Em 15 de agosto, o Brasil e a China comemoram 50 anos do estabelecimento de suas relações diplomáticas. O país asiático é hoje o principal destino das exportações brasileiras. Há conversas em andamento para que o Brasil integre a chamada Nova Rota da Seda, o projeto transnacional de infraestrutura desenvolvido pela China.
De acordo com o presidente do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina), Thomas Law, a adesão do Brasil à iniciativa pode ser benéfica para o país, mas esse processo precisa ser pensado de modo a evitar problemas futuros.
- O Ibrachina é um dos apoiadores do Prêmio Congresso em Foco 2024 e oferece a categoria “Cidades Inteligentes”.
Leia a íntegra da entrevista:
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Congresso em Foco: Como o senhor avalia o atual momento das relações Brasil-China?
Thomas Law: É um momento muito positivo, de celebração, porque no mês que vem, em agosto, estaremos celebrando 50 anos das relações diplomáticas Brasil-China. No ano passado, o presidente Lula foi à China e foi recebido de uma forma muito especial pelo presidente Xi [Jinping]. Também tivemos diversas autoridades brasileiras que foram pra lá também no ano passado, como o [presidente da Câmara, Arthur] Lira, e ministros do governo.
O presidente Lula disse na semana passada que pretende discutir com a China sobre a inclusão do Brasil na Nova Rota da Seda. Na visão do senhor, o que isso pode trazer para o país?
É um momento de analisar os prós e contras. Eu acho que para o Brasil é interessante porque temos aqueles gargalos de infraestrutura. E quando falamos de “gargalos de infraestrutura” é você perder a eficiência na concorrência dos produtos brasileiros. Então, evidentemente, se a gente conseguir melhorar a nossa infraestrutura, indo pro lado do Pacífico em direção à China, parece que o transporte do container ganha muito tempo. Ao invés de você ficar 40 dias, fica 20 dias. Então, seria um custo-benefício muito grande.
Obviamente, não é tão simples o Belt and Road [Cinturão e Rota, em inglês], porque você tem toda uma infraestrutura por parte do Brasil e da China. Então é necessário realmente estipular as regras do jogo, fazer de uma forma muito peculiar essa parceria do Belt and Road para se evitar qualquer conflito posteriormente, até porque tem casos de sucesso e insucesso do Belt and Road no mundo.
A China é um importante parceiro comercial para o Brasil, mas, nessa mesma área, é hoje a maior adversária dos Estados Unidos. O senhor acredita que as eleições por lá podem afetar essa relação e pressionar o Brasil a escolher um dos lados?
Eu acho que o Brasil está fazendo um bom papel, porque ele tem a sua própria grandeza. Na verdade, o Brasil produz muita soja, os Estados Unidos produzem muita soja e os dois grandes países. Tanto os Estados Unidos, de uma certa forma, e o Brasil, são também parceiros comerciais da China.
Então, eu acho que nós temos que aproveitar a força do agronegócio brasileiro e também a questão da neoindustrialização, convidar empresas chinesas e americanas para investir no Brasil. Mostrar que o Congresso, como um todo, está formulando uma reforma tributária mais benéfica à indústria brasileira e, a partir disso, construir essas relações diplomáticas que estão sendo bem conduzidas por parte do Itamaraty.
Então, do meu ponto de vista e do nosso instituto, eu acho que o Brasil tem totais condições de levar adiante essa pauta da sustentabilidade, porque nós vamos ter a COP30 no Brasil e aproveitar o investimento dos dois grandes países sem afetar uma relação ou a outra.
Uma das medidas que a Câmara aprovou em relação à reforma tributária foi a inclusão dos carros elétricos entre aqueles produtos em que haverá incidência do Imposto Seletivo. O senhor acredita que essa foi uma medida acertada?
Eu acho que o Brasil tem uma coisa diferente de qualquer outro país, peculiar, que é o etanol. Acredito que o etanol pode ser também uma forma alternativa para os veículos no Brasil. Mas, evidentemente, a reforma tributária, de uma certa forma, atrapalha essas grandes empresas de carros elétricos que vão vir para o Brasil.
Como?
A reforma tributária tem que pensar em incentivar também as empresas que vão investir no Brasil. Você pega o exemplo da Suframa [Superintendência da Zona Franca de Manaus]. A Suframa tem o benefício da empresa estrangeira investindo lá, com aquelas taxas que ficaram na reforma tributária. Se você for ver, em nenhuma outra cidade ficaram esses benefícios. Então, eu não sei como é que o Congresso vai definir isso, se vai ter algum benefício para as empresas que vierem investir nessas outras cidades.
O que está sendo pensado pelo Ibrachina para comemorar os 50 anos das relações diplomáticas entre Brasil e China?
Há vários eventos em Brasília, em São Paulo e em Campinas. Teremos a vinda da Ópera de Pequim para o Brasil, eventos culturais do Dragon Boat Festival, eventos de música e dança. Também um evento muito grande no Congresso Nacional, no dia 15 de agosto, com a presença do embaixador.
Em Campinas, haverá torneios de kung-fu, de ping-pong, celebrações com as empresas chinesas na cidade, onde tem um polo cultural também, junto com a prefeitura de Campinas. Em São Paulo, aqui com a comunidade chinesa e na Câmara Municipal, no Teatro Municipal.
Também vamos lançar o “Ibrachina Musical Project”, que são músicas da nossa banda, que é incentivada pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. São brasileiros que cantam músicas chinesas. Então, tem já um álbum de 10 músicas com Spotify, que será lançado agora em agosto. Lançaremos também um livro dos 50 anos das relações diplomáticas, produzido pelo Chinese Bridge Club, que é um órgão oficial chinês que está no Brasil.
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