Fábio Góis
Reunidos em vigília no plenário e demais dependências da Câmara desde a manhã desta segunda-feira (25), cerca de 800 aposentados e pensionistas se dizem descrentes em relação ao que os parlamentares podem fazer pela classe. Representados por entidades como a Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap) e vindos de diversos estados do país, eles dizem não acreditar em mudanças originadas no Parlamento, e se queixam do “desrespeito” a que estariam submetidos no país.
“Não é vigília, é velório!”, gritou, da galeria superior do plenário, a aposentada fluminense Tânia André Lisboa, 58 anos. Exaltada e proferindo palavras de ordem, Tânia reclamou ao Congresso em Foco da “passividade” dos próprios colegas de classe.
Os aposentados pressionam deputados e senadores pela aprovação dos projetos de lei 01/09, que concede aos aposentados o mesmo sistema de reajuste para o salário mínimo, e 3299/08, que acaba com o fator previdenciário (critério de contribuição compulsória baseado em tempo de serviço).
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A classe reivindica ainda que o Congresso analise o veto presidencial ao projeto que, em 2006, reajustou o salário mínimo em 16,67% – entretanto, sem repassar o percentual aos dependentes do Instituto Nacional de Previdência Social (INSS). O veto se refere à emenda de autoria de Paulo Paim que estendia tal reajuste a todas as aposentadorias. Em vez da reposição, o governo concedeu reajuste de 5% aos aposentados e pensionistas.
“Estamos sendo tratados aqui com o maior desrespeito pelo Congresso Nacional. Estamos passando um aperto danado com essa defasagem salarial”, declarou o aposentado Fernando César Goulart, 52 anos, referindo-se ao fator previdenciário. “Com todo o respeito, eles só visam os interesses deles, e do povo nada!”, bradou, já deitado de cansaço no tapete verde da Câmara.
Já para o diretor da Cobap José Carlos Pinto Vieira, 54, a recepção desta segunda-feira (25) na Câmara é um bom sinal. “Hoje, devido à nossa mobilização, à essa garra que os ‘velhinhos’ tiveram para se deslocar de vários estados, fomos tratados com respeito, como gente”, disse José, rodeado de idosos. “Coisa que, normalmente, no Parlamento, não acontece”, acrescentou o aposentado, advertindo que a pressão vai continuar até que as demandas sejam atendidas e o que foi “roubado” pelo governo seja devolvido. “Vamos continuar mostrando que estamos vivos: paramos vias, estradas, pontes, tudo.”
“Teatro”
A aposentada Tânia disse ser “encenação” o fato de congressistas como o senador Paulo Paim (PT-RS) e o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) terem ido à Câmara manifestar apoio à vigília dos aposentados.
“Foi simplesmente a um palco que eu assisti. Uma peça montada, uma encenação, de todos eles, sem exceção”, exclamou Tânia, em entrevista concedida à reportagem no Salão Verde da Câmara. “E incluo o Paulo Paim também, porque eles estão fazendo média com os aposentados e os aposentados estão acreditando neles.” Tânia explicou que, na verdade, nem precisava estar na vigília, uma vez que é aposentada em regime complementar, mas que ali estava “por eles [aposentados]”.
“Agora, acreditar num palco montado, e depois dizer que é vigília? Não é vigília, é velório mesmo”, vociferou a aposentada, acrescentando que, até julho, quando está prevista a análise do veto mencionado acima, “com certeza, uns dois, três ou dez desses aí já morreram, não vem nem aqui mais”.
Enrolada em uma bandeira do Brasil, a aposentada Dulce Pinheiro, 83, também disse à reportagem que não acredita mais nas promessas dos políticos. Para Dulce, o Parlamento tem tratado “muito mal” a classe. “Os aposentados merecem o que eles têm direito, que são os atrasados. O governo não dá o dinheiro certo.” Perguntada a respeito do que a vigília poderia provocar, ela foi enfática. “Não tenho esperança.”
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