Júlio Delgado *
Meu gosto pela política vem de longe. Com nove anos de idade, eu já seguia o trabalho do meu pai, o deputado Tarcísio Delgado, e o acompanhava em andanças pela Câmara dos Deputados, observando tudo com fascínio. Hoje, embora goste muito da advocacia, sinto que a política é um caminho sem volta, uma luta diária que exige – assim entendo – vocação, paixão, espírito público e profissionalismo.
Reconheço que, atualmente, boa parte da sociedade tem uma visão negativa do Legislativo. Ele é visto como um poder subalterno, que vive a reboque dos demais, sempre disposto a negociar apoio ao governo em troca de favores. Pior ainda: é percebido como um lugar de gente desonesta, que usa o mandato eletivo para fins escusos, para a obtenção de benefícios indevidos.
Isso me entristece, porque vejo a batalha cotidiana de muitos colegas na defesa de propostas de grande importância para a coletividade, como a valorização do trabalhador ou o socorro a vítimas de desastres. Vícios, eu sei que existem, mas existe também muito trabalho sério sendo realizado com afinco.
Nos últimos anos, a Câmara discutiu e votou muitas leis de grande interesse social, como o endurecimento das penas para quem dirige alcoolizado, o vale-cultura, o Código Florestal, o Supersimples, o aviso prévio de 90 dias etc. No entanto, embora algumas das propostas tenham sido de iniciativa parlamentar, como a PEC do Trabalho Escravo, a realidade é que a maior parte da elaboração de leis tem partido do Executivo. A edição de MPs, por exemplo, continua excessiva, e sua relatoria costuma ser dividida entre apenas dois partidos. Isso precisa mudar. Entendo que nossa pauta deva envolver a votação de projetos de interesse do Executivo, mas não deve ser dominada por eles. Como eu, grande parte dos deputados nunca teve um projeto de sua autoria levado a plenário!
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O cenário econômico me preocupa: 2013 se anuncia um ano difícil. Parceiros tradicionais do Brasil enfrentam um momento de crise, com baixo crescimento e alto desemprego. Nesse contexto, é necessário e urgente que a Câmara discuta e vote uma pauta voltada para o crescimento, que destrave a economia brasileira e permita à presidente Dilma seguir conduzindo um projeto de erradicação da pobreza. A redução das tarifas de energia, votada nesta Casa, foi um passo importante, mas é preciso muito mais. Precisamos votar os marcos regulatórios e impulsionar a área energética, a infraestrutura nacional. Regras claras são essenciais para animar o “espírito animal” dos investidores. Temos, também, que rever o pacto federativo, concedendo maiores benefícios para estados e municípios.
PublicidadeCom tantos desafios pela frente, seria muito ruim a Câmara eleger um presidente que já entre precisando se defender no campo ético-moral. Precisamos de alguém que represente o novo, a mudança, o resgate das melhores práticas. Por isso coloquei meu nome à disposição dos colegas.
* Formado em Direito e deputado federal atualmente no terceiro mandato, Júlio Delgado (PSB-MG) é candidato a presidente da Câmara dos Deputados.
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