É claro, como em toda grande votação, há sempre aqueles que bradam contra a politização de debates… políticos!
Vide o partido NOVO que liberou a bancada para votar como quiser na comissão do voto impresso sob a justificativa de que o calor político contaminou o debate conduzido numa casa legislativa!
A tese foi apoiada por Marcel Van Hattem, do NOVO, que defendeu o voto impresso na tribuna. “O que vemos é uma politização, polarização, narrativas insólitas, contaminando esse debate”.
Mas não ache que a antipolítica – que elegeu Bolsonaro – se esconde só nos discursos mais tresloucados. Ela também se esconde na criminalização da política e na falácia que ainda permeia o imaginário de alguns que acreditam no conto da técnica como substituta da política (podem ser complementares, mas uma não excluí a outra).
O objetivo é o mesmo: esvaziar debates importantes para a sociedade.
Isso foi visto também na votação sobre a privatização dos Correios onde uma deputada afirmou que seu compromisso é errar tecnicamente. Qual foi a técnica usada ou melhor! Quem definiu a tal técnica?
Leia também
A mesma que no passado, quando questionada por seus posicionamentos, contrários ao seu eleitorado afirmou:
“Seria muito mais fácil virar para as redes sociais, falar que sou contra a Previdência e ser adorada por isso. No momento, o governo me odeia e a esquerda também”, disse a deputada eleita pela esquerda. “Se com isso eu me tornar impopular e não ser reeleita, beleza. Com a formação que eu tenho, consigo emprego onde eu quiser (…)”.
Gestos que demonstram um desdém pela política partidária e que já estão arraigados nos discursos dos pretensos tecnicistas da antipolítica.
A frase acima ilustra bem o problema desses movimentos de renovação: eles pregam a antipolítica e com isso acabam afastando ainda mais a população. São todos cheios de “boas intenções” e anos-luz de distância dos eleitores. Não há como isso dar certo.
Não é por menos que a tese defendida por essa gente é de que a “Partidos são uma barreira para renovação da democracia”. Ou seja, o problema da política… É a política!
Convite para reflexão: esse discurso anti-partidos lembra alguém?
Dica: temos um homem inquieto no Palácio do Planalto em busca da reeleição em 2022 e que até o momento não está filiado em nenhum partido.
Menção (des)honrosa
O esvaziamento do partido Novo e o stand de tiro-livre que se tornou a legenda, ilustram perfeitamente a desordem e a desorientação que permeia a legenda que é essencialmente amparada na antipolítica e no tecnicismo que aponteu acima.
Para quem não sabe qual caminho seguir, qualquer caminho basta!
O aparelhamento da imprensa
Na chegada de Ciro Nogueira no governo Bolsonaro, a antipolítica tomou conta dos noticiários com as diversas manchetes onde o centrão estava “aparelhando” o executivo brasileiro.
Embora cargos comissionados e o Alvorada estejam abarrotados de militares, embora os militares estejam também se intrometendo na política partidária, pouco se fala em “aparelhamento”.
Longe de mim moralizar o centrão, mas o que difere um caso do outro? O fato de que os militares estão extrapolando suas funções institucionais, enquanto os políticos estão ocupando cargos… Políticos!
O centrão esteve com todos os governos, é uma invenção do governo Sarney para conseguir apoio no Congresso. Lá ele já era formado por direitistas para barrar propostas mais progressistas.
Sem juízo de valor, sem moralizar, mas é política, boa ou ruim, mas não deixa de ser política.
Outro que sofreu com a criminalização da política foi Guilherme Boulos nas eleições de 2020, que durante sua participação no Roda Viva em plena campanha eleitoral espantou jornalistas com a possibilidade de Boulos lidar com câmara de vereadores sem acordões, mas sem deixar de fazer política.
O problema na cabeça de alguns é fazer política participativa e de qualidade, se fosse só a antipolítica de 2018 estava tudo bem.
Covid
A crise do coronavírus mostrou a importância da política na vida das pessoas, países com políticos antipolítica e por muitas vezes contra a figura do Estado, criam pilhas de cadáveres e não é por conta exclusiva do negacionismo, mas pela dificuldade de enxergarem o papel de estado na formulação de políticas públicas. Veja Trump, Jair Bolsonaro e Boris Johnson – este último só foi contido depois que entrou em choque diretocom o parlamento.
Vejam o SUS, que era alvo de piadas desonestas e agora foi coroada com a tag #DEFENDAOSUS.
Há alguns anos a privatização do SUS era defendida de forma desavergonhada por algumas “personalidades”, agora, há muita vergonha em assumir tal posição.
Alckmin agradece!
O último Datafolha para o governo de SP, deve ter feito o PSDB refletir sobre a saída do Alckmin e a aposta aventureira em Rodrigo Garcia. Kassab percebeu e essa semana, durante uma entrevista para o Uol News, correu para declarar que as portas do PSD ‘estão abertas’ para Alckmin.
O cenário na corrida eleitoral para o governo paulista está confortável para Alckmin, que lidera as pesquisas!
Os paulistas rejeitam a “nova política” mas em sua grande maioria, ainda são antipetistas. Alckmin é a “experiência” e o “antipetismo”, o melhor dos dois mundos para o eleitorado paulista.
A “nova política” de 2018 com Bolsonaro, deixaram o cidadão mais resistente aos aventureiros e desvairados eleitorais da “nova política”.
É uma aposta “segura” para quem não vota no PT. Na visão deles, é melhor que Rodrigo Garcia, apadrinhado por João Doria, que emergiu e ascendeu na política amparado pelo discurso antipolítica.
O futuro
O país não irá aguentar brincar, mais uma vez, de candidaturas incapazes, de “gente de fora” da política. Não foi Bolsonaro que inventou a nova política, os responsáveis diretos por isso são Moro e a operação Lava jato.
Me pergunto se aqueles que defenderam aventureiros como Moro e Huck, realmente se importavam com a saúde de nosso sistema político. Afinal de contas, precisamos parar de dizer que negociar com o Congresso é sinônimo de corrupção, algo que a Lava Jato do Moro amava repetir.
Querem fazer política como? Com porrete e ameaças? Política é mediação, negociação, consensos para o bem comum.
A renovação política, que era tão exaltada pela Lava Jato e seus membros, tratou de mudar o eixo político para quem nunca foi relevante de fato.
Para que o Brasil possa viver tempos melhores, é preciso que seja superado esse discurso lavajateiro “contra tudo isso que está aí”
Onde há esse pensamento há desmoralização, destruição e corrosão da institucionalidade. Não existe político antipolítica. É como um médico que odeia tratar/curar pacientes.
O nosso sistema político precisa se blindar e garantir que não será tomado novamente por figuras da antipolítica (leia-se nova política).
E os remédios para essa doença são de fácil aplicação e rápido efeito! Um deles se chama: quarentena eleitoral para policiais, militares, juízes e membros do MP.
A democracia agradece!
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.