Partindo da sociologia, Pierre Bourdieu[1], de forma análoga a Hanna Arendt, estuda a desigualdade sexual como uma das tantas formas de dominação social. Ele considera que a dominação masculina se apóia num sistema de oposições que “naturaliza” as diferenças biológicas construídas culturalmente.
Com uma consciência crítica moldada segundo os padrões da Escola de Frankfurt, Bourdieu não escreve apenas para ampliar o conhecimento, mas, sobretudo, para pragmatizar a teoria, isto é, a finalidade de seu ensaio é obter instrumentos e meios destinados a romper com o modo de ser das instituições sociais, que é arbitrário e dominador tanto para as mulheres quanto para os homens.
Socialmente, os atos do conhecimento são atos de reconhecimento ou de submissão: educa-se cada um para ser um dominador ou um dominado, conforme seja mulher ou homem. A socialização impõe limites corporais às mulheres: certas formas de movimentar-se, comportar-se, vestir-se (com a finalidade de limitar seus movimentos). As ferramentas dessa dominação exercida pelos homens e pelas instituições constituem a violência simbólica (publicidade, cosméticos, moda etc.).
Bourdieu fala da lógica da maldição, porque a mulher não pode subverter essa ordem na medida em que reproduz esquemas de dominação. No caso de usar armas, são armas de dominada, que a condenam a reforçar o estereótipo: histérica ou sedutora. Tomando tais relações como naturais, elas se autodepreciam. E a inferioridade da mulher é a assimetria fundamental do sujeito-objeto, que mediante o matrimônio – dispositivo central – constitui o fundamento de toda ordem social.
A divisão sexual se inscreve nas divisões das atividades produtivas, oficiais, públicas e de representação. A priori, as mulheres estão excluídas dos jogos sérios de poder que se desenvolvem nos lugares públicos, posto que reduzidas à própria feminilidade vista como incompatível para estar no espaço público.
Ressaltando o corpo com roupas, ornamentos, cosméticos, as mulheres são reduzidas a objetos, enquanto o homem o oculta para aparecer socialmente. Ele diz literalmente que a mulher existe para ser vista pelos outros (homens), isto é, como objeto do olhar. Nesse ponto, ambos são vítimas: os homens, na medida em que se impõem a meta duma virilidade a qualquer preço; e as mulheres, que, na condição de esposas e mães, também são os melhores instrumentos para a reprodução da dominação simbólica.
Aqui, o autor recomenda uma análise das instituições, a começar pela família, que detém o papel principal na reprodução da dominação, seguida pela igreja, que mantém a idéia da inferioridade natural da mulher; pela escola, que transmite os pressupostos da representação patriarcal, mas que, graças às suas contradições, pode gerar a mudança das relações entre os sexos; finalmente o Estado, que incrementa o patriarcado privado com o público.
Mas a mudança fundamental, aponta Bourdieu, se deve ao imenso trabalho crítico do movimento feminista, que surge na segunda metade do século XX, conquanto reprimido, satanizado e/ou degradado pelo neo-conservadorismo de corte anglo-saxão vigente a partir da década de 80.
Para ler mais sobre o assunto, clique aqui.
Deixe um comentário