No segundo turno das eleições de 2018, o presidente Jair Bolsonaro foi eleito com 55,3% dos votos sobre seu adversário, Fernando Haddad, do PT. Em janeiro de 2019, tinha 49% de aprovação, de acordo com pesquisa do Ibope. Na semana passado, o Ipec, instituto formado por analistas que pertenciam ao Ibope, registrou que 53% – quase o inverso do percentual que elegeu Bolsonaro em 2018 – consideram seu governo ruim ou péssimo. É uma clara queda de popularidade que, no entanto, não se reverte no Congresso Nacional.
Levantamento feito pelo Congresso em Foco com base nas informações do Radar do Congresso, ferramenta deste site que permite o acompanhamento aprofundado das atividades e do perfil de cada deputado e senador, revela que, a despeito da queda do conceito do atual governo na sociedade, o grau de governismo da Câmara e do Senado continua alto e permaneceu praticamente inalterado ao longo desses mil dias de governo.
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No primeiro trimestre de 2019, quando o governo apresentou ao Congresso Nacional as primeiras pautas de seu interesse, o grau de adesão da Câmara a esses projetos foi de 78%. No terceiro trimestre de 2021, esse apoio foi de 75%. No Senado, houve um grau de adesão ainda maior, talvez pelo fato de ser a chamada Casa revisora – na maioria das vezes, ratifica ou não acertos feitos pela Câmara. No primeiro trimestre de 2019, a adesão atingia quase a totalidade dos senadores: 98%. Em contrapartida, verificou-se no Senado uma queda mais acentuada nesse governismo. No terceiro trimestre de 2021, a adesão foi de 83%. O índice é medido com base na concordância ou discordância de cada parlamentar com a orientação do governo em cada votação.
Quando se trata do comportamento dos partidos, o levantamento aponta que é mesmo com o Centrão que Bolsonaro conta. O partido mais fiel ao governo na Câmara é o PL (98%), seguido pelo Patriota (95%) e pelo antigo partido do presidente, o PSL (também com 95%). O PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), tem 93% de taxa de governismo. No Senado, o partido mais fiel é o Patriota, representado apenas pelo filho primogênito do presidente, Flávio Bolsonaro (RJ), com uma fidelidade de 96%, seguido pelo PSC (95%), pelo PP, PSL e pelo DEM (todos com 92%). Os partidos menos fieis naturalmente são os de oposição: na Câmara, o Psol (17%) e no Senado a Rede, do líder da Oposição e vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (AP), com 64%.
Se há no Congresso um grau de governismo maior que o verificado na sociedade, há, porém, uma coincidência regional. Na Câmara, o estado que mais votou com Bolsonaro foi Santa Catarina, onde também é forte o apoio a ele na população. Os catarinenses estiveram com as pautas do governo em 87% dos casos. E é menor a adesão nos estados do Nordeste, onde Bolsonaro também aparece com menor apoio. O estado menos governista foi o Ceará, com 62%. No Senado, o estado mais governista foi o Acre (95%) e o com menor adesão às pautas do governo foi o Rio Grande do Norte, com 70%.
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), comemora os dados do levantamento. “Os dados mostram que o governo tem uma base sólida e muito atenta”, comenta ele . “Estamos todos buscando o bem do país e a governabilidade”, continua.
Para o economista e cientista político André Sathler, da equipe do Congresso em Foco Análise, o que parece ter havido, na verdade, foi uma troca nas razões do apoio. O natural entusiasmo que um governo tem em seu início foi trocado pela aproximação com o Centrão e a troca de apoio por cargos e, principalmente, verbas. As verbas do chamado Orçamento Secreto, as emendas RP9, de relator. “Especialmente após a eleição de Arthur Lira, o presidente recorre ao Centrão pela necessidade de tornar mais segura sua posição”, observa Sathler. Para ele, inverteu-se o que chegou em alguns momentos a ser a tendência na relação entre o Executivo e o Legislativo, na qual o Executivo impunha a pauta, o hiperpresidencialismo. “Nunca foram pagas tantas emendas orçamentárias como agora”, avalia. Sathler exemplifica: quando o ex-presidente Michel Temer precisou do Congresso para evitar a aprovação de processo contra ele, foram pagos R$ 3 bilhões em emendas orçamentárias. Esse valor já chegou agora a R$ 16 bilhões.
“Isso é uma excrescência do ponto de vista constitucional e legal”, reage o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ). “O que explica esse grau de adesão é, sem dúvida, o Orçamento secreto”. Uma conta, porém, que o governo talvez não precisasse pagar. Não para aprovar as matérias que foram aprovadas. “No fundo, a pauta que foi aprovada não é exatamente a pauta do governo, mas a pauta do próprio Centrão”, considera Molon. “A pauta de costumes que o governo defende junto ao seu eleitoral, esse, na maioria das vezes, não foi sequer apresentada”.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), é também a coincidência que há entre as pautas econômicas defendidas pelo governo e aquelas desejadas pelo mundo empresarial e financeiro, que encontram conexão no perfil mais conservador atual tanto na Câmara quanto no Senado que explicam boa parte do grau de adesão, além do alto gasto com as emendas do Orçamento secreto. Humberto, porém, acredita que tal governismo tenderá a cair à medida em que se aproximarem as eleições do ano que vem. “Se permanecer baixa como está a adesão da sociedade ao governo, isso certamente mais e mais se refletirá no Congresso até outubro do ano que vem”, aposta ele.
PERCENTUAL DE GOVERNISMO
CÂMARA
Primeiro trimestre de 2019: 78%
Segundo trimestre de 2019: 76%
Terceiro trimestre de 2019: 76%
Quarto trimestre de 2019: 76%
Primeiro trimestre de 2020: 76%
Segundo trimestre de 2020: 75%
Terceiro trimestre de 2020: 75%
Quarto trimestre de 2020: 76%
Primeiro trimestre de 2021: 76%
Segundo trimestre de 2021: 75%
Terceiro trimestre de 2021: 75%
Partido mais governista:
PL: 98%
Partido menos governista:
Psol: 17%
Estado mais governista:
Santa Catarina: 87%
Estado menos governista:
Ceará: 62%
Pesquise o índice de governismo de cada deputado:
SENADO
Primeiro trimestre de 2019: 98%
Segundo trimestre de 2019: 91%
Terceiro trimestre de 2019: 91%
Quarto trimestre de 2019: 88%
Primeiro trimestre de 2020: 90%
Segundo trimestre de 2020: 87%
Terceiro trimestre de 2020: 87%
Quarto trimestre de 2020: 87%
Primeiro trimestre de 2021: 85%
Segundo trimestre de 2021: 84%
Terceiro trimestre de 2021: 83%
Partido mais governista:
Patriota: 96%
Partido menos governista:
Rede: 64%
Estado mais governista:
Acre: 95%
Estado menos governista:
Rio Grande do Norte: 70%
Pesquise o índice de governismo de cada senador:
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