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Acusado de comandar um esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), decidiu cair atirando. Alvo de novas denúncias publicadas pelas revistas Veja e Época no último fim de semana, Jefferson pode ter reduzido a pó as pretensões do governo de abafar a CPI dos Correios com a entrevista divulgada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo. Nela, o deputado acusa o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de pagar uma mesada – chamada por Jefferson de “mensalão” – de R$ 30 mil a parlamentares do PP e do PL, em troca de apoio nas votações de interesse do governo no Congresso. O PTB, de acordo com o presidente do partido, recusou a oferta feita pelo petista. O “mensalão”, segundo ele, teria sido pago até janeiro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria tomado conhecimento do caso, por iniciativa do próprio petebista. Publicidade
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“Presidente (Lula), o Delúbio vai botar uma dinamite na sua cadeira. Ele continua dando ‘mensalão’ aos deputados. ‘Que mensalão?’. Jefferson explicou. ‘O presidente chorou.’ E depois da conversa com Lula? ‘Tenho notícia de que a fonte secou. A insatisfação está brutal (na base aliada) porque a mesada acabou’, disse o deputado à Folha. A suspensão da mesada seria o principal motivo das dificuldades enfrentadas pelo governo na Câmara. “Toda a pressão que recebi neste governo, como presidente do PTB, por dinheiro, foi em função desse ‘mensalão’, que contaminou a base parlamentar. Tudo o que você está vendo aí nessa queda-de-braço é que o ‘mensalão’ tem que passar para R$ 50 mil, R$ 60 mil. Essa paralisia resulta da maldição que é o ‘mensalão’”, completa o presidente do PTB. PublicidadeNa entrevista, Jefferson ainda afirma que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, tinha conhecimento da prática desde o início de 2004. “Fui ao ministro Zé Dirceu, ainda no início de 2004, e contei: ‘Está havendo essa história de mensalão. Alguns deputados do PTB estão me cobrando. E eu não vou pegar. Não tem jeito’. O Zé deu um soco na mesa: ‘O Delúbio está errado. Isso não pode acontecer. Eu falei para não fazer’. Eu pensei: vai acabar. Mas continuou.” Roberto Jefferson garante estar arrependido de ter retirado a assinatura do pedido de criação da CPI dos Correios. Na entrevista à Folha, o deputado afirma que as apurações da comissão parlamentar de inquérito são fundamentais para a sua imagem e a do seu partido. "Sim. Eu preciso (da CPI). Eu errei. Eu não deveria ter recuado, não deveria ter recuado." As declarações do deputado vão tornar ainda mais delicada a operação traçada pelo governo para barrar a CPI dos Correios. Elas também devem alimentar a estratégia do PFL e do PSDB de instalar uma outra CPI apenas no Senado, onde o governo não dispõe de maioria. A temperatura política em Brasília deve alcançar esta semana um dos mais altos índices dos últimos anos. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara deve analisar amanhã o parecer do relator, deputado Inaldo Leitão (PL-PB), ao recurso apresentado pelo vice-líder do governo no Congresso, João Leão (PL-BA), contra o requerimento que criou a comissão parlamentar de inquérito. O argumento do governista é de que o pedido é genérico e não se atém a fato determinado, por também fazer referência a denúncia de corrupção em outras estatais. Mesmo que consiga convencer a CCJ a declarar a inconstitucionalidade do requerimento da oposição, o governo terá de ganhar a disputa no plenário da Câmara. “Gente de segunda” Ainda na entrevista à Folha, o presidente do PTB revela uma profunda mágoa com o PT. O deputado acusa o partido de não cumprir acordo com os aliados e de tratar o PTB como “gente de segunda (classe)”. “Eu sempre disse aos meus companheiros, e eles são testemunhas desde o início, o PT não tem coração, só tem cabeça. Ele nos usa como uma amante e tem vergonha de aparecer conosco à luz do dia. Nós somos para o PT gente de segunda, eu sempre me senti assim. A relação sempre foi a pior possível.” “A Veja falou que sou o homem-bomba. E o que você faz com a bomba? Ou desativa ou faz explodir. Estou percebendo que estão evacuando o quarteirão, e o PTB está ficando isolado para ser explodido”, disse Roberto Jefferson à Folha. Há um mês o deputado, que foi líder da chamada tropa-de-choque do ex-presidente Fernando Collor de Mello no Congresso, não sai do noticiário nacional. De acordo com a última edição da revista Época, Jefferson usa o sorveteiro Durval da Silva Monteiro como “laranja” de seus negócios no Rio. O ex-motorista e ex-segurança do petebista é sócio de duas emissoras de rádio no litoral fluminense, que lhe teriam sido dadas pelo deputado. Durval diz que, em dez anos, nunca recebeu um tostão das emissoras. A revista Veja que chegou às bancas no último fim de semana reproduz a gravação feita com o ex-presidente do IRB, Lídio Duarte, em que ele afirma que cada indicado pelo PTB para cargos em estatais tem de contribuir com R$ 400 mil para o partido. A denúncia havia sido publicada há duas semanas, mas sem a divulgação da fonte. Em depoimento à Polícia Federal, Duarte negou que tivesse conhecimento do esquema, que teria, segundo a revista, sido o estopim de sua saída da autarquia. Após o desmentido, Veja reproduziu, em sua última edição, trechos da gravação em que Duarte acusa o presidente do PTB de cobrar dos indicados “uma prestação de contas”. |