Entre o início de janeiro e ontem (29), quando as eleições se encerraram em todos os municípios brasileiros à exceção de Macapá, o Brasil registrou um ato de violência política a cada 72 horas. Um levantamento produzido pela organização Terra de Direitos indicou 27 assassinatos e 80 atentados contra candidatos de prefeituras ou câmara municipais em todo o país.
O estudo aponta que, desde as eleições de 2018, a violência no ambiente político passou a ser normalizado por movimentos específicos que chegaram ao poder, e que crescentes polarizações entre grupos antagônicos acabaram por acirrar ainda mais os ânimos para as disputas.
“No ano de 2018 se vê perfis políticos muito associados ao discurso da espetacularização da violência [dentro da arena política], e se passa por um ano de 2019 onde muitos embates ocorreram, se valendo de uma linguagem que é a da violência”, explica Elida Lauris, que coordena a organização e o estudo. “Aí se entra no ano de 2020, de eleições municipais, em que já existe esse ‘novo normal’ da violência como linguagem comum na política.”
Os exemplos estariam mais concentrados nos meses de setembro a novembro, onde as campanhas pré-eleitorais e eleitorais estiveram em curso: de acordo com o levantamento, no período de 90 dias até o segundo turno, foram registrados 14 assassinatos e 66 atentados contra a vida de candidatos.
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Alguns exemplos demonstram como o ciclo eleitoral de 2020 foi violento para os postulantes a cargos públicos: no dia 13 deste mês, um candidato a prefeito em Mairinque, interior de São Paulo, teve a casa atingida por uma rajada de tiros, onde ninguém se feriu. No dia 10, um candidato a prefeito em Escada, na zona da mata de Pernambuco, foi atingido por tiros numa estrada. Ficou ferido, mas já teve alta. Adriano Sousa Magalhães, candidato do Solidariedade a prefeito do município de Dom Eliseu, no Pará, foi assassinado com tiros na cabeça em outubro.
PublicidadeAdriano foi o único assassinado durante o período eleitoral que concorria ao cargo de prefeito – todos os outros 13 almejavam o cargo de vereador. Os dados da Terra de Direitos também indicam outros enfoques: todos os casos em 2020 eram de homens e de diferentes partidos. PTB, PP e DEM tiveram dois candidatos mortos cada. Patriota, MDB, PL, PT, PSC, Solidariedade e PTC tiveram um candidato morto.
Os assassinatos ocorreram em todos os estados do Brasil, mas se concentraram no Rio de Janeiro (18 casos), Maranhão, Ceará e Minas (11 casos cada). Os estados do Nordeste registraram 55 casos, e 34 no Sudeste.
A violência, porém, não é uma exclusividade deste ou daquele estado. “Cada região mostra uma realidade”, pondera Elida, “mas a realidade brasileira é que o fenômeno é disseminado, que ocorre em períodos eleitorais e não eleitorais, e que ocorre em cidades no interior.”
Apesar de contribuir para o aumento das estatísticas de violência no país, Elida aponta que a violência política não tem a mesma dinâmica de crimes comuns. “A violência política, e essa incidência de crimes envolvendo política tem uma dinâmica própria”. Esta dinâmica tem a ver com as eleições. E esta dinâmica tem a ver com as relações de poder em um território. Não é só um elemento de segurança pública.”
Os dados completos da pesquisa podem ser vistos no site da Terra de Direitos.
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