Renata Camargo
Os argumentos invocados pelos ruralistas e pelas empresas para boicotar os produtos brasileiros que têm como origem áreas desmatadas ilegalmente receberam críticas do coordenador da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Valdir Colatto (PMDB-SC). Para o deputado, os brasileiros que apóiam esse tipo de iniciativa são “traidores da pátria” e fazem “gol contra”. Para ele, sempre haverá “alguma coisa ambientalmente incorreta” na produção brasileira.
“Alguém já viu boi embaixo de mato? Toda produção tem algum tipo de desmatamento. Se levar à risca o que a legislação ambiental brasileira manda, as pessoas vão ver que todos os produtos produzidos aqui vão ter alguma coisa ambientalmente incorreta. Esse é um jogo do Brasil fazendo gol contra. Lá fora, esses mesmos que exigem de nós não cumprem as leis ambientais. A Inglaterra manda lixo para cá e cria para nós essa barreira ambiental. E as informações sobre o Brasil são dadas por brasileiros, traidores da pátria. Os ingleses e americanos não deixam a gente resolver o problema deles, mas vêm aqui querer resolver os nossos”, criticou o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Valdir Colatto (PMDB-SC).
Mas o cerco aos produtores tende a aumentar. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), após ser acusado de conivência com frigoríficos que compram boi de áreas desmatadas, anunciou que empresas que querem financiamento ou participação acionária na instituição terão que apresentar o rastreamento da origem do gado comprado por elas. Essa exigência será gradual e crescente até 2016, quando todas as fazendas apoiadas pelo banco terão que ter 100% de rastreamento.
O rastreamento do gado é feito para identificar os locais por onde o animal passa. Caso o rebanho seja deslocado para uma área que era floresta e foi recentemente desmatada, será possível identificar quais gados fazem parte desse rebanho. No estado do Pará, um novo sistema de rastreamento de gado, feito por meio de georreferenciamento e monitoramento por satélite, será implantado pelo governo. Em julho, em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente da Câmara, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou que esse novo sistema de rastreamento será implantado em, no máximo, 18 meses.
O Brasil é o primeiro país em exportação de carne bovina no mundo. Em 2008, o país liderou o ranking dos maiores exportadores do produto, com receita cambial de US$ 5,3 bilhões e volume de 2,2 milhões de toneladas em carcaça, segundo dados da Associação Brasileira de Indústrias de Exportação (Abiec). No ano passado, a exportação brasileira de carne representou a participação de 28% do mercado internacional com comércio para 170 países.
Antes dos principais embargos de multinacionais, a Abiec divulgou um relatório intitulado Perfil da produção bovina no país, que indicava dados de “sustentabilidade dos frigoríficos” brasileiros. Segundo o presidente da associação, Roberto Giannetti da Fonseca, é possível triplicar a receita cambial com exportações de carne bovina até 2020 sem desmatar nenhuma área nova para pastagem, aumentando a produtividade de cabeças por hectare (leia aqui o relatório da Abiec).
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