O deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ) subiu à tribuna da Câmara para se defender das acusações de que recebia propina do contraventor Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro sob acusação de liderar organização criminosa, com participação de agentes públicos e privados, e pivô de comissão de inquérito em curso no Congresso. Diante de menos de dez deputados na esvaziada sessão plenária desta quinta-feira (17), Stepan recorreu à poética como contraponto à mazela política e se emocionou ao ler o poema “Se”, do escritor indiano de origem britânica Rudyard Kipling.
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“Se és capaz de manter tua calma, quando todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa; de crer em ti quando estão todos duvidando […] Se és capaz de entre a plebe não te corromperes e, entre reis, não perder a naturalidade; e de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, se a todos podes ser de alguma utilidade; […] Tu és a Terra com tudo o que existe no mundo, e – o que ainda é muito mais – és um homem, meu filho”, recitou o deputado, que admitiu ter recebido de Cachoeira empréstimo de R$ 160 mil, para a compra de um apartamento, e um convite de R$ 19 mil para camarote no sambódromo do Rio de Janeiro.
Alegando ser apenas amigo de Cachoeira “há 20 anos”, o deputado de primeiro mandato contesta informações recentemente veiculadas em 26 de abril pelo jornal O Estado de S. Paulo, segundo as quais um grampo autorizado da Polícia Federal o cita como beneficiário de propina paga pelo contraventor. Segundo a reportagem, capítulo de relatório da PF intitulado “Transações financeiras”, referente a escuta telefônica registrada em 17 de junho de 2011, demonstra que Stepan pergunta ao deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) se ele havia entregado a Cachoeira “carta que ele [Stepan] mandou”. “Falam de dinheiro que Stepan pediu a Cachoeira”, descreve a PF, segundo a reportagem do Estadão.
Ao descer da tribuna, o deputado falou rapidamente à imprensa e indagou: “Eu gostaria de saber de onde veio esta história de propina. Propina é um negócio combinado, é dinheiro de fonte constante”, declarou Stepan, ex-ator da Rede Globo.
Além de Stepan e Leréia, a chamada CPI do Cachoeira, em funcionamento desde 25 de abril, investiga a participação de diversos outros políticos (deputados, senadores, governadores, vereadores) com a organização criminosa de Cachoeira, baseada em Goiás e com a exploração do jogo ilegal e fraudes em licitações como atividades principais. Estão entre os suspeitos o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e os governadores Marconi Perillo (Goiás), Agnelo Queiroz (Distrito Federal) e Sérgio Cabral (Rio de Janeiro) – embora um acerto costurado entre governo e oposição, como o jornal Folha de S.Paulo revelou na edição de hoje (quinta, 17), tenha o objetivo de esvaziar as investigações sobre os gestores estaduais.
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