Uma pessoa com a experiência do vice-presidente da República, Michel Temer, dificilmente escreveria uma carta à presidente da República, sem saber que vazaria. Temer está na verdade articulando o que constitui seu verdadeiro interesse político neste momento. As informações são de editorial desta quarta-feirq (9) do jornal Folha de S. Paulo.
No texto, intitulado “Carta infeliz”, o jornal compara a um melodrama a correspondência de Temer enviada nesta segunda-feira (7) à presidente Dilma, contendo uma lista de queixas. “Nos tangos, boleros e outros gêneros românticos de antigamente, alguns artistas adotavam a prática de, a dada altura, interromper o canto e passar à simples declamação da letra a meia-voz, reiterando seu recado em tom de confidência. Enquanto a orquestra desenrola os compassos incertos do impeachment, é como se a carta enviada pelo vice Michel Temer (PMDB) à presidente Dilma Rousseff (PT) correspondesse, no seu tom supostamente magoado e pessoal, a essa modalidade de canastrice cancioneira”, aponta o editorial.
Arrogância
Ainda assim, a Folha não deixa de apontar problemas do governo que levaram ao envio da carta.”Não que não sejam cerebrais os seus motivos, e verdadeiras as suas queixas. Com certeza, por inabilidade, arrogância e preconceito, o Palácio do Planalto desperdiçou as oportunidades de outorgar a Michel Temer o papel de articulação política de que tanto se carece num momento de gravíssima crise”, diz a Folha.
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O jornal sustenta que Temer tornou-se menor, ao adotar um tom choroso e que sugere mais apreço pelo protocolo palaciano, pelos cargos de segundo escalão e pelo beija-mão do que pelas questões nacionais.
“Se se tratava de acenar com a possibilidade de exercer uma liderança política nacional –conciliadora ou disruptiva, pouco importa– na atual crise, o vice-presidente sem dúvida se apequenou. Sua carta adota um tom choroso, incluindo reclamações risíveis, como a de não ter sido convidado a participar de um encontro com o vice-presidente dos EUA, Joe Biden. Fica-se com a impressão de que o apreço pelo protocolo palaciano, pelo beija-mão e pelos cargos de segundo escalão supera, no espírito de Temer, a devida consideração das emergências nacionais”, reflete o editorial.
PublicidadeVeja a íntegra do editorial da Folha
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