrir cursos de tecnologia, engenharia química, engenharia de hardware, eletrônica, mecânica, etc (isso não se faz porque dá muito trabalho e o sistema público não tem gerenciamento capaz de coisas tão complexas, e, além disso, como hoje são as mulheres que dominam a vida universitária, elas preferem os cursos “femininos” da área de humanas e tendem a relegar os cursos “machistas” da área de exatas e tecnologia).
Mas um dia, na Feira da Marreta, o pólo tecnológico de Goiás, tive um estalo. Vi que estava errado. Lá, arrumei meu computador 486 gastando só R$ 20 (comprei e instalei lá mesmo uma placa Pentium). Aí, pensei: “gente, que dia que faremos uma placa desta por R$ 20”. Os tailandeses e indianos já fazem isso por R$ 5. Se nós não conseguimos nem mesmo fazer uma tomada, que dia conseguiremos fazer uma placa de computador? E ainda mais por R$ 5? E não adianta fazer reserva de mercado, lutar contra pirataria, pois sempre o que é mais barato acaba vencendo.
Então o que temos para fazer, pegar a enxada e ir roçar o pasto? Não é por aí. Poderíamos desenvolver coisas, tecnologias, ciência, que só nós temos, em Goiás e no Brasil. Por exemplo, energia solar, energia botânica (álcool, biodiesel), mecânicas e eletrônicas adequadas a essas formas energéticas (sol e terra nós temos demais). E, além do mais, pra que produzir computadores de última geração se a maioria da população não sabe utilizar nem máquina de escrever? Se, entre os que sabem usar um computador, a maioria precisa só de um processador de texto como aquele do primitivo DOS.
Como eu preciso só de processador de texto, sou só um datilógrafo, compro coisas na marreta, não preciso de um caríssimo computador multimídia da IBM, Apple, Compaq. Sou pobre, sou brasileiro. É só disso que preciso. Não vou cair na ilusão de ter de precisar de modem, CD, internet, etc.
Com livro comprado em sebo e computador comprado na "Marreta", resolvo minha vida (e assim poderia ser para a maioria da população). O que não dá é para ficar como hoje: uns não sabem usar nem o lápis (60 % da população) e outros têm computadores atualizadíssimos, comprados em shoppings centers (5% da população que podem gastar R$ 4 mil numa brincadeira dessas).
Tecnologia sim, mas tecnologia do cerrado, para atender a globalização. O resto os outros já fazem muito melhor do que nós.
Publicidade* Marcelo Caixeta é psiquiatra e pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG).
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