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O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) acusou ontem o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de ser o “mentor” de um esquema de corrupção nas estatais maior do que o montado no governo Collor pelo ex-tesoureiro Paulo César Farias. “O esquema de corrupção do PC Farias era menor, malfeito, às claras, com o rabo de fora. Eu vi de perto", disse em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em São Paulo. Líder da chamada tropa de choque de Fernando Collor, Jefferson foi um dos opositores à abertura do processo de impeachment contra o ex-presidente em 1992. “José Dirceu sabia de tudo. Ele era uma espécie de presidente (do esquema). O vice era Genoino. Tudo que era fechado no PT, tinha que ser homologado na Casa Civil. Dirceu é quem dava a palavra final em tudo. Eu conversava com Genoino, com Delúbio, mas tinha que bater o martelo com o Dirceu. Sempre foi assim”, afirmou. O gerente do esquema, segundo ele, seria o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, com quem o deputado teria discutido no próprio Palácio do Planalto nomeações para a diretoria do Departamento Nacional de Transportes (Dnit) e da Eletrobrás. Publicidade
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De acordo com Jefferson, a cúpula do PT oferecia a diretoria das estatais aos aliados e ficava com o restante da estrutura para arrecadar dinheiro para o partido. “O PT dá a cabeça para um partido aliado e o resto da estrutura é toda do Sílvio e do Delúbio (Soares, tesoureiro petista)”, afirmou. O deputado disse estar preparado para uma eventual acareação com Dirceu na Câmara. “Ele é desleal, não tem palavra e tentou colocar no colo do PTB o cadáver da corrupção que é dele e do Sílvio Pereira”, acusou. Caixa-dois dos partidos PublicidadeO ex-presidente do PTB disse que todos os partidos usam seus indicados em estatais para montar caixa-dois de campanha. “Por que os partidos brigam por cargos dentro do governo? Para que as pessoas indicadas por eles para esses cargos estabeleçam vínculos com empresários que trabalham para o governo e consigam deles recursos para financiar os partidos”, contou. As “jóias da coroa”, segundo ele, seriam a Petrobras, a Eletrobrás e os fundos de pensão. Doação ilegal para tucanos O deputado revelou que o PTB declarou apenas parcialmente à Justiça Eleitoral os recursos repassados para a campanha do então candidato Fernando Henrique Cardoso, em 1994. O dinheiro teria sido transferido pelo banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira, cujo banco, Bamerindus, sofreu intervenção do Banco Central do próprio governo FHC em março de 1997. Jefferson acusa Pizzolatti Jefferson também acusou o ex-presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara João Pizzolatti (PP-SC) de distribuir mesada a deputados do PP. "Era feito café da manhã. O deputado subia e descia com um pacotinho", afirmou. À tarde, Jefferson havia declarado a jornalistas que o esquema do mensalão na Câmara havia sido implantado no PL pelo presidente do partido, Valdemar Costa Neto (SP), e pelo deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), a quem acusou de reproduzir em Brasília o esquema que teria montado na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). “Valdemar, junto com Bispo Rodrigues desde o início, implantaram o mensalão no PL. Essa prática vem do Bispo Rodrigues, desde a Assembléia do Rio. Ele (Rodrigues) levou essa prática ao PL e acabou impregnando o Delúbio. E o Delúbio trazia os recursos para eles fazerem a divisão. Nisso eu vou bater, porque sei que acontece”, disse. Dinheiro sem destino O deputado foi evasivo ao responder o que teria feito com os R$ 4 milhões supostamente repassados pelo PT para financiar campanha eleitoral do PTB no ano passado. Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, semana passada, Jefferson afirmou que o dinheiro faria parte de um montante de R$ 20 milhões prometido pelo PT. Segundo ele, o acordo não foi cumprido. Lideranças do PTB alegam não ter conhecimento do repasse. “Eu assumo. Está comigo (o valor de R$ 4 milhões). Recebi como pessoa física, não há recibo de doação. Eu pedi contribuições legais, com recibos, como doações. Se o PT me der o recibo, eu retifico. Se não, eu assumo pra mim”, afirmou, sem contar onde está o dinheiro. Convocação de Dirceu é inevitável, diz relator de CPI O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse ontem ser inevitável a convocação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para que ele explique os critérios de nomeação dos diretores da estatal. Na abertura de seus trabalhos, a CPI toma hoje o depoimento do ex-chefe de Contratação Maurício Marinho, flagrado recebendo propina. Na gravação, Marinho acusa a existência de um esquema de corrupção que seria coordenado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Serraglio também admitiu a possibilidade de ouvir as explicações de Jefferson já na próxima semana. “Acho inevitável a convocação de Dirceu, mas isso dependerá do que o deputado Roberto Jefferson falar”, afirmou o deputado, que é da base de sustentação do governo no Congresso. O relator deve se reunir com o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e lideranças partidárias para definir um roteiro inicial de trabalho. O colegiado, que começou a receber documentos da Polícia Federal, já tem 148 requerimentos para analisar. O deputado negou ter dito, em entrevista numa TV paranaense, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de ter o mesmo destino do ex-presidente Fernando Collor, o impeachment. “A declaração foi tirada do contexto. Foi levantada uma hipótese sobre a descoberta de um possível indício contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disse que apuraria, reiterando a minha disposição de investigar a fundo qualquer fato irregular do qual tenhamos conhecimento”, explicou. ACM: cassações deviam alcançar um terço dos deputados O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), afirmou ontem que um terço das cadeiras da Câmara ficará vago se todos os parlamentares que recebiam o “mensalão” forem cassados. Na avaliação do senador, a denúncia confirma a tese levantada pelo então deputado constituinte Luiz Inácio Lula da Silva de que haveria “300 picaretas com anel de doutor” no Congresso. “São os mesmos que agora ele (Lula) incorporou à sua base”, disse ACM em entrevista à TV Itapoã, em Salvador. “Se apurarem a fundo, pelo menos um terço sai. Isso vai ficar comprovado na CPI. É muito fácil identificar quem recebia o mensalão, basta observar quem melhorou de vida nos últimos tempos”, afirmou o pefelista. O senador disse ser contrário a qualquer pedido de impeachment do presidente Lula. O desejo, segundo ele, é de que o governo chegue ao fim do mandato “para que a desilusão do povo com relação ao PT seja completa”. PSDB cobra explicação de ministros sobre “golpismo” Em resposta à nota divulgada pelo PT no último sábado que atribui a setores da oposição o surgimento de denúncias de corrupção com o objetivo de desestabilizar o governo “de forma artificial e irresponsável”, o PSDB apresentou ontem na Câmara requerimento de convocação dos ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), pediu que os ministros compareçam à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para esclarecer se têm conhecimento de fatos que representem riscos às instituições democráticas na atual conjuntura. “Nós queremos saber de parte do próprio governo se eles estão vendo isso, ou se é uma atitude intimidatória do PT, simplesmente para botar uma cortina de fumaça, para que nós não cheguemos a fundo nas investigações que mostram a corrupção no governo”, afirmou. Segundo Goldman, o partido vai pedir aos presidentes da Câmara e do Senado que sugiram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a convocação imediata do Conselho da República, órgão de assessoramento especial da presidência. Previsto na Constituição, o Conselho pode ser convocado para se pronunciar sobre questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. Valdemar contesta acusação de ex-mulher Acusado pela ex-mulher de usar verbas do fundo partidário para a compra de bens particulares, o presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), disse ontem que móveis e utensílios comprados por ele para a residência oficial do partido foram adquiridos com doações de parlamentares e são patrimônio da legenda. Segundo ele, cada um dos 53 deputados e quatro senadores do PL doa à legenda R$ 1.200 por mês. Em entrevista coletiva, Costa Neto acusou a ex-mulher, a publicitária Maria Cristina Mendes Caldeira, de tentar extorqui-lo. Ele apresentou cópias de processos movidos contra ela por apropriação indébita e crime contra a honra. Segundo o deputado, Maria Cristina nunca participou das reuniões realizadas com a participação do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ao contrário do que ela disse em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo. Apesar de resistências, Lula confirma Dilma na Casa Civil O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu passar por cima da resistência de setores do PT e de partidos da base aliada e nomear a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para o lugar de José Dirceu na Casa Civil. O presidente pretende dar um caráter mais técnico à pasta, que ganhou superpoderes políticos na gestão de Dirceu. Assim como o seu antecessor, Dilma é conhecida pelo temperamento forte, o que já lhe rendeu embates com vários parlamentares, e pelo passado de guerrilheira. Em resposta aos que apontavam a falta de disposição da ministra em negociar com o Congresso como empecilho para exercer o novo cargo, o presidente ressaltou suas qualidades como boa gestora e a adequação do perfil ético de Dilma à Casa Civil. As principais divergências dela com parlamentares da base aliada se deram por causa de indicações para estatais. De “papisa da subversão” a “dama de ferro” Conhecida como “a dama de ferro” do governo, Dilma foi guerrilheira nos anos 70, quando foi chamada de “papisa da subversão”. Passou 22 dias sob tortura física, psíquica e moral e três anos na cadeia durante a luta contra o regime militar. Participou do Comando de Libertação Nacional (Colina) e ajudou a articular, em 1969, um assalto ao ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. Aos 57 anos, Dilma é economista, com doutorado em economia monetária e financeira, e chegou ao PT em 2001, depois de intensa militância no PDT de Leonel Brizola. |