A disputa eleitoral deste ano é uma das mais acirradas e “exóticas” desde a redemocratização, a campanha que já acontece há mais ou menos 12 meses, será “oficializada” nas próximas semanas, o que significa, que os candidatos poderão passar a utilizar artilharia pesada contra os concorrentes.
Com uma disputa tão acirrada, o voto de quem não quer votar ou os votos do “quintal ao lado” se tornaram ainda mais valiosos.
É nesse contexto que temos Lula atendendo aos pedidos de acenos do mercado pela responsabilidade fiscal enquanto o presidente queima rios de dinheiro em uma medida flagrantemente eleitoreira e indo na contramão daquilo que era professado por Paulo Guedes e sua equipe econômica.
O que muda em cada lado é apenas o contexto, Lula tenta encerrar a disputa ainda no primeiro turno. Bolsonaro busca sobreviver para chegar no segundo turno para que consiga manter vivo os seus planos de tumultuar o processo eleitoral.
Se num passado distante os candidatos faziam a fila do beija-mãos com os agentes do mercado financeiro em busca de financiamento de campanha, hoje buscam votos, apoios e governabilidade.
Bolsonaro acredita não precisar fazer isso, independente dos furos que faça no santo-sacro teto de gastos ou da desordem que promova nas contas públicas, basta chacoalhar Paulo Guedes que prontamente fará alguma promessa/previsão para a semana que vem e que não irá se cumprir. Por isso está obstinado em avançar entre os mais humildes, onde o lulismo é mais forte.
Leia também
Entre alguns analistas e torcedores animados com a última pesquisa Quaest, muita gente não fala o óbvio: Bolsonaro mobilizou mundos e fundos apenas para reduzir danos.
Basta lembrar que mesmo com o auxílio brasil em vigor, quase 50% dos beneficiários votam em Lula.
Me causa ainda mais espanto como certas “análises” eufóricas sobre o irrisório crescimento contrastam com que Bolsonaro nos apresentou na sua live desta quinta-feira, alguém aflito e desesperado.
Não condizia com o clima de “entusiasmo” que alguns “analistas” diziam que a campanha bolsonarista estaria.
Exumou mais uma vez o caso Celso Daniel sem apresentar qualquer prova e ainda fez um chamado velado à violência política. Disse:
“Você deve se preparar, não para o novo Capitólio, ninguém quer invadir nada, mas sabemos o que temos que fazer antes das eleições”. Me pergunto: o que eles precisam fazer antes das eleições?
Esse tipo de clamor desesperado não me parece próprio de alguém acredita em um crescimento etéreo. Bolsonaro abe muito bem o buraco em que se enfiou.
Enfim! Se a próxima pesquisa eleitoral repetir os resultados mostrará o presidente está “queimando muito carvão” para conseguir pouca velocidade e isso é ruim (para ele).
E mesmo que a disputa vá para o segundo turno, ainda assim, há, segundo as pesquisas, uma grande possibilidade de uma derrota acachapante.
Para cada medida visando ampliar o eleitorado, há uma declaração ou fato encurtando essa ampliação do presidente.
Se Bolsonaro colocou uma mulher na presidência da Caixa Econômica Federal, ao mesmo tempo há um vídeo dele pegando a mesma mulher pelo braço e mais um vídeo com ele alardeando que Lula fechará clubes de tiro e abrirá bibliotecas (coisas que afastam o eleitorado feminino).
Se por um lado há uma PEC voltada especificamente para a compra de votos, há uma série de “xiliques”, “motociatas” e ameaças ao sistema eleitoral corroendo a sua intenção de votos.
Exagero? Otimismo? Não! Dados!
Basta ver os números mais recentes da pesquisa de opinião pública Instituto Para a Democracia. O que fez as forças armadas perderem a confiança da população entre 2018 e 2022?
E por que esse período coincide com a infiltração militar na sociedade civil e em querelas meramente políticas?
Enquanto o índice de pessoas que “confiam muito” caiu de 33,9% em 2018 para 24,9% em 2022, a quantidade de pessoas que “não confia” cresceu de 18,7% em 2018 para 29,2% em 2022.
Está não é a única pesquisa que mostra que eleitorado em geral não é muito simpático aos agitadores. Em um artigo de maio deste ano, eu fiz uma radiografia do “cansaço” desse eleitorado.
Bolsonaro ainda tem uma longa caminhada para derreter o iceberg de rejeição e seus colossais quase 60% Não dá para falar de nenhum crescimento assombroso para o presidente da República sem passar por esse ponto.
E mesmo com todo esse “crescimento” alardeado pelos bolsonaristas, a rejeição permaneceu inabalável.
A não ser que Jair e Braga Netto, ouçam Arthur Lira e Ciro Nogueira e parem de falar coisas fora do roteiro do centrão, será difícil assistirmos um crescimento retumbante entre as pesquisas.
O tão aclamado sete de setembro está chegando para fazer o centrão arrancar os cabelos.
O que não significa que a campanha petista possa relaxar.
Bolsonaro ainda conta com a relevância do cargo que ocupa, o que lhe rende valorosas horas na televisão, rádios e também muitas aspas sem qualquer contraponto ou devido contexto feitas pelo perverso jornalismo declaratório.
E é por isso que Lula deveria se atentar em buscar participar mais de entrevistas na televisão e caso Bolsonaro vá, deve comparecer aos debates e quem sabe em um ou dois que Bolsonaro não tenha ido.
Além disso, assim como o jornalismo declaratório é uma mãe para Jair Bolsonaro, o mesmo não pode se dizer quando é com o Lula, por isso, cuidado com o ímpeto em querer comentar tudo.
A fala sobre os casos de assédio envolvendo o ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães são um exemplo cristalino de erro alguém que almeja vencer no primeiro turno não pode se dar ao luxo de cometer.
Há quem diga que a fala não foi problemática e que Lula estaria respeitando o devido processo legal, bem, acontece que a fala foi “corrigida” durante um evento na Bahia no final de semana seguinte.
Além disso, o Q-Anon brasileiro já preparou a artilharia requentando Marcos Valério para falar sobre uma inexistente relação entre o PCC e o PT e o caso Celso Daniel.
Se Lula abordar algumas dessas estultices da mesma forma que abordou o caso Pedro Guimarães, as coisas podem se tornar difícil para quem até então está jogando e ganhando parado.
Além disso, Lula ainda precisa balancear a sua comunicação nas redes com outros canais, está obvio que as suas redes deram uma guinada após a reestruturação do núcleo de comunicação e se preparar para desmontar os efeitos de uma vindoura aprovação da PEC DA COMPRA DE VOTOS.
E principalmente, deixar evidente o contraste entre a campanha pela PEC e o desdém do presidente com os problemas da sociedade como fome, desemprego, inflação e encolhimento da renda e poder de compra além do caráter temporário dessa distribuição de dinheiro.
O presidente está tentando criar uma falsa percepção de que (após três anos) está atuando contra os problemas da sociedade.
O que é um problema que pode fazer a comunicação do ex-presidente – conhecida por não ser tão célere – ganhar uma tração para fazer com que o caráter eleitoral da medida fique claro na cabeça do eleitorado.
Hoje nem Lula, nem Bolsonaro perdem votos para outros candidatos que não tenham dois digítos nas pesquisas, então cada voto perdido tem um peso ainda maior, vale por dois!
Logo, ganhará a eleição quem errar menos e dialogar mais. O período eleitoral fará mais diferença para quem já está com dois dígitos nas pesquisas do que quem não conseguiu alcançar isso até agora e está em campanha desde 2018.
Cabe aos dois primeiros colocados analisarem a campanha de Ciro Gomes, nenhum candidato errou tanto e fez tantas escolhas erradas na disputa para o Planalto.
Ao que me parece, Bolsonaro segue pelo mesmo caminho, para o bem do Brasil.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.