Mário Coelho
A reunião de quase quatro horas dos deputados distritais teve como base uma espécie de “operação salva Legislativo”. A avaliação dos parlamentares que participaram do debate é que, na tentativa de minimizar os estragos feitos pela Operação Caixa de Pandora, deve-se mirar no Executivo. Mais precisamente, no governador José Roberto Arruda (DEM). No entendimento de distritais ouvidos pelo site, a instalação da CPI da Corrupção é o primeiro passo para reverter o quadro negativo.
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Mesmo com os vídeos da Operação Caixa de Pandora, que mostram parlamentares recebendo propina e os indícios de acertos em votações de projetos polêmicos, a avaliação corrente é que nada teria acontecido se o governo não tivesse comprado a base aliada. “A preocupação é mostrar que os problemas não estão centralizados no Legislativo, e sim no Executivo”, afirmou um dos distritais ouvidos pelo site.
Na avaliação dos deputados, as denúncias envolvendo os parlamentares são “menores” do que as que atingiram o primeiro escalão do GDF. Por isso, a base aliada resolveu ceder e deixar a CPI ser criada. A oposição, formada por quatro deputados do PT e um do PDT, apresentaria um requerimento para criar a comissão amanhã. Mas, com o recuo dos aliados, o documento será de autoria da Mesa Diretora, assinado por todos os parlamentares.
“Acredito que já houve um avanço, pois estamos instaurando uma CPI e vamos decidir sobre a aceitação da denúncia contra o governador por crime de responsabilidade”, disse a líder do PT na Câmara, Erika Kokay. Já o deputado José Antonio Reguffe (PDT) defendeu que os contratos com as empresas citadas no inquérito da Polícia Federal sejam rescindidos. “Se forem serviços públicos não essenciais é preciso que sejam cancelados. Já fiz um requerimento solicitando ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público do DF que façam auditorias em todos esses contratos”, anunciou.
Porém, a tática pode dar errado dependendo da postura dos próprios parlamentares. A Mesa Diretora vai encaminhar à Corregedoria pedido de investigação de oito distritais citados no inquérito que deu origem à Caixa de Pandora. Mas a falta de provas em alguns casos, e a citação por terceiros, em outros, pode dificultar à Câmara na tarefa de “cortar na própria carne”. “Tem alguns deputados que dificilmente serão cassados, como o Roney Nemer (PMDB), por exemplo”, disse outro deputado.
Impeachment
A criação da CPI foi considerada como uma vitória da oposição e de dissidentes da base. Mas esperava-se que, por conta do volume de denúncias, os deputados aceitassem a instauração de uma investigação contra Arruda por crime de responsabilidade. Porém, interlocutores do governador disseram que ele se afastaria do governo por 180 dias caso o processo começasse. Neste momento, parlamentares da base recuaram e decidiram postergar a decisão sobre Arruda.
Mesmo assim, a oposição promete para amanhã a entrada com o pedido de impeachment de Arruda. Mas, na avaliação de opositores, o pedido ganhará mais força caso a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decida, na quinta-feira, também pedir a investigação do governador. Caso isso aconteça, a pressão em cima dos parlamentares deverá fazer o processo andar.