*Hannah Maruci e **Thaisa Torres
No dia 15 de novembro, 5.570 cidades de todo país realizarão eleições simultaneamente. Grupos que atuam na pauta da inclusão de mais mulheres na política, indo na contramão do sistema político dominante agora encontram mais um desafio: selecionar, capacitar e treinar candidatas entre milhares de mulheres que concorrem a um cargo eletivo nestas eleições.
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É o caso da iniciativa A Tenda, grupo formado por mulheres que organizam aulões para candidatas e consultoria individual durante todo o processo eleitoral. E da Iniciativa Brasilianas, que lançou um acompanhamento de candidaturas no âmbito do projeto Mulheres na Política.
Junto com a alegria de ver Brasil afora mulheres dispostas a mudar o cenário atual, onde elas são minorias nas câmaras e prefeituras, há a responsabilidade de selecionar um número limitado de mulheres, dez por projeto. Para as organizadoras, a seleção é um momento de choro, emoção, e tristeza por não poder fazer mais. E ensina muito dos diferentes “Brasis” que existem em nosso país.
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PublicidadeChama a atenção o número de servidoras públicas que decidem “entrar para a política”. É o caso de Thais Podestá, de Muzambinho, Minas Gerais. “Eu entrei na prefeitura em 2017 para dar aulas de teatro. Com o tempo fui percebendo a falta de representatividade feminina na política municipal, a falta de ação dos vereadores que já estão no cargo há muito tempo e o pensamento arcaico da população, resultando em um preconceito gigante. Até agora minha campanha foi baseada na questão da representatividade feminina, mas quero expandir.” Para se eleger, Thais precisa de cerca de 350 votos.
Outras mulheres candidatam-se motivadas por não aceitarem a ausência de mulheres na disputa eleitoral a prefeitura, como Deborah Rubiana de Souza, candidata a prefeita em Ribeirão das Neves (MG). “Sempre atuante nos movimentos políticos fui aclamada pelo grupo para ser candidata a prefeita. No momento sou a única mulher entre nove candidatos, sofrendo todo tipo de preconceito existente.”
O modelo de acompanhamento de candidaturas não é algo novo, embora no Brasil seja recente. A inovação está no foco em mulheres. No Estados Unidos, grupos como o “Brand New Congress” (Um novo Congresso) atuaram de forma similar em candidaturas de mulheres, negros e minorias históricas do país, ajudando nomes como Alexandria Ocasio-Cortez a se elegerem. No Brasil, contudo, esse tipo de ação vem de grupos que atuam sem personalidade jurídica, dado a ilegalidade perante à legislação. E atuar como pessoa física impõe limitações. As organizadoras dos projetos citados anteriormente pagam tudo do próprio bolso e tudo é voluntário. Elas se organizam para suprir as deficiências deixadas pelos partidos políticos e pela própria estrutura patriarcal de nossa sociedade, mas não é possível dar conta de todas.
A demanda é muito alta, o que vai de encontro à ideia de que as mulheres não se elegem porque não têm interesse em política. Pelo contrário, os processos seletivos da Iniciativa Brasilianas e d’a A Tenda tiveram centenas de inscritas que relataram total falta de estrutura por parte dos partidos políticos. Não se trata apenas da ausência de recursos financeiros – que é grave e recorrente – mas da falta de orientação, apoio, formação e das informações necessárias para a realização de uma campanha minimamente viável.
*Hannah Maruci é mestre e doutoranda em Ciência Política na Universidade de São Paulo e co-idealizadora d’a Tenda.
**Thaisa Torres é co-fundadora da Iniciativa Brasilianas e idealizadora do projeto Mulheres na Política.
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