Imagino o susto de alguns ao se depararem com o título desta coluna. Para os apressados, os 34 caracteres acima terão sido suficientes para formarem opinião. “Coisa de idiota”, concluirão alguns. “O cara deve estar atrás de uma boquinha”, ruminarão maliciosamente outros. “Defender o Congresso e a política a essa hora do dia”, estranharão muitos. Tomara que me sobrem alguns menos afoitos para acompanhar a leitura até o final do texto, de modo a compreenderem algo que está na raiz do projeto editorial deste site e também de uma das nossas principais iniciativas, o Prêmio Congresso em Foco, que será entregue hoje pelo quinto ano consecutivo. Ele é parte de uma estratégia que sabemos pretensiosa: fazer jornalismo de forma a contribuir para a mudança. Isto é, de modo a ajudar a desenvolver uma nova cultura política.
Porque tanto o prêmio quanto o trabalho jornalístico do Congresso em Foco estão relacionados com o mesmo objetivo: habilitar as pessoas que se disponham a navegar por nossas páginas a conhecerem melhor o Parlamento e a política brasileira, de modo a exercerem plenamente a sua cidadania – votando, fiscalizando, opinando, propondo, e até puxando as nossas orelhas, já que o jornalismo e os jornalistas não são donos da verdade, não podem estar imunes a críticas.
O fato é que mesmo os brasileiros que se julgam muito bem informados têm uma visão bastante difusa do que se passa no Congresso. Uma visão semelhante à que os passageiros de um avião têm da floresta enquanto a sobrevoam. Veem uma mancha verde, mas são incapazes de distinguir as cobras, as árvores, pássaros inocentes e ferozes animais predadores.
Em nosso trabalho jornalístico, várias vezes, ajudamos a lançar luz sobre os perigos dessa peculiar selva. Exemplos e mais exemplos poderiam ser invocados. As pendências judiciais contra parlamentares, gastos questionáveis, o absenteísmo, as dificuldades para o Legislativo desenvolver uma pauta independente do Executivo, a farra das passagens aéreas… Sem poupar nem perseguir ninguém, mostramos problemas à direita e à esquerda, no atacado e no varejo, no governo e na oposição.
Mas sempre foi preocupação nossa mostrar que, no Congresso e na política, também há animais os mais diversos. Uns tantos, dos mais peçonhentos. Mas também há gente boa, que, por mais defeitos que tenha (qual de nós não tem?), dignifica o mandato que recebeu.
Uma das coisas mais assustadoras é ver o número de brasileiros que, por desinformação, acreditam que os parlamentares “são todos a mesma porcaria”. É o primeiro passo para uma tese conservadora e perigosíssima, ainda que minoritária: a do fechamento do Congresso. Já que é tudo “uma cambada”, por que não fechar e chamar os militares de volta? Ou explodir as duas cúpulas que saíram da prancheta de Niemeyer, como na manjada imagem que circula na rede, acompanhada da frase “Bin Laden errou o alvo”?
Beleza, e aí jogaríamos pela janela décadas de luta pela democracia. Ou os benefícios que a safra democrática nos trouxe, incluindo a liberdade que os órgãos de investigação e a imprensa têm hoje para desmascarar políticos corruptos.
Teses menos grosseiras, mas igualmente ameaçadoras, pretendem desqualificar tudo o que é associado à “democracia representativa”. “A democracia representativa perdeu a razão de ser”, “o Congresso tornou-se inútil”, decretam pensadores e ativistas de esquerda, apregoando desde soluções autoritárias e datadas – inspiradas na velha noção da ditadura do proletariado – até ilusões pós-modernas, como a ideia de uma democracia digital, na qual os cidadãos se tornariam legisladores, pela internet. Os brasileiros sem acesso à web, lógico, ficariam do lado de fora da festa. Em todos esses casos, defende-se explicitamente a supressão do Poder Legislativo democrático.
Com o prêmio, gritamos “não” contra essas ameaças. Tentamos ressaltar a importância extrema do Congresso Nacional para a vida política. Procuramos estimular a população a fazer sua parte: aguçar o olhar em relação ao Parlamento, analisar o desempenho individual dos seus representantes e valorizar os melhores, incentivando os congressistas a afinarem sua conduta às expectativas dos cidadãos. Esforçamo-nos para ressaltar a validade, e a necessidade, da política e do Legislativo numa sociedade que pretende satisfazer às aspirações dos seus integrantes de modo civilizado e democrático. É pela política e com os políticos que se enfrentam as grandes questões coletivas. Os problemas do Congresso, que são muitos e profundos, devem ser resolvidos com soluções democráticas, e não autoritárias ou elitistas.
Você ainda tem alguma dúvida? Então clique aqui e veja quais foram os agraciados com o Prêmio Congresso em Foco nos últimos anos. Dificilmente alguém concordará com todas as escolhas – feitas, aliás, pelos jornalistas que cobrem o Congresso e pelos internautas. Da mesma maneira que ocorre com o Oscar ou qualquer outra premiação, é provável que você não concorde com TODOS os premiados. Mas, tenha certeza: o Congresso e o Brasil seriam outros se o nível médio dos nossos parlamentares – em termos de dedicação, competência, preparo político e intelectual e compromissos éticos – fosse comparável ao dos nomes que lá aparecem.
Foi isso que levou o Prêmio Congresso em Foco a contar, desde a primeira hora, com o apoio daqueles que melhor conhecem o Congresso: jornalistas encarregados da cobertura política em Brasília, entidades da sociedade civil, empresas sensíveis ao desenvolvimento de uma cultura cidadã, ativistas digitais etc.
Rapidamente, eles entenderam que incentivar as pessoas a identificarem os bons parlamentares, que estão em diversos partidos e se alinham a diferentes correntes ideológicas, é uma forma de lhes fazer justiça e também um passo interessante para afastar outro risco. O do ceticismo imobilista e hipócrita que vê o apocalipse a cada esquina, diante dos políticos que nos enojam, mas não dá a necessária atenção aos representantes que realimentam nossa esperança na possibilidade de se fazer política de um jeito que nos torne possível apregoar, como agora: Viva o Brasil, viva o Congresso, viva a política! Viva, sobretudo, a democracia! Com ela, demonstrou a Lei da Ficha Limpa, sempre há chances de avançarmos. Sem ela e sem o Congresso, estamos condenados aos piores pesadelos.
Saiba mais sobre o Prêmio Congresso em Foco