Sônia Mossri |
Uma fazenda cravada em pleno sertão alagoano é palco constante de encontro de dois líderes da base de sustentação do governo Lula. Bem longe do assédio da imprensa, no município de Murici, a 90 km de Maceió, os líderes do PMDB no Senado e do PCdoB na Câmara esquecem as divergências ideológicas para celebrar aquelas datas que, de tempos em tempos, reúnem a família. Sentados à mesma mesa, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Renildo Calheiros (PCdoB) evidenciam que o sobrenome que compartilham com o também deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL) não é mera coincidência. Nesses momentos de intimidade que as TVs não captam, eles são apenas três dos oito filhos de dona Ivanilda Vasconcelos Calheiros e do seu Olavo Calheiros Novais, morto há oito anos. Além de Renan, Renildo e Olavo (o mais velho), o gosto pela política também pegou o irmão do meio, Remi, atual prefeito de Murici. No ano que vem, ele pode transferir o cargo para o sobrinho e correligionário Renanzinho, de 24 anos, pré-candidato à sucessão municipal. Publicidade
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O sobrenome famoso também pode render uma cadeira na Câmara de vereadores de Maceió, com a possível candidatura do caçula dos homens, Robson, também filiado ao PMDB. “A candidatura vai depender do interesse do Renan”, reconhece Renildo, numa referência à ascensão política do irmão. O terceiro filho de dona Ivanilda e do seu Olavo é uma espécie de “ovelha negra” da família. Pelo menos quando o assunto é política partidária. Filiado ao PCdoB desde meados dos anos 80, Renildo se pôs em campo oposto ao dos irmãos. Em 1989, por exemplo, enquanto Renan articulava a eleição de Collor à presidência, Renildo era um dos coordenadores da campanha de Lula no Recife. PublicidadeEx-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), o comunista fez carreira política em Pernambuco No ano passado, foi um dos vice-líderes do governo na Câmara. Em meio a dois insucessos eleitorais, foi secretário-adjunto do governo Miguel Arraes (PSB) e auxiliar da prefeita Luciana Santos (PCdoB), em Olinda. No segundo mandato em Brasília, Renildo vive a inédita experiência de defender o mesmo governo que o irmão mais velho. Enquanto o atual líder do governo no Senado representava o governo Collor no Congresso e ocupava o ministério da Justiça, de Fernando Henrique, o geólogo fazia coro aos gritos da oposição. A aproximação do irmão mais velho do antigo desafeto Lula é um assunto que Renildo evita. “A vida está sempre se desenvolvendo, não quero tratar disso porque pode soar como fala de quem comemora uma vitória pessoal. Não trato as coisas assim e tenho o maior respeito pelos meus irmãos”, desconversa. Por causa das divergências partidárias, o domicílio eleitoral que Renildo mantém em Pernambuco não deixa de livrá-lo de constrangimentos. Se, por um lado, ele é o único filho que não recebe o voto da mãe, eleitora em Alagoas, por outro, o deputado não precisa dar explicações sobre a escolha de seus candidatos aos irmãos peemedebistas. Perguntado se seria eleitor de seus irmãos em Alagoas, o comunista brinca: “Meu amigo, você quer criar confusão para mim? Essa situação não existe, eu voto em Pernambuco. Vamos deixar isso pra lá”, diz aos risos, para, em seguida, frisar que é “um homem de partido”. |