Edson Sardinha |
A se confirmar a manutenção dos números registrados nas eleições municipais de 2000, pelo menos seis milhões de brasileiros serão “premiados” com a oferta de dinheiro em troca da indicação para um assento nas quase seis mil câmaras municipais e prefeituras espalhadas país afora. As eleições municipais são consideradas as mais sujeitas à comercialização de voto. A proximidade que facilita a vida do eleitor no momento de escolher os seus representantes locais também o reduz a presa fácil de cabos eleitorais e candidatos com suas ofertas sedutoras. Segundo a organização não governamental Transparência Brasil, especializada no combate à corrupção, o eleitorado jovem responde pelo grupo mais vulnerável a esse tipo de oferta. Publicidade
Pesquisa feita pelo Ibope a pedido da entidade nas últimas eleições municipais indica que os eleitores com idade entre 16 e 34 anos são os mais visados pelos agentes interessados na compra de votos. Leia também Publicidade
Além de mostrar que um em cada 17 eleitores esteve à mercê de alguma tentativa de corrupção, a pesquisa indicou que 31% dos abordados aceitaram a proposta. Metade deles teria recebido R$ 50. PublicidadeAs ofertas são mais intensas nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde as projeções alcançaram o dobro da média nacional. Nesses estados, candidatos e cabos eleitorais teriam assediado 12% do eleitorado com oferta de dinheiro. Na avaliação do secretário-executivo da entidade, Cláudio Weber Abramo, a tendência é de que o “fenômeno” se repita este ano. Nas eleições de 2002, o mesmo Ibope revelou que 3 milhões de brasileiros (3% do eleitorado nacional) teriam sido assediados, antes da votação, com algum tipo de benefício, como dinheiro e emprego público. Os especialistas acreditam que o distanciamento geográfico que às vezes dificulta a definição do eleitor é o mesmo que afasta a sanha dos fraudadores no caso das eleições de âmbito estadual e nacional. A corrupção eleitoral ainda está longe de ser a principal face da influência do dinheiro no resultado das eleições. No ano passado, a Transparência Brasil divulgou um estudo sobre o financiamento das campanhas eleitorais. Empreiteiras e bancos foram os segmentos que mais investiram no sucesso eleitoral de deputados, senadores e governadores. O impacto do poderio econômico sobre o resultado das urnas, segundo a pesquisa, revela algo que todos desconfiavam, mas que ainda não havia sido mensurado: no Brasil, o grande eleitor é o dinheiro. |