“O Brasil está cobrando que o governo funcione. Reclama que o governo está mal escalado, jogando para trás. O governo, como está, parece a seleção de Dunga. Nós queremos a seleção de Tite para dar a orientação”, fustigou Renan, que na semana passada já havia encabeçado a lista de senadores do PMDB que se posicionaram – em vão – contrariamente à sanção do projeto de lei que regulamenta a terceirização do trabalho no Brasil. Além das recentes declarações contra o governo, a postura de Renan contra a sanção contrariou o Planalto e irritou Temer.
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Depois da comparação ao malfadado time conduzido por Dunga, que chegou a lançar dúvidas sobre a classificação do Brasil para a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, Renan foi perguntado qual seria a solução para mudar o cenário – trocar o técnico ou alterar a escalação dos comandados?, quiseram saber os repórteres. “Aproveitar melhor os que estão aí”, esquivou-se o senador. Dizendo-se descontente com as medidas de ajuste fiscal de Temer, o senador disse ainda que o impeachment da presidente Dilma Rousseff não foi executado para, em seguida, o Brasil continuar mergulhado em recessão econômica, crise política, desemprego em alta e sob ameaça de aumento de imposto.
Mais cedo, momentos antes de participar de um jantar na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para senadores da bancada, Renan foi perguntado se seu comportamento hostil ao governo mira as eleições de 2018. Segundo essa tese, Renan está ameaçado de não se reeleger como senador por Alagoas, diante da alta popularidade de Lula no Nordeste. Assim, o caminho a seguir seria alinhar o discurso com o líder petista, hoje em campo oposto ao de Temer depois do impeachment de Dilma Rousseff. O próprio filho de Renan – Renan Filho, governador de Alagoas – estaria ameaçado de não se reeleger.
“Só porque há uma convergência de discurso [com o ex-presidente]? Será que o presidente Temer acha que meu discurso está dessintonizado [sic] com o dele? Eu não sei, ele não me falou. Eu não tenho qualquer preocupação com a eleição de 2018, o que me preocupa é o rumo do governo. Está na hora de ouvir. Com o governo de Eduardo Cunha eu já rompi. Vamos aguardar o próximo”, declarou.
Mas parece que Temer é quem não o ouvirá, ao menos por enquanto. Segundo a repórter Andréia Sadi, da Globonews, o presidente desmarcou um café da manhã que ambos dividiram para discutir os próximos passos do governo. De acordo com a jornalista, foram justamente as críticas de Renan que levaram ao cancelamento do encontro. Cabe lembrar que Renan chegou a dizer que o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condenado há 15 anos de prisão por Sérgio Moro, manda no governo de dentro da prisão.
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O Planalto, como tem feito, já avisou que não comentará as declarações de Renan. Há cerca de dois anos, as rusgas entre Renan e Temer, ainda vice de Dilma Rousseff, já ganhavam o noticiário. Em uma dessas ocasiões, Renan criticou o colega de partido pela distribuição de cargos de segundo escalão – tarefa àquela época conferida a Temer, que acumulava a função de articulador político – e disse que o PMDB não poder repetir aquilo que “o PT tem de pior”, que é o “aparelhamento de Estado”. Temer respondeu em carta, sem citar Renan nominalmente. E nem precisou, uma vez que até sua assessoria admitiu que a nota é “autoexplicativa”.
“Não usarei meu cargo para agredir autoridades de outros Poderes. Respeito institucional é a essência da atividade política, assim como a ética, a moral e a lisura. Não estimularei um debate que só pode desarmonizar as instituições e os setores sociais. O País precisa, neste momento histórico, de políticos à altura dos desafios que hão de ser enfrentados”, escreveu Temer.
Máquina
Para efeitos de comparação, Tite assumiu a seleção brasileira de futebol em 14 de junho. Na época, o time comandado por Dunga tinha apenas nove pontos na tabela de classificação das eliminatórias da América do Sul, em sexto lugar, e antes já havia sofrido a desclassificação, ainda na primeira rodada, da Copa América de 2016. Hoje, o escrete canarinho tem 33 pontos e, em primeiro lugar, já está classificado por antecipação para o campeonato mundial.
Dunga foi o técnico do Brasil entre a 1ª e a 6ª rodada das eliminatórias. Comparando-se com o mesmo número de partidas sob o comando de Tite (7ª à 12ª rodada), tem-se a seguinte realidade: nove pontos em 18 possíveis com Dunga, 24 pontos em seis jogos com Tite naquele período (100% de aproveitamento). Hoje, com o clima mais leve do que nas épocas de Dunga (constantemente em atrito com a imprensa), a seleção aumentou o número de gols feitos, diminuiu a quantidade de gols sofridos e tem dado espetáculo sob o comando de Neymar – com direito a vitórias expressivas sobre a Argentina (3 x 0) e Uruguai. Em 23 de março, jogando fora de casa, o Brasil goleou os uruguaios por 4 x 1.
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