Duas semanas depois da explosão do escândalo Waldomiro Diniz, o vice-líder do PT na Câmara, deputado Carlito Merss (SC), não tem dúvida de que esse caso fortaleceu o PMDB e a oposição.
O deputado credita a denúncia a interesses políticos, aponta o PSDB como origem da gravação e afirma que o caso respinga no ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, hoje no PMDB. Quando a fita em que Waldomiro pede dinheiro ao bicheiro Carlinhos Cachoeira foi gravada, em 2002, o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência era presidente da Loterj, no Rio de Janeiro, subordinado a Garotinho.
Conhecido por seus ataques ao sistema financeiro, Carlito Merss admitiu ao Congresso em Foco que nem o carnaval vai amortecer na opinião pública o caso da propina pedida a um bicheiro por um ex-assessor do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. “Boa parte do PFL e do PSDB domina 60% da mídia brasileira. Se eles quiserem, levam isso até outubro”.
Ele atribui ao PSDB a divulgação da fita de vídeo com a cobrança de propina. Para o deputado, isso seria uma arma tucana para prejudicar o governo petista e a previsão de crescimento do partido nas eleições municipais de outubro.
“O Estado brasileiro está podre. Agora, é óbvio que o PSDB e o PFL estão em cena e estão usando isso”, afirmou.
O deputado defende a regulamentação dos bingos para evitar corrupção e lavagem de dinheiro com a atividade. “Só quem vive disso é contra”, diz. Publicidade
Congresso em Foco – A situação do ministro José Dirceu está piorando cada vez mais?
Carlito Merss – Não. A situação é a seguinte: a oposição, o PSDB e o PFL, está desesperada porque nós iniciamos neste ano um processo de recuperação econômica. A eles não interessa isso. Não interessa do ponto de vista político. Do ponto de vista eleitoral, nós temos condições hoje de ganhar em 22 capitais. Estão apavorados. Como se detonou a Roseana em uma semana? Arapongagem da mais podre. Como é que detonaram o Ciro? Quem era Waldomiro Diniz quando a gravação foi feita? Era presidente da Loterj. Quem era o governador? O Garotinho. Você tem uma ferramenta dessa para usar. Essa fita detonava o Garotinho. Isso não nos tira a responsabilidade de ter num cargo importante uma pessoa que faz um contato desse. Eu vi gravações do bicheiro e da Infraero. Quem mandou isso? A Infraero tem sistema de segurança. Foi bom saber que ela pode dar zoom e ver a sua bolsa. Alguém gravou e entregou na mão do PSDB.
“A oposição, o PSDB e o PFL, está desesperada porque nós iniciamos neste ano um processo de recuperação econômica”
O PT não perdeu a castidade com essas denúncias?
Já em 1989, eu lembro, nós éramos seqüestradores e tudo, com camiseta, do Abílio Diniz. Você lembra? E vai indo. Em 94, a Folha (jornal Folha de S.Paulo), que não nos agüenta até hoje, publicou uma mentira, dizendo que a CUT deu dinheiro. Nós ganhamos na Justiça. No ano passado, ela foi obrigada a publicar uma página com a decisão da Justiça. Cada eleição tem uma questão. Em 2002, teve o Celso Daniel. Toda eleição, nesse período, a gente já está acostumado.
Quando o PT era oposição, era o primeiro partido a pedir criação de CPIs para qualquer denúncia.
Sempre que não se investigava…
Pela primeira vez, desde que Lula assumiu a presidência, há um escândalo de enorme repercussão.
E a Benedita? Ela foi massacrada. O que fizeram com a Benedita foi desumano. Só porque ela é negra e evangélica. A dimensão que a mídia deu é desumana. Com todos os equívocos dela, foi desumano. A Isto É publicou, no dia 2 de julho (de 2003), levantamento sobre esse tal de jogo de bicho. Olha só quem está envolvido: deputado Leonardo Alcântara (PSDB-CE), Tasso Jereissati (senador tucano pelo Ceará). Nessa matéria, cita-se Waldomiro Diniz, assessor do Zé Dirceu. As informações que eu tenho é que, logo após essa matéria, foram tomadas atitudes pelos órgãos que o governo tem. Verificou que estava limpo. Se a investigação foi mal-feita, eu vou cobrar. Ninguém sabia que ele (Waldomiro) era um mentiroso. Com certeza, se qualquer membro do governo tivesse essa informação, ele não teria sido nomeado.
“O que fizeram com a Benedita foi desumano. Só porque ela é negra e evangélica”
O senhor não acha que o governo está perdendo o controle da situação?
Não, mas é uma situação muito difícil. Primeiro, os interesses envolvidos são muito grandes. A Casa Civil, há quatro meses, vem tentando elaborar um projeto de legalização dos bingos. Essa é uma polêmica muito grande no governo e no PT. Hoje, pela informação que eu tenho, esses jogos movimentam, por baixo, cerca de R$ 6 bilhões por ano.
Os bingos servem para lavar dinheiro?
Servem para lavar dinheiro. Você chega no shopping, tem máquinas para jogar. Em qualquer parte, há jogos. Nós vamos fazer de conta que esse troço não existe? Ou se fecha, pondo na cadeia qualquer dono de bar e shopping com jogos, ou se regulamenta. Tem como se usar modelo existente na Espanha e na Argentina. A idéia é se regulamentar isso, recolhendo impostos Quem não quer que regulamente isso? É quem vive disso. A sensação que eu tenho é de que há uma reação. Não interessa aos traficantes, aos bicheiros e aos que lavam dinheiro, aos ladrões em geral, que isso seja regulamentado. Do jeito que está hoje, é uma roubalheira. Não vai dinheiro para os esportes. Isso é algo que está me assustando.
“Quem não quer que regulamente isso (os bingos)? É quem vive disso”
E o pedido de dinheiro do jogo do bicho para financiamento de campanha?
Eu fui relator, em 1999, do projeto de financiamento público de campanha. Eu defendo o financiamento público junto com a fidelidade partidária. É polêmico no primeiro momento? É. Aí, o PFL é contra. O PPS é contra. Um monte de gente é contra. Espero que a gente possa votar isso ainda neste semestre.
Há condições para o ministro José Dirceu permanecer no cargo, mesmo com todo esse tiroteio?
Claramente. Uma pessoa somente pode sair do cargo se for comprovada alguma irregularidade.
O governo já começa a admitir que Waldomiro Diniz possa ter feito tráfico de influência quando estava na Casa Civil.
É claro. Pode ser ocorrido.
Isso não respinga no ministro José Dirceu?
Respinga em todo mundo. Um cara que mente daquele jeito e fez o que fez, pode ter ocorrido. Quantos funcionários comissionados o governo tem hoje? Não tem nem idéia. Eu vou dar só um exemplo para você. Eu falei com o coordenador do Ibama em Santa Catarina. Ele tem 60 funcionários, vinte dois dos quais processados e com inquérito administrativo confirmado por corrupção. Só no Ibama. Imagina o que acontece na Polícia Federal, na Polícia Rodoviária, no Judiciário. O estado brasileiro está podre. Agora, é óbvio que o PSDB e o PFL estão em cena e estão usando isso.
“Um cara que mente daquele jeito e fez o que fez, pode ter feito (tráfico de influência no Planalto)”
Mas o PSDB não está fazendo o que o PT sempre fez quando não era governo?
O embate mais pesado que nós tivemos foi a compra de votos para a reeleição, que ali ficou provado. Foi escancarado. Quisemos saber por que estavam dando dinheiro para os bancos, o processo de privatização dos irmãos Mendonça de Barros. Nós não estamos falando de R$ 150 mil. É só ver o estrago que está até hoje. O que nós fizemos agora? Na sexta-feira, o cara (Waldomiro Diniz) estava fora do governo. A Polícia Federal foi na casa do cara. O Ministério Público está lá.
Em poucos dias, viu-se que o ministro José Dirceu faz falta. É só ver as trapalhadas do PT no Senado.
Ele é o grande operador político do governo. Me chamou a atenção. Eu até conversei com a Ideli Salvati (PT-SC) e com o Aloizio Mercadante (PT-SP). Eu não entro no mérito.
Não parece uma caixa de Pandora esse caso do Waldomiro? Mesmo com o carnaval, é difícil que isso morra.
É claro. Boa parte do PFL e do PSDB domina 60% da mídia brasileira. Se eles quiserem, levam isso até outubro.
“Boa parte do PFL e do PSDB domina 60% da mídia brasileira. Se eles quiserem, levam isso até outubro”
O que o senhor acha da sugestão de que o ministro José Dirceu deveria sair do governo e esperar as investigações?
Se tiver alguma indicação de que houve envolvimento dele… É diferente da situação de Hargreaves (Henrique Hargreaves, ministro da Casa Civil do governo Itamar Franco, que deixou o cargo até que CPI do Congresso o inocentasse de participação no escândalo do orçamento). A denúncia é contra um assessor do José Dirceu. Esse ministro do Supremo (Maurício Correa), quando abre a boca…Ontem, ele acabou com a bolsa. Eu estou impressionado com a postura agressiva, eu diria até de baixaria, de alguns caras do PSDB. O Luiz Carlos Hauly (deputado tucano do Paraná) e o Aleluia (José Carlos Aleluia, líder do PFL na Câmara) estão tripudiando. Na política, não se deve tripudiar sobre ninguém.
Isso não paralisaria o governo?
Não. Aprovamos o PPP (Parceria Público-Privada) e o PPA (Plano Plurianual de Investimentos).
O senhor concorda que o PMDB ficou mais forte após o episódio Diniz?
Claro. O PMDB, o PFL, O PTB… todo mundo.
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