Rudolfo Lago
Os rostos que aparecem na tela são mais do que conhecidos. Qualquer brasileiro os reconhece. Como se fossem membros da sua própria família. Fernanda Montenegro, José Mayer, Osmar Prado, Eliane Giardini, Glória Pires, Mauro Mendonça.
Os verdadeiros rostos das pessoas que esses atores interpretam na tela certamente não são tão conhecidos. Mas são dolorosamente familiares para seus parentes, há mais de vinte anos sem notícias deles. São os desaparecidos políticos Sônia Maria Angel, Daniel Capistrano, Maurício Grabois, Ana Rosa Kucinski, Helena Guariba e Fernando Santa Cruz.
A sensação que os filmetes de 30 segundos que começaram a ir ao ar a partir desta semana busca transmitir é essa: a familiaridade que cada telespectador sente ao ver aqueles rostos é a mesma que os parentes dos desaparecidos têm com relação aos seus entes sumidos na ditadura. Será justo que eles não consigam saber o qua aconteceu com seus familiares? Será justo negar a um país conhecer sua própria história?
Os filmetes fazem parte de uma campanha capitaneada pela Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro (OAB-RJ), lançada no dia 16 de abril, que busca, a partir de um abaixo-assinado, pressionar as autoridades a abrirem definitivamente os arquivos da ditadura militar. “É um direito da sociedade, especialmente dos parentes das vítimas que têm direito de saber o que fizeram com seus familiares. Nós precisamos ultrapassar essa página não virada da nossa história”, diz, em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, o presidente da OAB-RJ, Wadih Nemer Damous Filho.
“Sou Sônia de Morais Angel, professora e economista”, diz, na TV, Fernanda Montenegro. “Em 1973, fui presa e brutalmente torturada e assassinada. De mim, só restaram os ossos”. Em outro filmete, Eliane Giardini é Ana Rosa Kucinski. “`Professora. Em 1974, eu e meu marido fomos presos no centro de São Paulo. Nossas famílias esperam notícias até hoje”, diz ela. Glória Pires é Helena Guariba: “Professora universitária e diretora de teatro. Fui presa em 1970 e brutalmente torturada. Depois de solta, fui presa novamente e, desde, então, estou desaparecida”. José Mayer interpreta David Capistrano: “Jornalista e dirigente político. Despareci no Rio Grande do Sul ou em São Paulo. Minha família nunca mais soube de mim”. O ator Mauro Mendonça diz: “Eu sou Fernando Santa Cruz. Líder estudantil. Fui preso em uma rua do Rio de Janeiro em 1974 e levado para São Paulo. Minha família nunca mais soube de mim”. E Osmar Prado: “Sou Maurício Grabois, militante político. Desapareci no Natal de 1973, quando comandava a Guerrilha do Araguaia. São mais de 30 anos sem saberem de mim”. Ao final, os artistas terminam sempre com a seguinte frase: “Será que essa tortura nunca vai acabar?” Eles nada cobraram pela participação na campanha.
Veja aqui Fernanda Montenegro como Sônia de Morais Angel:
Aqui, Mauro Mendonça como Fernando Santa Cruz:
Glória Pires como Heleni Guariba:
José Mayer interpreta David Capistrano:
Osmar Prado é o guerrilheiro Maurício Grabois:
E Eliane Giardini como Ana Rosa Kucinski:
Iniciado no dia 16 de abril, o abaixo-assinado movido pela OAB-RJ contava ontem (21) com 2.900 assinaturas. Não é preciso ser do Rio para assinar. Qualquer pessoa pode aderir à campanha eletronicamente, a partir do site da OAB do Rio. Incorporada pela OAB nacional, a campanha deverá ser ampliada para outras seções da Ordem dos Advogados pelo Brasil. A intenção dos advogados é, depois, entregar o abaixo-assinado ao Congresso Nacional e ao governo federal para que se chegue a uma solução definitiva de abertura de todos os arquivos da repressão militar e da ditadura.
Leia a entrevista com o presidente da OAB-RJ: “O Brasil precisa virar essa página da sua história”
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