A Polícia Federal rastreou depósitos de US$ 3 milhões em contas bancárias na Suíça que, segundo as investigações, fazem parte de um acerto de propina com políticos do MDB – entre eles o senador Renan Calheiros – em troca de contratos na Petrobras, informa O Globo.
De acordo com a PF, a propina passou por duas contas controladas pelo empresário Walter Faria, do Grupo Petrópolis (Itaipava). O relatório final da PF, assinado pelo delegado Thiago Delabary, traz detalhes sobre a engenharia financeira montada para pagar propina ao MDB e atribui ao senador o crime de corrupção passiva. Já o empresário é acusado de lavagem de dinheiro. Ambos negam envolvimento em irregularidades.
O material foi enviado no último dia 12 pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), à Procuradoria Geral da República, que analisa se oferece denúncia. Segundo O Globo, a PF também apontou indícios de envolvimento do deputado Aníbal Gomes (DEM-CE) e seu ex-assessor Luís Carlos Batista Sá, além do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau. Já o senador Jader Barbalho (MDB-PA), também citado por delatores, foi excluído porque os investigadores não encontraram elementos contra ele.
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Navios-sonda
Conforme a Polícia Federal, o MDB recebia “comissão” por contratos fechados pela Diretoria Internacional da Petrobras, sob controle do partido na figura de Nestor Cerveró. Em 2006, relata a reportagem, Cerveró acertou com a Samsung Heavy Industries a compra de dois navios-sonda pela Petrobras, no valor de US$ 1,2 bilhão, em troca de propina. Em sua delação, o ex-diretor contou que acertou o repasse de US$ 6 milhões dessas propinas ao grupo do MDB do Senado.
Dois lobistas admitiram participação no caso – Júlio Camargo, um dos primeiros delatores da Lava Jato, e Jorge Luz, que ainda negocia delação – ao confirmar a versão de Cerveró de que repassaram o dinheiro por meio da conta do empresário Walter Faria.
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Segundo O Globo, a PF recebeu do próprio empresário e dos dois lobistas toda a documentação relacionada às transferências de cerca de US$ 3 milhões às contas na Suíça. Para os investigadores, o dono da cervejaria emprestava as contas para doleiros depositarem recursos em troca de receberem os valores em reais no Brasil. Não há uma prova cabal de que os emedebistas tenham, de fato, recebido o dinheiro, ressalta a reportagem.
De acordo com a reportagem, os investigadores encontraram documentos de controle dos pagamentos aos políticos em um HD na casa de Batista Sá, apontado como o organizador da propina. No HD, havia o comprovante de um dos depósitos na Suíça feito por Jorge Luz e planilhas com siglas, codinomes e valores. No controle da divisão de valores, a PF diz que Renan aparece como RC, com valor de US$ 350 mil.
Falcatrua
O senador alagoano disse ao Globo que “não vê Jorge Luz há mais de 20 anos, não conhece seu filho, não tem conta no exterior, não conhece os donatários das contas e nunca teve negócios com ele e com ninguém”. Ele disse que “investigação nenhuma comprovará sua participação com qualquer tipo de falcatrua, conta no exterior ou com o recebimento de dinheiro através de terceiros”.
Walter Faria classificou a acusação de “insustentável”. “Não houve por parte de Walter Faria qualquer tipo de repasse a políticos ou agentes públicos”, diz a nota. As defesas de Aníbal Gomes e de Batista Sá também refutaram as suspeitas. Silas Rondeau afirma que nunca recebeu propina.