Rudolfo Lago
“A política brasileira não cultiva mais valores como a decência”. A frase resume o tom duro do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) na entrevista que deu na noite de sexta-feira (23) aos jornalistas Carlos Nascimento e Karyn Bravo, apresentadores do telejornal SBT Brasil. Na entrevista aos jornalistas na TV, Ciro não bateu o martelo sobre o fim da sua candidatura à Presidência, mas deixou claro que isso é algo que só depende mesmo da formalização, que acontecerá na próxima terça-feira (27). Mas Ciro deixou claro também que brigará muito daqui até lá para conseguir ser candidato. “Vou espernear até terça-feira”, prometeu. Ou seja: novas críticas duras contra o PT e o próprio PSB devem aparecer.
Ciro criticou o fato de as decisões políticas sejam definidas pelas cúpulas dos partidos em seus gabinetes. Ciro teria o apoio da maioria das bases do PSB e, mesmo que tenha caído nas últimas pesquisas, ainda conta com um considerável respaldo do eleitorado brasileiro. Ciro comparou a sua situação à do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, preterido como candidato no PSDB – Aécio queria a realização de uma prévia junto às bases tucanas e sempre criticou uma solução de cúpula. “O Brasil precisa que o quadro político não seja definido por meia dúzia de pessoas num gabinete de Brasília”, disse Ciro. E foi aí que emendou a frase em que comentou que os valores mais altos, como a decência, andam longe da política brasileira.
Para Ciro, o presidente Lula não tenha mais ao seu lado alguém que tenha coragem de contrapor-se às suas opiniões. “Ele está perdendo a humildade”, comentou. Nessa linha, Ciro acusou Lula e o PT de fazerem carga contra a sua candidatura. “José Dirceu foi à casa do meu irmão no Ceará dizer que se eu fosse candidato à Presidência, o PT tirava o apoio a ele”, contou Ciro, dando um exemplo das “ameaças” e pressões sofridas. Ainda sobre José Dirceu, Ciro comentou que, embora fosse um “amigo” dele, era um “erro crasso” do PT e de Dilma tê-lo como coordenador de campanha. “José Dirceu no comando da campanha é um desacato ao Judiciário”, disse Ciro. Dirceu é réu no inquérito que apula o mensalão e que tramita no Supremo Tribunal Federal.
Ciro fez comentários sobre os dois principais candidatos à Presidência. “Todo mundo sabe que eu sou adversário de Serra, mas ele é mais preparado que Dilma, porque já foi governador, já foi prefeito, já foi ministro (nisso empata com ela)”, comentou. Para emendar: “Mas Dilma é melhor pessoa que o Serra”. E explicou em seguida: “Serra trata adversário como inimigo a ser destruído”. Mas completou: “Infelizmente, o PT seguiu no mesmo expediente”.
Na avaliação do deputado do PSB, assim se resume a relação política hoje: “Por cima, cordialidade, por baixo dossiê. Isso é um crime”.
Para Ciro, a utilização dos números das últimas pesquisas como argumento contra a sua candidatura é incoerente. “Estão usando as pesquisas para tirar a minha candidatura, dizendo que eu despenquei. As mesmas pesquisas que mostram o Serra à frente”, analisou. Assim, sobre as chances eleitorais de Dilma, Ciro recomendou cautela ao PT. Para ele, esperar que Lula, mesmo com a excelente avaliação que tem, conseguirá transferir todo o seu potencial de votos para Dilma é um erro. “O Brasil é um país complicado. Se o Lula fosse candidato, ele seria imbatível. Mas ele não é o candidato”, alertou.
O maior problema, para Ciro, é a inexperiência de Dilma em embates eleitorais. “Se ela disser uma besteira na televisão, fica difícil consertar”, comentou. “Os primeiros movimentos de Dilma já me deixaram arrepiado”, completou, sobre os erros que Dilma cometeu no seu primeiro périplo depois que deixou a Casa Civil. “Eu não sou candidato ainda, estou aqui esperneando, e ela já foi à minha terra. Nem teve o cuidado de me avisar antes. E ainda confraterniza com meus adversários”, reclamou. E bateu na aliança com o PMDB: “Bota um vice-presidente que não tem voto e que ainda por cima pode ter que depois ter que explicar o inexplicável”.
Para Ciro, o PT tem tentado distorcer suas críticas à aliança com o PMDB para que pareça que ele é um “maluco” que não entende como se dá o jogo político no Congresso. “Aliança é importante”, ressaltou ele. Mas uma aliança, completou, em torno de um objetivo. Ciro deu exemplos: para aprovar a reforma tributária ou para melhorar essa Previdência “que está humilhando os aposentados”. O problema da aliança feita com o PMDB, segundo Ciro, é que ela não tem agenda alguma em torno dela.
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