Eduardo Militão
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que o Brasil acertou ao manter abrigado o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira em Tegucigalpa. Amorim disse que o Brasil exerce, mesmo sem ter escolhido, o papel de garantir a democracia em toda a América Central.
“O que lá está em jogo não é um pequeno país da América Central, mas o destino da democracia, pelo menos na América Central. A tolerância a um golpe de Estado poderia incentivar outros na região”, disse Amorim, durante audiência realizada neste momento na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Segundo o ministro, o Brasil não teve como se recusar a ceder abrigo a Zelaya. O chanceler afirmou que as autoridades brasileiras só souberam que o presidente deposto estava em Honduras 30 minutos antes de Zelaya bater à porta da embaixada brasileira em Tegucigalpa.
Amorim defendeu a execução do plano de mediação proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias. De acordo com essa proposta, o presidente deposto retomaria o poder, continuaria proibida sua reeleição, e as eleições de dezembro seriam realizadas normalmente. “Mas quem recusou o plano foi o governo de Roberto Micheletti”, afirmou Amorim.
O ministro reafirmou que não há dúvida de que houve um golpe de Estado em Honduras e que é preciso reagir a qualquer atentado à democracia, como pregaram a Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Organização das Nações Unidas (ONU), ao reconhecerem, por unanimidade e consenso, a violação ao processo democrático no país da América Central.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que a posição do governo brasileiro no caso é delicada. Diplomata por formação, Virgílio defendeu a concessão de asilo político para Zelaya no Brasil. Do contrário, segundo o senador, as autoridades brasileiras correm o risco de serem acusadas de promover ingerência na política hondurenha. “Eu não acredito tanto assim nas intenções democráticas”, declarou o tucano.
Sob críticas
Embora a Câmara dos Deputados tenha chegado a aprovar uma moção de repúdio contra o governo golpista de Honduras, pelos ataques feitos na semana passada à embaixada brasileira, onde se encontra Zelaya, vários parlamentares – inclusive da base governista – fazem muitas críticas à maneira como o Brasil está conduzindo a questão. No dia seguinte ao cerco à sede diplomática, a CRE do Senado aprovou moção contra a ação militar.
Até mesmo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), um dos principais aliados do presidente Lula no Congresso, chegou a dizer que discordava da transformação da embaixada em um “comitê político”, no qual Zelaya e seus seguidores planejam a estratégia para voltar ao poder.
O presidente da CRE do Senado, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), quer colocar ainda hoje em votação na comissão proposta para que seja recomendado ao governo brasileiro que sejam retirados da embaixada as dezenas de seguidores que acompanham o presidente deposto, de modo que ali permaneçam apenas Zelaya e sua família.
A Comissão de Relações Exteriores da Câmara também discutiu o assunto, agora pela manhã. Seus integrantes decidiram enviar uma comitiva a Honduras para avaliar de perto a situação.
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